Rhaenyra Targaryen

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Assistir seu pai em silêncio enquanto ele apenas a observa com aquele olhar perdido e expressão dolorida estava acendendo uma fúria antiga em seu sangue.

A fúria de ver sua mãe grávida, vez após vez, cansada e imobilizada pelo peso de seu corpo, forçada a carregar crianças que nunca viveriam, forçada a suportar a dor de não aplacar os sussurros da Corte, forçada a aplacar os desejos de um Rei que dizia amá-la e era egoísta a ponto de não enxergar seu sofrimento, forçada a suportar o peso da falha a cada vez que uma criança não respirava. A fúria em nome de Aemma, de seu sofrimento e dor, em nome de sua mãe.

Uma mãe que, desde jovem, Rhaenyra sabia que não poderia manter por muito tempo, porque o desejo doentio e obsessivo de seu pai por um filho homem iria tirá-la dela um dia. E o dia chegou. E ela não pôde fazer nada, porque ela nasceu uma filha, e seu pai era o maldito Rei.

Ela ferveu em silêncio por tempo suficiente, mas não aguentou mais, não quando lágrimas silenciosas molharam o rosto dele. Ela mal podia conter sua fúria  quando olhou para seu pai, nos olhos dele.

"Você está satisfeito, meu Rei?" perguntou, em tom cortante, recebendo um olhar atordoado "Pelo seu tão desejado herdeiro masculino" esclareceu em tom venenoso.

A expressão de Viserys se contorceu em algo dolorido e sombrio, e seus olhos brilharam com lágrimas. Ele piscou, tentando dissipar a ardência de seus olhos, e umedeceu os lábios.

"Rhaenyra..." ele lamentou, engolindo o enorme nó que se formou em sua garganta "Minha filha..."

Rhaenyra não se importou com o tom entrecortado e frágil de seu pai. Ele nunca se importou com o de sua mãe, por que ela estenderia tal cortesia à ele?

"Eu espero que esteja satisfeito" ela disse, e o ressentimento em sua voz era quase tão forte que ofuscou a amargura de sua expressão "Você matou minha mãe, mas conseguiu o que queria."

Viserys fechou os olhos, balançando a cabeça, e estendeu uma mão para ela. Ele parecia confuso e sufocado, como se não soubesse o que fazer, ou o que falar. Rhaenyra se ressentiu ainda mais por isso.

"Eu amo sua mãe" ele engasgou, um soluço escapando sem seu consentimento, mas Rhaenyra apenas o olhou como se não pudesse ver nada além de um assassino, porque é o que ele é, um assasino de esposas "Eu não quis... Eu nunca quis matá-la..." ele cuspiu, dor e amargor se misturando em seu tom "Mas eu também não queria perder mais filhos..." lamentou, desviando o olhar, sem vontade de ver o nojo irredutível na expressão de sua filha mais velha.

Rhaenyra quase riu. Ela sacrificaria seus irmãos quantas vezes fossem necessárias para ter sua mãe, viva e bem. Rhaenyra franziu a testa. Assim que o pensamento a atingiu, ela se arrependeu, cerrando a mandíbula e apertando as mãos em punhos, enquanto balançava a cabeça.

A Princesa permaneceu em silêncio por alguns segundos. O arrependimento por seus irmãos morreu rapidamente contra a raiva e a amargura crescente que ela sentiu por seu pai. Por que como ele ousa dizer que a ama? Que não queria perder filhos? Como ele pode ser tão malditamente cego e egoísta? Ele não precisaria ter perdido filhos, ela estava bem ali, viva e respirando, bem na frente dele, e deveria ser o suficiente. Ele não precisaria ter sacrificado sua mãe.

Ela não ousa dar voz a isso, no entanto. Ela olha para ele por um longo momento, balançando a cabeça. Ela reúne o pouco de controle que a resta, e suspira.

"Nunca vou te perdoar" ela declarou calmamente, também olhando para longe, cansaço alcançando sua postura "Eu te odeio" continuou, ignorando o soluço quebrado de seu pai "Baelon e Visenya... Eles não tem culpa" ela balançou a cabeça, arrependimento ainda dançando em sua mente de seu pensamento anterior sobre seus pequenos irmãos, os únicos vivos "Você é o único culpado" sentenciou magoada, e se afastou "Você quem permitiu que o meistre a estripasse como um peixe. Você assistiu. Você negou seus pedidos para parar. Você ordenou que as mulheres que a viram sofrendo em cada parto antes desse a segurassem e a vissem ser assassinada" murmurou amarga, alto o suficiente para ele ouví-la com clareza "Você é um assassino de parentes, um assassino de esposas. Eu nunca vou perdoar isso" disse, novamente ignorando o engasgo de seu pai "E Otto acredita que Daemon é quem seria a reencarnação de Maegor" negou com a cabeça, saindo da sala, após ouvir seu pai finalmente cair em um choro alto.

Os Cinco Maridos - Spin-off de Inesperadamente Poliândrica Onde histórias criam vida. Descubra agora