Pragas

Aracnodependéncia

Mais um dia depressivo para Cergio. O mesmo permanecia deitado na cama de barriga para cima.

Cergio: Aí, ninguém me ama. Minha vida é uma merda. Eu com certeza vou morrer com 15 tiros na cabeça.

Gudi: Tá, tá. Já chega de se fazer de cosplay de Franz Kafka. Aí, tenho ótimas notícias! 

Cergio: Nossa. Vocês tem que parar com esse negócio de invadir meu quarto, hein? Cadê a segurança desse formigueiro?

Gudi: Comprei três ingressos pro show da Lady Traça! Vai ser aqui no quintal, mesmo... Por favor, diz que vai! Eu gastei 40 folhas secas nesse bagulho...

Cergio: Tu comprou um ingresso pra mim?

Gudi: Óbvio! Você é meu amigo, não é?

Cergio: ... É.

A verdade era que Cergio não era acostumado a ser convidado para nada. Todo e qualquer evento da comunidade "formiguistica" rejeitava sua presença... Deve ser por ele ser muito exagerado? Agressivo? Impulsivo? Talvez até meio psicótico? Todos esses motivos são validos. Pedro e Gudi foram os únicos amigos que ele conseguiu manter por um longo período, e ele não ia perder essa oportunidade de ficar mais próximos á eles... Falando a verdade, ele não ia perder a oportunidade de ficar doidão em uma festa. 

O evento estava acontecendo logo atrás de um matinho seco, e tinha direito a toda tecnologia que o mundo invertebrado poderia proporcionar, isto é, pisca-piscas usados, uma caixinha JBL, embalagens de fosforo, lanternas quebradas e óbvio, restos de baseados. Tinha todo tipo de transmissores de doenças ali: Gambás, caracóis, besouros, gatos moribundos, barbeiros, o Cergio... Me impressiona como não saíu um Covid 2 daquele lugar. 

Pedro: CARALHOOOOOOOOOOOO LADY TRAÇAAAAAAAAAAAAA

Cergio: Por que gay tem que ser assim?

Pedro: Se anima um pouco! Poxa, é uma festa!

Cergio: Que seja. Vou pegar uns grãosinhos de açucar.

Gudi: Aquilo é cocaína.

Cergio: Melhor ainda.

Formigas não tem narinas para cheirar drogas, então, ele simplesmente rola por cima daquilo... Enquanto um se droga, outro viajando na maionese, Pedro acaba esbarrando em uma aranha armadeira. Ele rapidamente se desculpa, enquanto a outra aranha parecia um pouco... Sedutora? Seu nome era Fábil, e não deu outra, se apaixonaram. A pesar de estar com a visão meio turva e colorida até de mais, Cergio conseguiu perceber a estranha aproximação dos dois mais a frente. 

Cergio: Ei... Que putaria doida é aquela ali? Ou! Peter Parker! Aqui, ei! Fiiiu!

Ele tenta chamar a atenção de Pedro, porém o  barulho do local era alto, e sua voz já falhava um pouco. Ele tenta andar até eles, mas cambaleia e cai no chão, desmaiando ali mesmo. No dia seguinte, Cergio é acordado por outra formiga operaria, que o cutucava.

: Cara, você tá com cheiro horrível. 

Cergio retribui com uma mordida agressiva no ar, afastando a outra formiga pra longe. Com dificuldade, ele se levanta (reclamando e amaldiçoando tudo, é claro) e segue em direção á um local na grama onde, geralmente, ele se encontrava com seus amigos. Por sorte os dois estavam lá, e Pedro fofocava com Gudi sobre alguma coisa da noite passada...

Cergio: Olha só! Que porra tá acontecendo aqui?

Gudi: Chegou a droga ambulante..-

Cergio: Cala a boca! ... Ei, quem era aquele cara que você tava ontem?

Pedro: Ah! Era sobre isso que eu queria falar! O nome dele é Fábil, e eu acho que... Estamos namorando agora, hehe.

Cergio: Que mané namorar! Você conheceu ele ontem! E pra piorar, em uma festa!

