Ruim de buraco

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Mudanças são uma droga.

De casa.

De bairro.

De cidade.

E Sasuke conseguiu se enquadrar em cada uma delas.

Sair de São Paulo para ir parar no meio do Rio de Janeiro era simplesmente sinistro. A vibe de "jovens-pobres-da-periferia" que ele e Shikamaru estavam carregando como uma nuvem negra acima da cabeça era surreal. Sem geladeira, sem fogão e sem cama.

Mas eles tinham uma air fryer.

Já é alguma coisa, não é?

Definitivamente é.

De qualquer forma, a air fryer podia ser um xuxuzinho que salvava a vida de idiotas que não sabiam fritar ovos, mas definitivamente não salvava noites de sono.

Porque aquela insônia que atordoava Sasuke desde que ele pisou ali era surreal. Talvez fossem as mudanças. Ou os capítulos do livro que ele tinha que entregar até o final do mês, mesmo tendo apenas meio parágrafo guardado nos rascunhos. Talvez fosse o colchão duro, ou o clima exageradamente quente daquele lugar.

Pelo menos ele ainda não havia sido roubado. Já era um bom e adorável começo. Perder o emprego? Ótimo.

Perder o celular? Jamais!

Era um iPhone, e ele ainda estava pagando as prestações. Dê um desconto ao jovem pobre.

Então, como estava fazendo todos os dias ao decorrer da semana, Sasuke rolou para fora do colchão e saiu em pianinho. Shikamaru dormia feito uma pedra, derrubado pelo efeito do que fumava. Ainda assim, Sasuke era sempre silencioso ao atravessar a sala e passar pela porta. O apartamento vazio, ainda com algumas caixas de papelão espalhadas, era engolido pela penumbra da noite. Sombras foram projetadas pela luz que dançava entre as persianas, deixando o ambiente meio bizarro.

Assim que ele pisou no corredor do condomínio, a luz automática oscilou suavemente antes de acender, devastando a escuridão. Já passava das três da manhã, e Sasuke não se preocupou em vestir uma camisa. O guardinha noturno teria o privilégio de se deliciar com a imagem das costas tatuadas e o lindo tanquinho. Sasuke estava fazendo um favor à sociedade em exibir sua beleza ao mundo.

Deu três passos para chegar até a escada e se sentar no primeiro degrau. Também havia um elevador — que funcionava! — ele estava acostumado demais a morar em lugares caindo aos pedaços, por isso elevadores em funcionamento eram quase uma dádiva dos céus.

Cinco minutos.

Cinco minutos, ou até menos. Isso foi todo o tempo silencioso que teve para puxar uma caixinha de Lucky Strike do bolso da calça moletom, e se xingar logo em seguida ao notar que havia se esquecido do isqueiro.

Ótimo pra caralho! Puta que pariu. Vai se foder.

Então, a bolha silenciosa se desfez. O crepitar do elevador se abrindo inundou o pequeno corredor. Sasuke mal teve tempo de virar ligeiramente a cabeça para trás até que as vozes soassem:

— Porra, Neji. Tu tá trilouco, mermão. Falei que beber aquele tanto de uísque era furada! — a voz inconfundível de Naruto soou. Ele arrastava um Neji quase morto para fora do elevador, a voz meio risonha enquanto enfiava uma mão no bolso, tentando não derrubar o outro homem. Neji era um cara bem alto, branco para um caralho. O cabelo castanho tão grande e liso, que as piranhas das ex-vizinhas insuportáveis de Sasuke provavelmente morreriam de inveja. Ele tinha ombros largos e um par de olhos muito esquisitos, embora bonitos. Era um pedacinho de céu.

Dava para compreender Shikamaru por ter crescido os olhos.

Sasuke arqueou uma sobrancelha. Ficou quieto enquanto observava Naruto tirar o molho de chaves do bolso. Foram, literalmente, dez tentativas de encaixá-la antes que ele desistisse. Neji pareceu ter desistido de viver também, porque desmaiou nos braços dele. Naruto grunhiu e xingou todas as gerações do cara, praguejando.

Ó, o reverse || NarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora