LUIZ MIGUEL
— O SENHOR NÃO DEVERIA estar aqui — Bernardo, um dos funcionários que lidam diretamente com o café comenta quando chego na unidade de torrefação.— Se eu estou aqui é porque quero estar aqui — respondo de um jeito enérgico, embora minha intenção não seja exatamente lhe dar um fora.
Desde que pus meus pés na fazenda observo os trabalhadores e a forma como se entregam ao que fazem e, de todos eles, Bernardo é, de longe, o que mais ganhou o meu respeito, no entanto, não posso negar que seu modo de fazer muitas perguntas sempre e comentários inconvenientes — muitas vezes sem ser chamado — me deixam bastante irritado.
— É verdade que o senhor está morando no casarão? — pergunta.
— Sim. Por quê?
— Sortudo, hein. Imagino que a essa altura já conheça a enteada dele.
Eu o encaro, não entendendo aonde quer chegar com essa conversa.
— Não é nada — encolhe-se, provavelmente percebendo meu semblante sério — É que ela é maravilhosa. Só isso.
Não respondo. Bernardo acrescenta:
— É educada, sensual... bonita.
Imagino mesmo que a garota seja tudo isso e mais um pouco, todavia não quero ter essa conversa. Não agora e não com ele. Levo à sério minhas horas de trabalho. Além do mais, as minhas avaliações de alguma mulher guardo para mim mesmo.
— Não é verdade? — insiste.
— Não a conheço direito — respondo, mantendo a seriedade — Não estou aqui para pensar na enteada de Albino. Estou aqui para trabalhar.
— O senhor tem razão — Bernardo parece engolir em seco.
Contudo prossegue em seguida:
— É que ela é realmente linda. Como eu queria que fosse minha namorada. Pena que é enteada do chefe. E que é muito nova pra mim. Ela só tem dezessete...
Sua última frase me chama atenção.
Olho para Bernardo e tenho a percepção de que não está mentindo. Pela primeira vez o assunto toma o meu interesse. A idade da garota me surpreende. Ela parece jovem, claro, mas eu imaginava que tivesse uns dezenove ou vinte.
— Ah, qual é. Ela não tem só dezessete — retruco.
— Tem sim. É verdade — reafirma — Ano passado o chefe fez uma festa de aniversário para ela. A menina vai completar dezoito só no final deste ano.
Bernardo faz uma pausa antes de usar um tom sonhador:
— Ah, se ela me desse bola. Eu me casaria na hora com ela.
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RomancePODERÁ FALAR MAIS ALTO QUE O AMOR? Cleo é uma garota que vive numa pacata cidade. Sua relação com a mãe e o padrasto não é uma das melhores e há muitos segredos sombrios encobertos no casarão onde os três moram. Mesmo sendo jovem demais, é sensual e...