Pedro: Bom, já fui na casa dele, então acho que já conheço ele um pouco melh-

Cergio: Você foi na casa de um estranho que tu conheceu numa balada?

Pedro: Perigoso, eu sei. Mas não precisam se preocupar comigo, até porquê, ele é um cara legal e acho que vamos nos dar muito bem...

Cergio: Ah, 'cara legal'. Sei. Escuta aqui, na hora que o seu corpo putrefato aparecer em algum canto dessa merda de cidade, sabe o que eu vou fazer? Rir. Por que? Porque eu to te avisando agora: Esse maluco vai te destruir e eu não vou estar lá pra salvar esse seu exoesqueleto asqueroso. Então vai lá, se divirta, mas saiba que eu não vou te ajudar quando der algum B.O. 

Pedro: Cara, não sei que bixo te mordeu, mas essa tua mente conturbada piora a cada dia. 

Cergio bufa, tal qual um cavalo raivoso, e sai andando de volta para o formigueiro. Fábil chega logo após em um carrinho rosa da Barbie, convidando Pedro á embarcar. 

Gudi: Eu acho incrível como eu sempre fico esquecido... Opa, hora da minha reabilitação. Tictictictic.... (Som das patinhas caminhando)

Como uma praga, acabou que as palavras horrendas de Cergio infelizmente se tornaram verdade. Fábil não era o cara mais equilibrado do pedaço. Cergio e Gudi ficaram sem ver Pedro por mais de uma semana... Enfim chega sexta, e junto, outro show. Agora era a hora da verdade, se Pedro não aparecesse neste show, com certeza virou camisa de saudade. Mas lá estava ele! Bem ao lado da outra aranha... Gudi estava preocupado com ele, já que mudou drasticamente desde a ultima vez que se viram; Ele parecia bem mais triste... Essa era a chance que Cergio precisava. Furtivamente, a pequena formiga se afasta da multidão e segue em direção á uma antiga conhecida... Carniça, uma urubu que estava tentando flertar com algumas pombas ao seu lado, as quais voam embora. Com sua tentativa falha de conseguir uma parceira, ela se encolhe preparando-se para dormir. A desgraça da formiga consegue subir no toco de madeira qual Carniça repousava, e morde sua cauda para chamar atenção.

Carniça: Ai! Qual foi?

Cergio: E ae.

Carniça: O que você quer agora?

Cergio: Tá afim de comer algo diferente de carne podre?

Carniça: ... Estou ouvindo.

Uma briga teria acabado de começar no show. Fábil estava usando Pedro de refém, ameaçando dar uma picada (sem piadas de duplo sentido aqui, hein).

Fábil: Dá um passo pra vocês verem! Já era essa espécie invasora aqui! 

Gudi: Calma, calma! Pra quê isso?!

Fábil: Vai todo mundo morrer nessa porra!

Caos e pura hipocrisia estava no ar. Se alguém desse um passo a diante, era tchau tchau para a  aranha pavão. Como um anjo (anjo caído, só se for) vindo dos céus, iluminados pela luz amarela de um poste, Carniça desce de surpresa abocanhando Fábil. Como um cavaleiro do apocalipse descendo de seu cavalo infernal, Cergio dá um pulinho das costas de Carniça, pousando no chão com o peso de um grão de paçoca. 

Cergio: Ih gente! Que pena... Era uma vez uma aranha, olha que pena... 

Pedro: Cergio! Você não tem ideia do que acabou de fazer!!

Cergio: Ah, foi mal-

Pedro: Tu me salvou, cara!!!

Cergio: Salvei?- Oh, é! Salvei. Claro.

Cergio não tinha ideia do que estava rolando entre Pedro e Fábil. Ele fez isso por puro ciúmes, mesmo. Bom, agora que ele sabe que fez a coisa certa, isso com certeza evitaria arrependimentos futuros. O bem venceu, eu acho....

Pai amado, gastei 2 horas escrevendo isso. Não vou corrigir erros nem fudendo.