A Chegada

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"Atenção, senhores passageiros, dentro de instantes estaremos pousando no Aeroporto Internacional de Incheon. Mantenham os encostos na vertical e suas mesas fechadas e travadas. Por favor, observem os avisos luminosos de apertar os cintos."

A voz do comissário de voo soava no interfone, informando que a chegada estava próxima. Virando o rosto em direção à janela, Jungkook visualizou a cidade abaixo. Seguindo as instruções, preparou-se para a aterrissagem. Contudo, ao contrário de outras viagens, não sentia a habitual empolgação pelo pouso iminente.

Ele já estava ali e não havia como voltar atrás. Não era do tipo que gostava de voltar atrás com a palavra dada. Sempre fora assim. Havia prometido à mãe que, durante suas férias forçadas fora da Itália, passaria alguns dias com o pai.

Tecnicamente, ele imaginou que "alguns dias" significavam no máximo uma semana, mas foi surpreendido pela sugestão de passar dois meses. Tentou negociar um período menor, mas Francesco o convenceu de que dois meses na Coreia seriam benéficos. Daria tempo para a poeira baixar e então, ele poderia voltar para a Itália.

O avião taxiou e logo estacionou no portão de desembarque indicado. Quando os motores foram desligados, todos começaram a se levantar e a pegar as bagagens dos compartimentos suspensos, encaminhando-se para a saída. Sem muita vontade, o moreno soltou o cinto e levantou-se da poltrona, pegou sua mochila e dirigiu-se para a saída.

Depois de passar pela migração e receber o visto de entrada, colocou a máscara - algo que há muito tempo não usava - e seguiu para a saída, após pegar sua bagagem. Ao passar pelas portas automáticas, seus olhos buscaram o táxi de luxo que havia solicitado, pois, ao contrário do que dissera ao noivo da irmã, não havia alugado carro algum.

Jungkook planejava ficar apenas alguns dias na casa do pai, até que o apartamento recém-comprado estivesse mobiliado. Queria comprar seu próprio carro, sem pedir permissão ao pai, pois sabia que ele só o permitiria se ficasse em sua casa. Conhecendo bem o pai, sabia que ele poderia usar essa condição para mantê-lo por mais tempo em sua casa.

E isso era algo que Jungkook não desejava fazer. A ideia de compartilhar o espaço com o noivo da irmã, que praticamente havia se mudado para a casa do pai, o enchia de desconforto. Ele imaginava as conversas forçadas à mesa de jantar, os olhares silenciosos que falavam mais do que palavras e a constante sensação de ser um intruso no meio deles.

A casa do pai, este que há muito não via, agora deveria ter se transformado em um palco de interações que ele preferia evitar. Por isso, a ideia de permanecer na casa do pai até o apartamento estar pronto parecia sufocante.

Observando o movimento ao seu redor, ele tentava se concentrar na nova jornada que era estar de volta em solo coreano. A multidão no aeroporto era uma mistura de turistas curiosos e locais apressados, todos imersos em suas próprias preocupações. 

Jungkook sentia a familiaridade do idioma ao seu redor, mas a sensação era agridoce. A liberdade que experimentou nos últimos anos havia se tornado uma parte integral de sua identidade, e o retorno à Coreia trazia consigo o peso de expectativas sociais e familiares.

Ele lembrava das vezes em que tinha que se esconder, manter suas preferências em segredo, e o medo constante de ser julgado por ser quem era. A vida fora da Coreia lhe oferecera a chance de viver sem essas correntes, de expressar-se plenamente sem receio de represálias. Agora, esse retorno significava enfrentar novamente as barreiras que pensava ter deixado para trás.

Enquanto aguardava o táxi de luxo, um fluxo de pensamentos turbulentos passava por sua mente. Jungkook sabia que a convivência com o noivo da irmã era apenas uma parte do problema. 

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