Nem todo carioca é tapado.
Sasuke descobriu isso algumas semanas após a mudança.
O síndico do prédio era muito gente boa. A moça do caixa da padaria da esquina era muito gentil e Neji, o cara que mora com Naruto na porta da frente, é educado para um santo caralho. Ele era uma caricatura ambulante dos playboys da zona sul, só que na versão baixa renda.
Então o problema não era morar no Rio de Janeiro. Nunca havia sido. O problema de Naruto, é que ele era muito Naruto.
De um jeito péssimo, inclusive. Sasuke estava tentando encontrar pontos altos nele além da beleza padrão há dias, mas só conseguia pensar no quão brega aquele cara era.
— Nossa, eu pegava muito — Shikamaru jogou no ar, com uma casualidade imensa. Estava largado no sofá, em uma posição de velho com escoliose, dixavando um prensado. O kit de maconheiro escancarado sobre a mesinha de centro, com cartão, seda e piteira.
Sasuke revirou os olhos.
— E quem caralhos você não pegaria, cara?
Shikamaru deu de ombros.
— Já faço mais que o governo. Quem ignora buraco é prefeitura.
Sasuke fechou os olhos. Não conseguiu evitar uma risadinha soprada, com a mão na consciência.
Cadê o Lula, nessas horas?
Lamentável.
E se a conversa esquisita não ficou clara o bastante, eles estavam falando do vizinho educado, com cara de playboy, o tal Neji. Shikamaru gamou no cara e estava tentando convencer Sasuke a compactuar com a coisa. E "compactuar" quer dizer enrolar Naruto, para que ele descolasse o amigo gato para Shikamaru.
"4 é par", foi o que o sem noção disse.
Uma péssima ideia, só para constar. Sasuke respondeu um lindo e redondo "NÃO" em todas as vezes que Shikamaru veio com essa ideia fodida ao longo da semana. Seu amigo de apartamento era muito inteligente, na maioria das vezes. No restante delas, ele pensava com a cabeça de baixo.
Ou simplesmente não pensava.
— Você é um falso. Se fosse meu parceiro mesmo, ajudava na minha causa, seu comédia — à essa altura do campeonato, ele já estava passando a goma. A ponta da língua raspou habilmente pela seda enquanto ele tentava transparecer credibilidade em seu discurso de marginal. Após torcer levemente a pontinha do papel que sobrou, fechando o baseado, Shikamaru se inclinou para alcançar o isqueiro sobre a mesa. O filho da puta bolava tão bem, que nem precisava pilar. Fala sério, Sasuke estava começando a achar que atraía esse tipo de gente — Malandro, tô te falando, você só precisa falar com o cara. Ele mora literalmente aqui na frente. E faz academia no mesmo horário que você. Porra, sem maldade, não vai cair a boca se você me ajudar, caralho.
— Pau no seu cu. Eu já disse que se você quer dar uns amassos no jeitozinho, só vai atrás do teu corre. Não me coloca nessas ideias, não — Sasuke resmungou, se inclinando para alcançar uma das latinhas de cerveja dentro do isopor. Eles ainda não haviam comprado uma geladeira, então estavam improvisando. Mudanças sempre foram uma droga para ambos. Sasuke afundou o lacre da bebida e deu um gole longo antes de olhar novamente para o maconheiro deitado em seu lindo sofá de couro novinho — Quer pedir pizza?
Os olhos de Shikamaru se iluminaram. E nem foi a erva.
— Pede aí. Daqui a pouco a larica vai bater, e se pá eu como até o entregador.
Sasuke apenas riu, balançando a cabeça.
Seu amigo era um tapado. Ele não podia deixá-lo conhecer Naruto de jeito nenhum, ou teria que lidar com a soma infernal de dois tapados e meio.
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Ó, o reverse || Narusasu
RomanceDurante o Carnaval daquele ano, Naruto avistou Sasuke Uchiha, um paulista pitélzinho, em meio a um bloquinho em Ipanema. Ele chegou junto, e conseguiu um beijo do gostosão. O problema foi que Naruto gamou. Com um único beijo! Emocionado? Talvez. E a...