– Com calma, ele está na sua mira... – O Velho falou perto do ouvido da ruiva que bufou um tanto irritada, ela sabia usar uma flecha nos treinos, se perdessem qualquer coisa seria unicamente por culpa do seu treinador. – Olha, eu sei atirar, não me pressiona. – Envolveu a traseira da flecha com o indicador e do meio, ajeitou a postura sutilmente e respirou fundo, a flecha foi disparada, cortando o ar e fazendo um chiado suave, a ponta enfincou-se na cabeça do pobre veado, uma morte rápida e talvez indolor.
A Ruiva levantou e foi até o corpo do bicho, ajoelhando-se próximo a ele. Fechou os olhos e fez um breve agradecimento, não para algum Deus, ela não acreditava nisso havia passado por tantas desgraças, acreditar num Deus que nunca a ajudou era demais pra sua sanidade, era mais um agradecimento pela vida daquele animal que manteria a sua e de outros da casa. Eldwin surgiu atrás de si, comemorando. – Boa garota!! Todo treino duro em você serviu de muito, vamos ter carne pra uma semana, uma semana ouviu?! UHUU– O Velho pulava e gritava, tal quanto um moleque de 12 anos, a ruiva abriu os olhos finalizando seu agradecimento e suspirou. – Ei, Eldwin. – Disse com a voz um tanto ríspida, o velho cessou a comemoração, a face se tornou um grande ponto de interrogação com aquele chamado repentino e desanimação na voz da sardenta. – O que foi? – Ela se ergueu e se virou para o velho, retirando o arco de suas costas e a mochila com flechas e entregando em suas mãos. – Não me chame mais para caçadas. – O Senhor abriu a boca, indignado, fechou os lábios e abriu-os novamente, "só" um pouquinho boquiaberto. – Mas você precisa saber caçar, como vai conseguir atingir alvos com destreza? Como vai proteger a Milady? – Ela segurou o cabelo amarrado por um rabo de cavalo, agora frouxo e puxou fios de ambos os lados, apertando-o um pouco mais. – Se você quer que eu cace e proteja a Senhorita Lilith, traga-me homens para meus treinos, os mais hediondos se possível, mas não espere que eu tire a vida de animais inocentes. – Ela disse enquanto se virou para pegar o Veado, ajeitou um pano surrado retirado da pequena bolsa lateral que havia levado e envolveu nos chifres da criatura, puxando o corpo para suas costas, em seguida passou a caminhar na direção de onde ela e Eldwin haviam vindo, daqui a poucas horas a luz do dia iria se despedir dos dois, e não tinha a intenção de passar mais uma noite na floresta. – Mas, Laura..! Laura?! Espera aí!! – O Velho correu na direção da ruiva, os coelhos presos nas cordas se balançando em seu cinto enquanto ele o fazia, ao menos, mesmo com o temperamento da mulher tinham caçado bem naquele dia e trariam fartura para casa.
[...]
Os copos se chocaram e gritos foram ouvidos por parte dos homens da casa. – Viva! Viva a nossos melhores caçadores!! Eldwin e Laura!! – Uma música ambiente soava no fundo, a mistura da flauta doce, o alaúde e a viola de roda preenchiam o cômodo com uma música alegre, a agora Ex Caçadora estava intrigada pelos músicos, todos os três talentosos e trigêmeos, sentia-se indignada, pois sempre quisera tocar uma Viola de roda, entretanto todas as vezes que o fazia falhava inutilmente, aprender sozinha estava longe de seu alcance e sua senhora com certeza não pagaria para isso. Laura estava sentada, recostada sobre a parede num banquinho de madeira pouco confortável, enquanto Eldwin enchia a cabeça dos homens com histórias estupefatas de como ela havia matado o Veado com uma única flechada na cabeça. Ela rolou os olhos enquanto os velhos beberrões riam, e olhou para a cerveja no copo de aço, tomando um gole considerável, aquela noite estava fria e mesmo que tentasse não conseguia sentir-se alegre com seu feito.