Memories (pt. 3)

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→ Dia seguinte
→ Charles P.O.V.

No início do amanhecer, sem motivo nenhum, acordei. O silêncio prevalecia no ambiente a tirar pelo barulho das ondas ao longe. Eu estava de frente para as portas que davam para a varanda, tendo uma boa visão do nascer do sol na praia, já que elas estavam abertas.

O meu marido me abraçava pela cintura e ainda dormia profundamente, sua respiração, que batia contra a minha nuca, era pesada e calma. Além de estar me abraçando, sua mão direita segurava a minha esquerda, com nossos dedos entrelaçados, exatamente da mesma forma que estavam quando pegamos no sono. Sorri, cutucando a sua mão delicadamente para não acorda-lo.

Durante aquele pequeno tempo, pensei em como a forma que Erik dormia mudara desde o nosso namoro. Nos primeiros meses eu tinha a impressão de que Erik não dormia ou, se dormia, era por poucas horas, já que sempre que eu tinha uma Crise ou um pesadelo (que eram sempre mais relacionados ao ocorrido na floresta) ou simplesmente não conseguia dormir pela alteração que a depressão fizera no meu sono, ele estava de olhos bem abertos, me observando atentamente. Só que a medida que fui melhorando, o meu sono melhorou junto, e o dele também. Agora eu podia acordar por causa de um barulho ou por nenhum motivo e me mover o quanto eu quisesse e ele continuaria dormindo.

Me levantei da cama depois de me soltar dos braços de Erik e o olhei por um tempo (o sorriso ainda no meu rosto) antes de vestir o meu cardigã e começar a andar pelo quarto.

Então avistei, sobre a mesa, o caderno que Erik usava para desenhar, aberto na página que estava a ilustração que ele tinha feito de mim no dia anterior. Erik tinha terminado de pinta-la e tinha deixado ela ali para secar. Peguei o caderno e fui em direção a varanda para aproveitar o nascer do sol e ver os outros desenhos feitos.

Apoiei meus antebraços no parapeito e dei uma última espiada em meu marido, que continuava dormindo, antes de me voltar para o objeto em minhas mãos. Voltei para a primeira página, os desenhos variavam entre preto e branco e coloridos, todos com a data em que foram feitos e sua assinatura, alguns também tinham pequenas legendas e outros o nome dos locais.

Folheando o caderno, via os mais variados desenhos: flores arranjadas em um vaso, o relógio Big Bang, dona Edie (“É Dia das Mães... Queria poder mostrar esse desenho para ela...”) uma versão mais jovem de Tiago (“Tantos para fazer amizade, e eu fiz logo com ele, mas é muito melhor do que qualquer outro”), um prédio na Suíça, uma pilha de livros, uma praça em Buenos Aires, Erik com a família dele no dia da formatura dele (“‘Defina o dia mais feliz da sua vida’”), o pai dele, Jakob, (“Os conselhos dele junto com os da minha mutter fazem falta”)... Eu treinando Hank (“Cinza combina tanto com ele...”), eu em cima do galho da árvore com Raven abaixo de mim me encarando e me obrigando a descer (“Sempre há um lado travesso em nós, mas me surpreendi ao descobrir que ele também tinha com essa cena”), eu pensando e elaborando uma jogada de xadrez (“Esses olhos azuis ainda vão ser o motivo da minha ruína”), uma parte da biblioteca da Mansão,  a cozinha da Mansão, eu no dia que vi suas memórias (“Essas roupas ficam tão lindas nele... Mas eu adoraria tirá-las do corpo dele”)...

--- Vendo meus desenhos, Charlie? --- pulei de susto ao ouvir a voz de Erik atrás de mim.

Como não ouvi ele acordar?

Ele riu do meu pulo e passou seus braços ao redor da minha cintura, depositando um beijo no lado direito do meu pescoço. Sua respiração contra a minha pele fazendo eu me arrepiar e o beijo me fez surtar internamente.

--- Mein Gott, amor, há quantos minutos você acordou? --- perguntei.

--- O suficiente pra ter tido a noção de que você não estava na cama comigo. Ou seja, três minutos. --- ele respondeu ainda sorrindo --- Me desacostumei a dormir sozinho.

Red Roses - A One-Shot BookOnde histórias criam vida. Descubra agora