O sangue escorria pela minha lâmina enquanto o corpo que ela atravessava soltava sons de engasgo.
A cena era trágica, era ferro quebrado e distorcido, fogo, água e sangue por todos os lados. O mais puro caos, afinal, isso era tudo que aquela espécie que um dia jurei proteger sabia fazer:
Destruição.Quando retirei Ling Yu, o baque do corpo morto foi amortecido pelo outro corpo abaixo dele. Agora diversos pares de olhos amarelos me encaravam arregalados em puro choque, que só aumentou ao repararem que aqueles que guardavam suas jaulas também caíam mortos.
Senti vontade súbita de rir ao lembrar das palavras daquele aos meus pés antes de atingi-lo.
"Finalmente, esperei por anos pra te matar Sully, e agora não há nada nem ninguém que possa me impedir".Coitado.
Mas suprimi o riso ou qualquer expressão de humor. O ambiente era pesado, o cheiro de sangue e fumaça junto com o sal da água faziam uma mistura enjoativa de embrulhar o estômago. O silêncio se instaurou de forma ensurdecedora. A família de nativos daquele planeta - acredito que naquele caso eu que era a alienígena - ainda me encaravam chocados e amedrontados, e eu não fazia ideia do que dizer.
Uma movimentação abaixo de mim tira a atenção de todos. O grande macho azul se livrava do cadáver que caíra sobre ele e se erguia me olhando nos olhos. Sua postura era defensiva com suas mãos se erguendo a frente do corpo, foi quando reparei que ele possuía cinco dedos e usava um colete e outros equipamentos humanos.
Ergui Ling Yu apontando-a para o seu peito, o que deixou a minha espada quase na vertical. Ele era muito, muito alto, acredito que minha cabeça batia em seu quadril.
Nem precisa ajoelhar.
Balancei a cabeça, aquilo não era hora para aquele tipo de pensamento.
Endireitei minha postura em posição de ataque e ouvi um sibilo da fêmea adulta que estava na jaula. Estava prestes a avançar para dar-lhe o golpe fatal quando um inseto esquisito transparente pousou na ponta da lâmina.
Estávamos longe da terra, não havia nada do interesse de um inseto em um lugar como aquele. Lentamente abaixei a espada e vi o inseto se afastar pra longe.
— Você é americano? — perguntei pro ser esquisito à minha frente.
— Não — ele respondeu firme com uma voz grossa, quase raivoso — sou Na'vi.
— E o que diabos isso quer dizer?
— Quer dizer que sou um deles — apontou para as jaulas — que pertenço a esse planeta e não tenho mais nenhuma ligação com a Terra.
— Não tem ligação com a Terra mas usa um colete à prova de balas — soltei uma risada — É, mas parece que Ela concorda com você.
— Não vai me matar? — perguntou ainda na posição de defesa.
— Por enquanto não.
Embainho Ling Yu e retiro o pingente de borboleta que fica pendurado no seu punho. Comprimo-o entre as palmas até que se torne animado.
O silêncio retorna enquanto todos encaram a graciosa borboleta prateada voando em direção as jaulas, que começam a se desintegrar assim que ela pousa sobre elas.
Houve um grito agudo de uma criança que estava na primeira jaula onde a borboleta pousou e os outros se comoveram assustados também.
— Espere — disse colocando o braço na frente do homem que ia em direção a ela — ela vai ficar bem.
E então, uma a uma, as jaulas foram desaparecendo como poeira. A criança correu em direção ao macho ao meu lado, abraçando-o com força e chorando, ambos murmuravam coisas que eu não entendia. Cada um que se libertava corria para junto dos dois. Uma fêmea e um macho que acredito serem adolescentes por não serem tão altos quanto os adultos e maiores que a criança.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Milagre
FanfictionHú Dié era um milagre. Pelo menos era o que seus pais diziam. Mas a forma como a humanidade caminhava fez com que ela se sentisse inútil, incapaz, sem nem um propósito digno para lutar. Até que ela ouve um chamado de socorro e resolve ajudar. E se e...