– Olha devo dizer, você é talentosa. – Uma garota sentou-se ao seu lado, nunca havia a notado antes, pelo contrário infelizmente passava metade de seu tempo com aquele velho, esquecia-se de interagir com outras pessoas nesse meio tempo. – Ora, ele exagera, eu só estou fazendo o mínimo. Eles sim são talentosos – Apontou para os trigêmeos e então levou o olhar esmeralda para a menina, ela tinha uma beleza diferente, os cabelos pareciam-se com nuvens, estes numa cor acastanhada clara, lábios não tão grossos, um nariz fino e um rosto incrivelmente proporcional, mas o seu olhar chamava bastante a atenção, poderia dizer que as orbes eram carameladas, ela era no mínimo um pouco menos bonita que sua senhora. – Bem, já eu, acho que você só está sendo modesta – Laura ajeitou sua postura, tentando parecer um pouco menos despojada. – Desculpa... Eu nunca te vi por aqui... qual o seu nome? – A Menina abriu um sorriso sutil, talvez decepcionada que Laura nunca a havia notado. – Se estivesse menos concentrada na Senhora saberia... – Soltou uma risada soprada – Brincadeiras a parte eu sou Prudence... Prudence Dauphin – Estendeu a mão para Laura, que olhou para a mão da agora conhecida por alguns segundos antes de cumprimentá-la – Laura Atkinson – a garota fez uma expressão um tanto engraçada, diria que era surpresa. – Eu já te conheço, mas nossa devo destacar que suas mãos não são nada delicadas para uma mulher. – Proferiu com uma sinceridade palpável, Laura aproveitou-se do bom clima e abriu um sorriso quase gentil para garota. – Nossa, devo destacar que sua língua também é muito grande para uma. – Prudence se desvencilhou-se de sua mão e passado alguns instantes soltou uma risada um pouco alta demais. – Você me pegou nessa. Desculpe se fui inconveniente, bem, me fala mais um pouco de você Laura, até agora só consigo dizer que você é uma ótima companhia para um velho. – A Sardenta tomou um gole de sua cerveja, observando os músicos trigêmeos iniciarem uma música melancólica dessa vez, diria que tão calma que poderia dormir ali mesmo. – Não sou tão interessante, e acredito que realmente sou uma boa companhia para um "jovem" senhor, mas estou intrigada, nunca havia conhecido outra mulher bonita aqui além de minha senhora, acho que você que deveria me contar mais sobre ti. – Ela tirou o cabelo de nuvens do rosto, e olhou um tanto desconfiada para a Sardenta, mas logo passou a contar de sua vida, não era algo pessoal mas Laura não conseguia prestar o mínimo de atenção, até que. – E sabe o trabalho na lavoura era um tanto difícil, tínhamos que dormir todos apertados num celeiro fedido e.. – Laura olhou para ela surpresa, nunca diria que aquela menina teria feito algo tão ruim durante sua vida, trabalhar por lá era um verdadeiro inferno. – Você trabalhava na Lavoura? – Questionou curiosa levando o copo novamente aos lábios avermelhados. – Sim, eu estou há poucos meses aqui, Lilith recrutou alguns criados para sua casa. – A Ruiva franziu o cenho, na verdade se apercebia agora que Lilith contratava muitos criados, e muitos apenas desapareciam de um dia para o outro, alguns fugiam na calada da noite, e outros apenas se demitiam e iam embora no mesmo instante, não conseguia imaginar o que aquela mulher fazia, para tantos terem medo dela assim e irem embora de sua vida sem pestanejar. – Erasto... Ainda dominava a Lavoura quando estava lá? – A menina negou com vigor. – Ele foi assassinado um mês depois que cheguei, sabe-se lá por quem ou o que, mas o modo como acharam o corpo dele... essa coisa foi cruel. – Laura ficou surpresa, ou não, aquele homem era no mínimo um párea naquelas áreas, uma pessoa ruim, sem o mínimo de escrúpulos, talvez a morte foi merecida. – Como o acharam? – A Curiosidade gritou dentro de si, talvez o pequeno desejo pela vingança dos anos que fôra escravizada na Lavoura. – Bem...
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Lady Lilith
VampirA Pele dela era negra como uma reluzente obsidiana, mas em si residia uma frieza, por vezes pálida, sem cor, em outras viva como se fosse inteiramente pincelada pelos mais caros pincéis já comprados. A Senhora, peculiarmente obtinha olhos por vezes...