III

4 7 1
                                    


Ao abrir a janela, Clara se depara com um cenário desolador. Parece que a Terra, da noite pro dia, havia se transformado num imenso oceano. Busca no horizonte da rua, que agora não passa de um rio sujo e inóspito, algum vestígio de salvação ou ao menos de vida humana. Infelizmente seus olhos ansiosos não encontram nada equivalente. As residências mais baixas desapareceram completamente como num passe de mágica. As mais altas, assim como a sua, parecem casas fantasmas,  desertas, absolutamente desprovidas da vivacidade corriqueira. Se abstém de  beliscar seus braços, como fazem os desiludidos pelos sonhos, pois o vento persistente provoca  um calafrio que a faz ter certeza absoluta de que, infelizmente, não tá vivendo um simples pesadelo horrível. Aquela garota, tão forte e decidida nos momentos mais difíceis e dramáticos, jamais havia vivenciado uma experiência tão desconfortável, nunca antes havia se sentido tão sozinha, abandonada e esquecida.

DILÚVIOOnde histórias criam vida. Descubra agora