Sasuke inconscientemente montou uma ficha criminal ao decorrer da semana.
Naruto Uzumaki;
Carioca;
Loiro natural;
Mandrake;
E um vizinho excepcionalmente barulhento.
Era o pacote completo.
Entrega à domicílio vinda diretamente dos infernos.
Sasuke ganhou um bolão de azar na mega sena, e sequer havia jogado. Estava começando a se questionar sobre o ódio descomunal que o universo tinha por ele. Porque, convenhamos, esse tipo de coincidência não é, nem de longe, coisa de Deus. É o capeta escurecendo os caminhos alheios.
Na segunda semana, ele quase pediu arrego aos céus e levantou as mãos para Deus lhe levar. Simplesmente não aguentava mais. Estava pronto para se demitir da vida.
Primeiramente: ele nem queria, de fato, ficar com o carioca do bloquinho.
Naruto era loiro, padrão, tatuado, marrento e tinha um perfeito linguajar de noia de esquina. O tipo de Zé droguinha que Shikamaru adorava adotar. Ele tinha tantos amigos assim, que em algum momento Sasuke se acostumou com os encostos largados no sofá da sala.
Esse não é o ponto.
O ponto é que Naruto não fazia o tipo de Sasuke. Mas porra, era carnaval.
Tipo?
Foda-se. No carnaval tudo é permitido.
E Sasuke estava explorando o Rio. Experimentar a boca de um carioca todo tatuado fazia parte da experiência completa. Ele apenas se deixou levar pelo efeito da cachaça na cabeça. Nas duas, aparentemente.
Mas, e daí?
Era carnaval.
Estava se divertindo. Shikamaru havia lhe arrastado até aquele fim de mundo, e ele se viu na obrigação de curtir o apocalipse.
Era para ser só uma ficadinha de carnaval. Uma lembrancinha em sua memória.
Sasuke quis se matar da pior maneira possível quando descobriu que o cara do bloquinho era seu vizinho. Estava perfeitamente ciente de que universo o odiava muito, mas ainda assim conseguia se surpreender com o nível de azar descomunal que se formava em seu caminho, tal qual uma grande pedra.
Uma montanha, na verdade.
Então de repente sua semana passou a ser adornada por uma saudação muito específica na retirada do lixo:
— Oh, bom dia, vizinho! Tu dormiu bem hoje, menor?
“Menó”
Ou:
— Qual é, Sasuke! Quando é que tu vai dar uma moral pro cria aqui?
"SAXXQUE"
A resposta era tão óbvia quanto a luz do sol em uma manhã de verão em Copacabana:
Nunca.
Jamais.
Nem fodendo.
Nem em um enésimo de ano.
Nem que a vaca tussa.
Nem que o prefeito asfalte as ruas das favelas do estado de São Paulo.
Nem que Eduardo Paes finalmente pague a porra da Comlurb.
Nem que o dedo do Lula cresça novamente.
Sasuke, no entanto, preferiu resumir isso em um simples:
— Bom dia.
Após o lixo ser jogado na lata ao lado de fora do apartamento, ele batia a porta na cara de Naruto.
E talvez seu vizinho chato, Zé droguinha, carioca e irritante fosse ligeiramente masoquista, porque ele não parou de insistir.
Tudo piorou na terceira semana, quando Sasuke finalmente tomou coragem para fazer o cadastro na academia da cidade.
Era tão óbvio.
Tão. Fodidamente. Óbvio.
Que Naruto estaria lá.
Se olhando no espelho enquanto treinava superior.
Com uma regata laranja ridícula.
Fora as expressões de héterotop genérico.
Sasuke quase deu meia volta. Ele só seguiu em frente porque havia batido muita perna para chegar até ali.
Aparentemente, ele era o único míope entre os dois, porque mal havia entrado e já escutou a voz de Naruto soar, bem alta:
— Fala tu, Sasuke! Também tá treinando aqui agora, risadinha?
"SAXXQUE”
Sasuke olhou para a aberração laranja enquanto retirava um lado dos fones. A expressão de desgosto em seu rosto era quase como uma caricatura.
— Não. Sou o irmão gêmeo dele.
Naruto arregalou os olhos.
— Caô! — ele chegou a largar os pesos que estava segurando. Os olhos bizarramente azuis desceram para avaliar o vizinho, e a sobrancelha com risquinho se arqueou — Sério mesmo?
"Mearmo"
Sasuke revirou os olhos, com um canto dos lábios inclinado para cima em um sorriso sardônico.
— Não, doente. Eu tô tirando uma com a sua cara.
Naruto revirou os olhos e sorriu, balançando a cabeça antes de recuperar os pesos. Ele exalava uma inabalável energia de idiota. A marra que carregava naquela cara de padrão só durava enquanto ele mantinha a boca fechada.
— Mas aí, tu veio de São Paulo, né não? Já rodou pelas praias daqui?
Sasuke se sentou em um dos equipamentos para inferiores. As sobrancelhas se ergueram enquanto ele olhava para Naruto.
— Não. O medo de ser abordado por dois caras numa moto é maior.
Naruto soltou uma risadinha, balançando a cabeça. Aquele sorriso de criança pestinha cresceu em seus lábios, desenhando covinhas nas bochechas.
— Já é, então, meu cria. Tudo compactuando pra tu dar umas voltas comigo pela orla, tomar um açaí e pá. Bora ou não bora?
Sasuke deu de ombros.
— Eu tenho compromisso.
Naruto arqueou as sobrancelhas e o olhou sob os cílios, igualzinho uma vovozinha olharia por cima dos óculos.
— Ixi, tá de caô. Eu nem falei o dia ainda, rapá.
— Vou estar ocupado a semana inteira.
Naruto assentiu, voltando a focar no próprio treino.
— Tranquilo, pô.
Sasuke deu uma última olhada rápida no noia antes de enfiar o fone novamente na orelha, não deixando brechas para ele iniciar um segundo round de conversa.
O fora de hoje estava pago.
A sequência de abdominais também.
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Ó, o reverse || Narusasu
RomanceDurante o Carnaval daquele ano, Naruto avistou Sasuke Uchiha, um paulista pitélzinho, em meio a um bloquinho em Ipanema. Ele chegou junto, e conseguiu um beijo do gostosão. O problema foi que Naruto gamou. Com um único beijo! Emocionado? Talvez. E a...