Comentários sobre A Velha dos Cabelos - IV

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Passados seis anos que escrevi o conto "A Velha dos Cabelos" e pensando sobre a tragédia que houve estes dias no Rio Grande do Sul, tendo a história como iniciação a cultura e o acontecimento do sul brasileiro, não posso deixar de observar as forças artificiais que atuando no mundo, atuaram ainda mais cedo e mais incisivamente no Rio Grande do Sul que no resto do país, por imposição de seus próprios cidadãos abastados que alcançaram esta abastança já as sinalizando nas épocas dos Farrapos — 1835 a 1845, com a produção de commodities, agricultura e pecuária —, e enviaram seus rebentos e alguma atenção à Europa para se educarem. E os vermes e vírus da Europa já eram como nunca os velhos poderiam imaginar. E tanto que seria possível algum costume italiano ou alemão desaparecer por completo na Europa e restar conservado nas colônias brasileiras.

Não haveria outro caminho para o interesse em intelectualização associado ao comichão vetor da criação identitária e patriótica. Talvez em algum momento, um espelho inconfesso revelava àqueles jovens que tendo sido vedado o caminho da criação do seu próprio país na Revolução dos Farrapos capitulada pelo Bento Gonçalves da Silva, e reconhecendo seus reflexos de inteligência competente e o brilho da raça e sangue, então lhes estava destinado o lugar de cérebro desse povo miscigenado, bagunçado e sem futuro, ao qual ficaram historicamente presos.

Talvez isto seja o mais explicitamente revelado na teoria do Adelmo Genro Filho quando propõe humildemente a pirâmide invertida em seu livro "O Segredo da Pirâmide", que segundo alguns, é a fundação do curso de jornalismo brasileiro. Com o sul se fechando no menor ângulo, o Rio Grande do Sul se projeta como o topo de uma pirâmide num insight pictórico, o topo camarilhesco e o condutor de seus irmãos, e que aparece invertida no mapa, isto é, a "grandeza submetida, porém insubmissa" referida por Nilson Laje no livro "Ideologia e Técnica da Notícia". Todos estes justificam como Getúlio Vargas cumpriu a missão lançando as bases e é portanto de fato o fundador desse Brasil que segue.

 Os sulistas do meu conto, que são parathesis dos meus avós, foram os que tomaram nas costas suas máquinas e caminharam para o norte, para o trabalho e magia. E o trabalho dos que ficaram também foi árduo e mágico como se pode notar bem na alegoria: Porto Alegre contava com um sistema de proteção formados por muros de contenção e diques, construídos possivelmente no Regime Militar, 1964 a 1985, já que foram terminados em 1974 e concebidos por causa da enchente acontecida em 1941. Porém agora em maio de 2024 esse sistema falhou. O grande cérebro intelectual não pensou em dar manutenção a um sistema construído. Quais foram então as grandes preocupações ao longo dos seus rizomas sinápticos estudiosos e filósofos?

A grande preocupação da menina presa na maldição que se passa no conto era inicialmente desvendar o mistério do mundo, no caso, o segredo e a história daquele lugar. Uma vez desvendado e fatalmente enlaçada na resposta, a preocupação da menina passa a ser a salvação da sua vida. Ou se resignar com o mundo? Escrevi uma conclusão que parece ser a resignação no amor humano, porém, aqui levanto que o amor humano é a base racional do AVODAH — uso a palavra "avodah" em lugar da palavra "trabalho". A língua latina direta da cultura de assassinos saqueadores, onde o trabalho era feito por escravizados, concebe a palavra "trabalho" com a raiz etimológica talvez em "tripalium", um objeto associado à tortura. A palavra "avodah" é a ideia de servir ao deus. Sendo o deus o receptor dogmático da religião e o humano o receptor de direito e fato que o representa no amor.

Logo, se há amor, há trabalho, e haverá construção e a busca por solução — e também a manutenção dessa solução, que é a vigilância, e tudo isto é amor. A menina do conto, terminando por recorrer à solução que demonstro aqui, traça a saga de uma pessoa neste mundo: o mistério, o entendimento, e o viver do amor.

#avelhadoscabelos
este texto é parte do blog "gralhando no deserto":
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