Estacionei minha moto na garagem da casa de Sarah. Desliguei o motor e me inclinei para frente, sentindo o peso das emoções reprimidas desde meu retorno à cidade. Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto enquanto soluços escapavam do meu peito.
— Ogras choram? – a voz de Norman ecoou da porta de entrada. Enxuguei o rosto com as costas das mãos, sentindo a dor latente em minha bochecha.
— Pode debochar à vontade. – Saí da moto e caminhei até Norman. — Você viu a Sarah?
— Vi, mas não sei para onde foi. – Norman cruzou os braços, um sorriso cínico estava estampado em seus lábios. — Eu te acompanharia numa bebida, mas você gosta de me odiar. Então, beba sozinha. – disse ele, antes de se virar para sair.
— Você é a última pessoa com quem eu beberia. – respondi, sem esconder o desprezo. — Mas é quem está disponível.
— Adoro os seus gracejos.
Seguimos até a bancada do bar na sala de estar. Norman serviu dois copos de whisky e me ofereceu um.
— Sobre a Layla...
— Se desculpe com ela, não comigo. – respondi, pegando o copo. Fui até o sofá e me sentei, tomando um gole generoso.
— Na verdade, eu ia pedir pra você ficar com a calcinha que ela esqueceu no meu quarto. Já virei a página. – Norman se aproximou com seu próprio copo e a garrafa de whisky.
— Faça bom proveito da calcinha. – tentei acalmar a minha mente turbulenta. Os pensamentos giravam como um redemoinho, e o calor do whisky parecia se espalhar pelo meu corpo, contrastando com a frieza das palavras de Norman.
— Está triste? – Norman sentou ao meu lado, colocando a garrafa sobre a mesa de centro. – Vamos lá, sou a psicóloga da noite.
— Você, psicóloga? Nem pensar. – resmunguei.
— Certo, eu começo. – Norman tomou um gole do whisky. — Acho que nunca gostei de alguém como gostei da Sarah. Agora é com você.
Respirei fundo.
— Eu não odeio você. Só acho você extremamente irritante.
— É mesmo? – Norman sorriu. — Eu também te acho irritante. Principalmente por roubar a mulher que eu queria. Você tinha todas as mulheres sem graça de Santa Mônica, por que escolheu a Sarah?
— Eu não escolhi a Sarah, ela me escolheu. – respondi.
— Você escolheria ela, agora? – Norman tomou outro gole.
— Sem dúvidas, sim. – respondi.
— Podíamos duelar por ela. – Norman riu, mas seus olhos não acompanharam a risada. — Você acha mesmo que eu faria isso pela Sarah? Ela é gostosa, mas não vale tanto assim.
— É melhor parar de falar da Sarah desse jeito. – tomei o resto do meu whisky e coloquei o copo na mesa de centro. — Vou deitar.
— Já? Está cedo. – Norman me serviu mais bebida. — Diria que ama a Sarah?
— Sim, eu amo a Sarah. – respondi.
— Eu sentia que ela não me amava, mas não era importante. Ela era boa na cama. A propósito, melhor do que Layla. Imagino que tenha notado.
— Bem, Norman, meu parceiro quis me matar hoje. E acabei de deixar a polícia. Estou sem paciência pra falar de bobagens. – levantei-me do sofá.
— Sabe, Ema. – Norman se levantou também, agitando o líquido em seu copo. — Meu pai tem armas, um cofre cheio delas. E eu estou com vontade de dar uns tiros.
— O que eu tenho a ver com isso? Você não é problema meu, agora. – respondi, minha voz estava firme apesar do caos interno.
— Não entendeu? Você odeia o Júlio. Por que não enfrenta seu problema? Estoura os miolos dele.
— Faça você. Eu não tenho planos de ir para a cadeia.
— Eu poderia fazer, mas sou amadora. Talvez se eu tivesse ajuda de uma ex-policial. – Norman me olhou com intensidade enquanto bebia.
— Não.
— Pense bem, Ema. Sarah herdaria o dinheiro do pai e, por uns bons milhões, eu iria para bem longe.
— Não. – respondi. — Não sou uma assassina.
— Está com medo de quê?
— De nada. Eu ainda tenho integridade. E por mais que ache o Júlio um monte de esterco, ele ainda é o pai da Sarah.
— Até a própria Sarah está cansada do pai. – Norman insistiu.
— Eu não sou uma assassina. – falei com ímpeto.
— Certo, Ema. Continue sendo medrosa e será você quem vai morrer pelas mãos do Júlio. – Norman voltou a se sentar. — Eu vou me mudar ao amanhecer. Voltarei para Santa Mônica. O tour da minha família por essa cidade acabou. Com sorte, minha estimada esposa me acompanha.
— Não conte com isso. – resmunguei.
CONTINUA...
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DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)
RomanceEma, uma policial de uma pacata cidade, tem sua vida transformada ao se deparar com Sarah. A presença enigmática de Sarah não apenas surpreende Ema, mas a conduz a um universo inexplorado, onde as algemas não servem para prender criminosos, mas dese...