Clara acordou há alguns minutos, entretanto permanece deitada solitariamente em seu quarto ouvindo Vítor Kley através dos fones de ouvido do celular quando seu olhar involuntariamente nota uma modificação instantânea na coloração do carpete. É como se uma entidade obscura tomasse conta daquela parte do universo reservada à sua solidão juvenil. Num sobressalto, se levanta imediatamente e nota que o cômodo tá sendo invadido pela água. Algo absolutamente inesperado,  pois vive no andar superior de um sobrado junto com sua família composta, no momento apenas por ela e sua mãe. Apesar de estarem nas proximidades do Lago Guaíba no Rio Grande do Sul, estado frio e úmido do Brasil, nunca as cheias recorrentes haviam atingido um nível tão elevado. Nunca até aquele dia fatídico.
Ao abrir a porta Clara nota, pra sua surpresa e desespero, que a água já havia tomado conta da parte inferior da residência. Apavorada, a garota teme por sua vida e principalmente pela de sua mãe que, até onde sabe, tava na parte de baixo. Ou será que, como ocorria frequentemente, havia ido ao mercado deixando um bilhete pra filha dorminhoca?

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