Memories (pt. 2)

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→ Quebra de tempo
→ Erik P.O.V.

--- Amor, você já está acabando? Meu braço está ficando dormente --- Charlie comentou pelo que devia ser a vigésima quinta vez.

Ele estava sentado a minha frente no sofá que tinha no quarto e eu em uma poltrona a sua frente, lhe desenhando. Ele estava deitado no móvel e com a cabeça sobre o braço esquerdo, que estava apoiada nas costas do sofá ao seu lado, enquanto a direita estava em volta da sua barriga, como se ele estivesse abraçando a si mesmo, ele estava usando uma calça de alfaiataria marrom junto de uma blusa branca. Charlie também exibia uma face entediada e ao mesmo tempo diverida e uma de suas pernas estava estendida pelo sofá, enquanto a outra estava dobrada. A luz do sol batia certeira no anel de noivado e na aliança dele, os fazendo brilhar.

Lindo. Como sempre foi.

Nenhum detalhe em meu marido naquele momento me escapava, as dobras nas roupas, a marca visível perto da parte do seu pescoço que estava exposta, as três cicatrizes, que eram as únicas visíveis do braço esquerdo (que eu resolvera deixar para desenhar por último) e os mínimos detalhes de seu rosto, como o pequeno sorriso em seus lábios que me convidavam, sem parar, para um beijo, o nariz, a forma como o cabelo cobria parcialmente aquele rosto de mim. Tudo.

--- Só mais alguns minutos, meu amor --- falei de forma distraída, concentrado no desenho.

--- Você vem falando isso há meia hora, e só porque eu não posso sair correndo daqui.

Apesar do peso que a história por trás daquela piada ainda tinha sobre mim, acabei soltando uma risada. Não pude resistir, as vezes meu humor me traía.

Finalmente cheguei nas cicatrizes que estavam visíveis para mim, desenhei mais lentamente do que já estava desenhando. Elas eram, assim como suas origens, delicadas, e eu queria retratar aquilo no papel do meu caderno o mais fiel possível.

--- Olha só, você está rindo porque sabe que é verdade. --- ele disse --- Só espero que você não me peça para ficar mais tempo para poder pintar usando as cores certas, eu te mato se fizer isso.

Ri de novo, dando os toques finais nas cicatrizes, que realmente tinham me agradado chegando ao resultado que eu queria. Escrevi a minha assinatura em um canto inferior do papel e botei uma legenda (“Vendo um desenho tão lindo, nem parece que reclamou metade do tempo em que o desenhei e passou a outra metade me provocando”) olhei para o meu marido, que ainda estava parado como uma estátua.

--- Pode se mexer. --- falei, e ele rapidamente levantou a cabeça, fazendo uma leve careta por causa da dormência em seu braço --- E eu não preciso ter essa bela visão na minha frente para colorir o desenho, algo que você sabe que eu não faço com frequência.

--- Você acha mesmo que eu não sei que todos os desenhos que você fez de mim, dos nossos filhos e dos nossos amigos foram coloridos? --- ele perguntou, me fazendo sorrir novamente. Depois ele acrescentou, em um suspiro falsamente cansado: --- O que eu não faço por você, meu gatinho.

Sorri ao ouvir ele me chamar daquela forma e me levantei e deixei o caderno e o lápis no assento e me dirigi ao que me esperava no sofá a minha frente, não sem contornar a mesinha que ficava entre nós. Charlie estendeu os braços, me chamando para ficar no colo dele e ser abraçado por ele, algo que eu jamais recusava por amar. Tinha ficado tempo demais desenhando ele, e, por eu mal desgrudar do corpo dele nos últimos dias, estava ansioso para senti-lo novamente.

Quando já estava bem acomodado no colo do meu marido, ele me mimou na questão de carinhos, me dando beijos no rosto, nos meus cabelos, nos meus lábios. Seus braços me apertavam e eu pensava que não devia existir um lugar mais confortável para se estar do que ali, nos braços dele. Também podia sentir ele cheirar e beijar os meus cabelos de tempos em tempos.

Red Roses - A One-Shot BookOnde histórias criam vida. Descubra agora