Capítulo VIII - Consequências

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      Deslizei pela janela do meu quarto, aterrissando suavemente em uma pose heroica. A excitação borbulhava dentro de mim enquanto eu me destransformava, ainda sentindo a adrenalina da batalha pulsar através de minhas veias. “Tikki, você não vai acreditar no que acabamos de fazer!” comecei, ansioso para compartilhar cada detalhe da nossa aventura.

     “Adrien,” interrompeu Tikki com um sorriso cansado e uma voz suave, mas firme, “antes de qualquer coisa, eu realmente preciso comer algo para recuperar minhas energias.”

– Ah, claro! - Rapidamente, peguei meu celular e pedi a Nathalie que trouxesse um prato cheio de pães e doces para Tikki. Enquanto esperava, liguei a televisão, ansioso para ver a cidade celebrando nossas ações heróicas. Mas o que vi foram notícias que me deixaram perplexo.

     Os canais mostravam apenas destruição. As ruas de Paris estavam um caos, e os jornalistas questionavam se nós, heróis, éramos realmente uma bênção ou apenas uma nova ameaça. Meu coração afundou, senti minhas mãos trêmulas e um  aperto no estômago. “Por que estão todos tão hostis em relação aos heróis?” perguntei em voz alta, mais para mim mesmo do que para Nathalie, que acabara de entrar com a bandeja de guloseimas para Tikki.

— Eles estão preocupados, Adrien. E, honestamente, eu entendo. A prefeitura vai ter que pagar pela destruição, e ninguém viu os heróis ajudando a limpar ou explicar o que aconteceu –  explicou Nathalie, com um tom de preocupação – Você está bem, Adrien? Tudo bem estar com medo dessa situação toda, mas ninguém se feriu. Você vai ficar bem. Estou aqui se quiser conversar, tá bom?

— Obrigado, Nathalie. Acho que só preciso comer alguma coisa mesmo haha – tentei disfarçar o mal estar que estava sentindo. Eu amo a Nathalie, mas ela não entenderia. Ninguém entenderia…

– E, Adrien, certifique-se de descansar e talvez fazer algo que goste, algo que tire toda essa pressão. Um passo de cada vez, está bem?

– Pode deixar…

     Assim que ela saiu, fechando a porta atrás de si, minhas mãos estavam suando, meu coração acelerado e o ar parecia fugir de meus pulmões. Tikki me olhou com seriedade e questionou:

– Adrien, você se lembrou de usar o ‘Miraculous Mr. Bug’ para consertar tudo?

     Congelei. Me senti fraco, meu rosto queimando. Dominado pelo assombro de um simples esquecer…

– Eu… eu lembro de ter visto algo sobre isso no ioiô, mas esqueci completamente de fazer na hora. Mas está tudo bem – estava assustado, mas tentei encontrar uma solução – Eu posso voltar lá, pegar o resto da lata de spray e consertar tudo! Vai ficar tudo bem, Tikki! Tem que ficar! - afirmei enquanto ficava cada vez mais ofegante

– O talismã só pode consertar o dano causado pelo seu respectivo vilão, Adrien – explicou, com tristeza e pesar na voz. Ela abaixou a cabeça, olhando para o chão como se estivesse de luto pelo meu fracasso

     A magnitude do meu erro me atingiu com força. A cidade estava sofrendo por causa de minha negligência – Eu preciso consertar isso, Tikki. Tem que haver algo que eu possa fazer – eu estava praticamente clamando por uma resposta dela. Naquela situação eu faria qualquer coisa para consertar tudo.

     Mas, dentro de mim, uma voz me sussurrava uma dura verdade: “não há como reparar o erro desta vez". O peso real de ser Mr. Bug começava a se revelar, e eu sentia que esta seria uma jornada que testaria verdadeiramente o herói que eu almejava ser.

     Meu quarto é grande, espaçoso e cheio de opções para entretenimento. Filmes, jogos de tabuleiro, videogames, pebolim e até uma cesta de basquete. Mas não tinha uma coisa… Pessoas. Não conseguiria ficar aqui, sozinho com meus pensamentos. Precisava me distrair. Foi aí que pensei em ir para a escola de novo. Com a ajuda de tikki, saí pela janela, sem que ninguém me visse.

     Corri pelas ruas movimentadas de Paris, olhei ao redor buscando algum alívio. Todos me encaravam com admiração e entusiasmo, o que só me fazia pensar: “o que diriam se soubessem que fui eu que estraguei tudo…?”

     Para onde quer que eu olhasse, lá estava um outdoor, com o meu rosto estampado e um frasco de perfume, que dizia “Radiante. Livre. Sonhador. Adrien, o perfume”.

     “O tormento do meu fracasso me assombra, eu garanto que não estou radiante; tive que fugir, longe da vista de todos em casa, para poder ir para a escola como um garoto normal, não sou tão livre assim; e… sonhador…”

      Tentava fugir dos meus pensamentos, manter o ritmo frenético na minha mente sob controle. "Você não serve para ser herói. É só um menino que nunca sai de casa! Você nunca vai conseguir. Não pode fugir do seu fracasso." As palavras martelavam na minha cabeça, julgamentos implacáveis e cruéis.

– Adrien, respire. Não vai conseguir pensar direito se não se acalmar. - percebendo minha agitação, Tikki saiu da minha bolsa para tentar me tranquilizar - Nenhum portador é perfeito em sua primeira missão, os erros são inevitáveis!

– Mas a Lady Noire não cometeu nenhum erro - repliquei, com um nó na garganta e minha voz embargada

– Ela estava assustada, paralisada de medo no começo - Tikki lembrou-me gentilmente - Mas foi graças a você que ela encontrou coragem dentro de si mesma, você foi um herói para ela!

     Suas palavras me trouxeram um pequeno conforto, como se abraçassem meu coração. "Obrigado, Tikki" murmurei. Olhei para cima, respirei fundo esperando que o aperto passasse. Pedi para que ela se escondesse em minha bolsa, pois antes que eu percebesse, já estava diante da escadaria que dava acesso à escola.

     Segurando firmemente a alça da minha bolsa, subi as escadas apressadamente, pulando alguns degraus. Foi então que ouvi uma voz familiar, carregada de preocupação:

– Por favor, não faça isso! Seu pai vai ficar furioso! - era Nathalie

Me virei e olhei para ela com os olhos cheios:
– Diz pra ele que chegou aqui muito tarde, por favor! - ignorando seus apelos e correndo para entrar.

      Assim que atravessei os portões da escola, a figura animada de Chloe me saudou. "Adrien!" ela gritou, sua voz elevada e cheia de excitação.

     O chamado de Chloe capturou a atenção de todos ao redor, e, num instante, uma multidão de alunos se aglomerou ao nosso redor, olhares curiosos e sussurros preenchendo o ar.

     Com Chloe agarrada ao meu braço como se fosse sua propriedade, caminhei pelo corredor que levava à sala de aula, distribuindo autógrafos para aqueles que os estendiam. Cada sorriso, cada olhar de admiração dos meus colegas, era um alívio temporário para a tempestade dentro de mim, mas a realidade de minhas ações como Mr. Bug ainda pesava sobre meu coração.

Miraculous: Mister BugOnde histórias criam vida. Descubra agora