1. Sexo, Bob Marley e vinho

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1. Sexo, Bob Marley e vinho

Acordo com uma sensação estranha embrulhando o estômago, apertando meu coração de uma forma pouco abstrata e uma vontade enorme de chorar

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Acordo com uma sensação estranha embrulhando o estômago, apertando meu coração de uma forma pouco abstrata e uma vontade enorme de chorar. Tento entender o porquê, mas minha mente recém-despertada me impede. Mas então, ouço a respiração profunda e tranquila de um homem grande adormecido ao meu lado e tudo o que estou sentindo parece se intensificar. Levo apenas alguns segundos para me lembrar o motivo da angústia que me consumiu assim que abri os meus olhos.

Me viro completamente para Namjoon e o encaro. Se fosse qualquer outro dia, eu o acordaria com beijos no rosto, veria seus olhos se abrirem lentamente e seu sorriso quente em torno de seus lábios. Ouviria sua voz sonolenta desejando um bom-dia e seu abraço quente entornando o meu corpo. Levantaríamos, escovaríamos os dentes em frente ao espelho nos encarando e em questão de segundos, adicionaríamos malícia ao olhar, iniciando um toque tão urgente que seria como se não nos tocássemos há anos. Poucos minutos depois, teríamos o nosso habitual sexo matinal — o melhor tipo de sexo, digo, o segundo melhor tipo de sexo, já que entramos num consenso de que o sexo depois de algumas taças de vinho é o melhor. Teríamos feito sexo a manhã inteira se hoje não fosse hoje. O último dia do Namjoon nos Estados Unidos.

Enquanto o encaro, penso em como chegamos até o dia de hoje. Namjoon é um escritor sul-coreano e veio para os Estados Unidos para passar seis meses. Segundo ele, viver a agitação de Nova Iorque por alguns meses o daria inspiração para escrever alguns capítulos do livro que está escrevendo e se passa na metrópole, mesmo que ele desgoste do país como um todo — ou como ele prefere dizer, quase gosta. Desde o nosso primeiro encontro, que aconteceu depois de um match no Tinder e três dias de muitas mensagens de conteúdo cultural, filosófico e científico muito interessante, ele me contou que tinha instalado o Tinder no intuito de achar moradores de Nova Iorque interessantes (não num sentido de interessantes romanticamente ou sexualmente) para apresentar as excentricidades da cidade. Perguntei a ele o que ele tinha visto no meu perfil para me ver como uma boa guia turística e ele disse que eu lembrava uma personagem de um livro que tinha escrito há um tempo e deixou de lado. Então, ele contou brevemente sobre o livro que está escrevendo e me propôs a ideia de mostrar a cidade para ele. A princípio, recusei, alegando que eu tinha nascido na Jamaica e apesar de morar aqui há quinze anos, não achava correto mostrar a cidade sem ser nativa numa tentativa de me livrar dele por achá-lo esquisito, mas ele retrucou dizendo que a perspectiva de uma jamaicana sobre Nova Iorque tornaria a experiência mais interessante. Quando ele me disse isso sua voz soava quente e franca e não pude dizer que não.

No início, no primeiro mês, nós saíamos todos os finais de semana depois que eu terminava de dar as aulas do dia. Nos primeiros encontros eu aderi ao obvio: estabelecimentos na Times Square, Estátua da Liberdade e Central Park, mas aos poucos fui deixando as superficialidades de lado — já que é impossível não ser profundo com o Namjoon, um homem tão cheio de uma curiosidade, paixão e desejo que parece te contagiar aos poucos — e passei a levá-lo em brechós dos subúrbios, restaurantes com culinárias de diferentes culturas, museus, galerias de arte e até o levei em eventos da comunidade coreana-americana de Nova Iorque depois de me informar com alguns alunos coreanos-americanos do sétimo ano. Levou pelo menos um mês e meio, ou até menos, para que eu notasse um sentimento diferente ao vê-lo. Era uma ansiedade antes de sair da sala de aula para vê-lo me esperado no portão da escola, um frio na barriga todas as vezes que ele me tocava e se eu não fosse preta, o rubor ficaria muito evidente cada vez que ele sorria.

WHEN LOVE'S AROUND kim namjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora