AVISO: o capitulo a seguir contém cenas que podem causar gatilhos como: crise de ansiedade, automutilação e tentativa de suicídio!
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St. Augustine, Flórida
casa de Helena Murphy
Era noite e ventava forte do lado de fora. Parecia tudo calmo, mas dentro de mim algo gritava alto pedindo para ir até lá.
Como dizer não àquilo? Um passo atrás do outro até que enfim cheguei à porta. Coloquei a mão na maçaneta, um pouco receosa, mas a girei e abri a porta. Do outro lado não havia absolutamente nada além de uma densa escuridão que parecia me atrair. Era como estar sendo puxada para um buraco negro supermassivo, mas nesse caso eu estava indo até ele por vontade própria.
Deixei que toda a dor e angústia que eu estava sentindo me levasse ainda mais para dentro daquela imensa escuridão. Senti a água nos meus pés, que iam afundando mais a cada passo que eu dava. Ao fundo conseguia ouvir sons de risadas. Eram minhas. Minhas e do Marcos.
Queria ir até ele, ouvir com mais clareza, sentir ele. Então corri. Corri até a água pesar minhas pernas e eu não conseguir ir mais rápido. Ele estava perto, sabia disso, mas quanto mais eu andava mais sentia meu coração se despedaçar. Era impossível alcançar ele mais uma vez.
Quando finalmente desisti e parei, meu corpo inteiro estava cansado demais para continuar de pé. Meus joelhos fraquejaram e eu caí, me afogando naquela água quente e salgada. Nada mais fazia sentido nisso tudo; meu filho não voltaria para mim e eu não conseguiria viver com essa dor por mais tempo.
Debaixo daquela água toda, consegui sentir meu coração pulsar dentro do peito uma última vez antes de me entregar por inteiro àquele sentimento de perda que inundava minha mente e paralisava tudo.
Fechei meus olhos. Estava pronta para dar um fim a tudo, mas algo - alguém - me puxou para fora da água. Senti aqueles pequenos dedinhos se fecharem ao redor da minha mão e assim que abri os olhos o vi me encarando com aqueles olhinhos que eu tanto amava. Marcos sorria para mim.
- Não se preocupe, mamãe, eu vou estar sempre com você. Mas aqui é frio e escuro, gostava mais quando tinha cheiro de flores e era bem colorido.
- Marcos...
- Você está triste. Não gosto quando você está assim.
Ele estava exatamente igual. O sorriso, o olhar doce, a voz... tudo igual. Queria tocá-lo e senti-lo nos meus braços de novo. Abaixei para ficar mais ou menos na altura dele e o enlacei em um abraço. Ou pelo menos tentei. Era como tentar abraçar o ar, podia senti-lo, mas não tocá-lo.
Era desesperador! Ter meu filho ali comigo, falando e segurando minha mão, mas não ter capacidade de sentir o cheiro dele.
- Ainda não é a hora, mamãe. Você vai poder me abraçar o quanto quiser, mas ainda não está preparada para isso. Agora acorde e vá viver sua vida.
- Mas é tão difícil sem você! Eu não consigo mais. - falei entre soluços.
- Nada é difícil demais. Agora acorde! Você está se afogando, acorde!
Abro os olhos, mas minha visão não foca em nada. Só percebo que estou debaixo dágua quando sinto meus pulmões arderem como em brasa. Levanto rápido, ficando sentada dentro da banheira do meu banheiro que agora está cheio de água para tudo que é lado.
Droga, Helena! Nem isso você consegue fazer direito.
Meu coração bate forte no peito e minha respiração está regulando aos poucos. Aquele sonho, ou seja lá o que tenha sido, só me deixou ainda mais confusa. Que lugar era aquele? Por que Marcos não me deixou ficar com ele?

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Filha Do Mal (Pausado)
ParanormalUma enfermeira do St. Augustine Hospital fica responsável por dar assistência a uma idosa que acabou de fazer uma cirurgia. Ao ver que a mulher não tem acompanhantes, a enfermeira passa a dar mais atenção para a senhora e acabam se tornando muito pr...