"Sara, mãe, querida!" Após alguns gritos sem resposta e um instante de imobilidade provocada pelo pânico procura se concentrar e chamar a si a razão regressando ao quarto rapidamente. Ali percebe que a água tá subindo com uma velocidade incrível e, naquele momento, já se encontra na altura de suas canelas. Tropeça num peso de porta que afeta seu equilíbrio e quase provoca uma queda. Um par de sandálias, seu skate e demais objetos esquecidos debaixo da cama começam a boiar. Um espaço até então familiar aos poucos se transforma num pequeno labirinto com sutis armadilhas espalhadas aqui e ali e ela prevê a dimensão dos desafios que a aguardam fora do quarto. Suas pantufas exigem um esforço intenso pois estão extremamente molhadas e pesadas. "Ainda tô de pijama" reflete,  procurando atabalhoada roupas mais apropriadas pra, de alguma forma, sair daquele local que, provavelmente, num breve espaço de tempo pode ser tomado por um dilúvio sem precedentes. Mas o tempo urge, a água agora atinge seus joelhos e ela é obrigada a abandonar o projeto de se trocar e até mesmo de salvar alguns documentos e objetos valiosos ou fundamentais à  sua sobrevivência. Desgraçadamente, àquela altura, nem mesmo sua sobrevivência tá garantida.

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