❝𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒❞ | Gojo Satoru

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Eu o vi pela primeira vez em um final de tarde

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Eu o vi pela primeira vez em um final de tarde.

Os meus pais não tinham condições boas o suficiente para que viajássemos sempre que desse vontade, então, uma vez a outra, talvez duas vezes por ano, passávamos um fim-de-semana prolongado bem longe de casa. Em uma delas, fomos a Cabo Verde, onde nos hospedamos em um resort quase à beira da praia. Perto desse, havia outro bastante luxuoso, gigante, onde pareciam ter se acumulado todos os visitantes com economias muito mais gordas. Não que isso fosse um problema, até porque, no final, frequentávamos todos a mesma praia, embora eles ficassem, mais uma vez, entulhados em um e único canto, ou bastante distanciados e isolados dos demais.

Gojo Satoru, no entanto, foi uma das poucas pessoas que pareceu não se deixar limitar por essa regra. Ele saía quando o sol se punha e ficava sentado em um bar local, simples e para lá de quieto, bebendo cerveja cara ou tomando algum cocktail colorido, sempre com óculos escuros sobre os olhos e vestindo roupas leves e frescas. Bem, foi o que observei de sexta-feira a domingo.

Nesse último dia, decidi sair sozinha para aproveitar as restantes horas. Os meus pais preferiam viajar durante a noite e trabalhar um pouco mais tarde do que o habitual no dia seguinte, uma vez que tinham o seu próprio negócio: a única floricultura da pequena cidade onde vivíamos, bem do lado do atelier que fora, com muito custo, crescendo ao longo dos anos, onde a minha mãe confeccionava peças únicas.

Fui ao mesmo bar após escolher um vestido longo e solto, bem como chinelos rasos e uma bolsa pequena, na qual coloquei apenas o necessário: celular, um gloss e algum dinheiro. Fiquei afastada dos demais. Nunca fui de me misturar com facilidade, principalmente quando se tratava de lugares cheios de turistas. Depois de sofrer racismo algumas vezes apenas por querer socializar, aprendi a ter mais cautela quando se tratasse de puxar conversa com estranhos. Não que eu me incomodasse em ser negra, ou por constantemente usar tranças; eu só queria evitar situações desagradáveis e ter um momento tranquilo.

Pedi um cocktail ao homem que se aproximou para perguntar, gentilmente, o que eu queria. Não sabia muito sobre isso, mas odiei o sabor do 'Negroni' assim que dei o primeiro gole. Odiei a decoração ridícula e simples feita pela casca de laranja, odiei a cor; para mim, era simplesmente horrível. Tentei disfarçar, mas nunca fui boa em esconder as minhas emoções. Depois de segundos engolindo a bebida com algum esforço, me senti observada e ergui a cabeça.

Gojo me encarava com um sorriso esticando os lábios rosados, os óculos escuros sobre os olhos. Ele era extremamente branco, talvez albino, com cabelos de tom quase platinado. Eu o encarei de volta e forcei um sorriso, envergonhada, caçando o celular na bolsa para me distrair. Naqueles dias todos em que o vi, estando de passagem e andando até o resort no qual estava hospedada com a minha família, o mesmo sempre chamava a minha atenção, principalmente pela aparência. Eu queria muito ver os seus olhos.

Fucei as redes sociais por um tempinho e me entediei, indo depois ao Whatsapp para responder a mensagem de Mika, uma cliente assídua que, eventualmente, se tornou uma espécie de amiga. Ela era linda, com seus cabelos longos e lisos, tão escuros quanto os olhos. Aparecia todos os dias, à mesma hora, para comprar as mais belas flores. Uma vez, perguntei os motivos por detrás daquilo, e tudo o que ela respondeu foi que ela dava a si mesma o tratamento que merecia. Ou seja, as flores eram para ela. Mika se amava tanto que eu sentia inveja branca. Ela tinha uma pele literalmente perfeita, estava sempre com os cabelos arrumados e unhas feitas, se vestindo como se estivesse a caminho de um lugar chique todas as manhãs, com a disposição que apenas uma pessoa privilegiada era capaz de possuir. Ela comentava que se sentia péssima porque havia viajado para um lugar cheio de neve e não conseguia sair para comprar flores há muitos dias, e isso a irritava. Eu contive a vontade de revirar os olhos, sem conseguir sorrir. Queria eu poder pelo menos tocar em neve. Dedilhei a tela, pensando em uma resposta longe de chata enquanto sentia o ar morno acariciar o meu rosto e os braços nus.

𝐇𝐄𝐀𝐕𝐄𝐍 | JJK IMAGINESOnde histórias criam vida. Descubra agora