Das 6 às 7

O reencontro

Segunda-feira, às seis da tarde.

Ali estava eu, sentado naquele banco, refletindo sobre os rumos da vida e como Xuxa conseguiu me convencer a retornar àquele cenário.

Insisti que ele entendesse que eu não me isolava por causa de Amélia, nem pelo que ela fez, mas sim por uma necessidade de introspecção, um tempo para ponderar sobre tudo.

No fundo, estou bem; apenas repousava meu coração e minha mente.

Então, Xuxa aparece.

"Olha quem resolveu aparecer, todo elegante, até cortou o cabelo."

"É verdade, precisava de uma mudança, algo dentro de mim sussurrava isso."

"Isso aí, eu vou ali rapidinho e já volto para irmos para a aula."

Xuxa parecia mais preocupado comigo do que antes. Será que ele pensou que eu estava à beira de cometer um erro irreparável? Talvez achasse que eu fosse... sei lá, desistir de tudo?

"Oi."

Minha alma gela. Era a voz de Amélia.

Me viro lentamente, devolvo o cumprimento e me calo. Realmente não sei o que dizer. Depois de tudo aquilo, qualquer palavra pareceria vazia, assim como aquela playlist idiota.

Não desejo mais odiá-la, apenas para não sentir mais nada, nem mesmo o ódio.

"Você sumiu... Não te vi mais por aqui, está tudo bem?"

"Estou ótimo, estava de férias."

"Férias de que? Estamos no meio do semestre."

"Férias de você."

Xuxa sai do banheiro e avista Amélia ao meu lado, e exclama:

"EEEI, dá uma licencinha aqui pro meu amigo, ele não está bem."

"Só estava conversando com ele, preciso dizer algo."

"Não acha que já disse demais?"

"Espera, Xuxa, eu quero ouvir o que ela tem a me dizer."

"Ok."

"Sei que você está com ódio de mim, e tem todo o direito, mas quero te contar a verdade."

"Estou ouvindo."

"Eu já tinha um relacionamento quando te conheci, e me aproximar de você foi horrível, eu sei. Ver você feliz com essa falsa realidade que criei me fazia chorar em casa."

"Por que fez isso? Sentiu pena de mim?"

"Não, era de mim que eu sentia pena. Meu relacionamento é abusivo, ele é possessivo e tem ataques de vez em quando. Eu só queria fugir dali e ter algo saudável, com alguém legal, então a gente se deu bem e, sei lá..."

"Entendi. Isso é tudo?"

"Me desculpa."

"Está desculpada, pode ir pra casa sem chorar esta noite, agora, me deixe em paz."

Me levanto e sigo para a aula com Xuxa.

Amélia fica sozinha no banco.