Capítulo 2

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(Simone)

Após fechar a porta e entrar na sala, sentei na minha poltrona e vi a face incrédula de Soraya. Ela estava estupefata pelo fato de eu governar uma cidade. Então, perguntei:

-A que devo a honra de sua visita?

-Então, senhora prefeita, eu vim saber como eu dou entrada no alvará de funcionamento do meu bar. -Ela respondeu meio irônica.

Ignorei a ironia e respondi:

-Você precisa solicitar a emissão desse documento e trazer comprovantes jurídicos da empresa. Imagino que você já tenha isso, não é?

-Tenho.

-Precisa definir qual a localização e depois haverá uma inspeção dos bombeiros e da vigilância sanitária. Assim que estiver pronto, é só avisar que o pessoal vai te visitar.

-A localização é a que você conhece, mas ainda não está 100% pronto. Fizemos algumas reformas e estamos comprando os materiais. Quem vai vistoriar não é você, é?

-Não... É o pessoal do departamento urbano. Só estou te atendendo porque todo mundo já foi embora.

-Engraçado. Todo político que eu conheci saía antes de todo mundo no escritório e você fica até tarde.

-Pois é. Mulher tem que trabalhar 3x mais se quiser ser levada a sério nessa cidade.

-Entendo... Seu marido não acha ruim?

-Ele entende minhas prioridades.

-Sei... Bem, já que você ainda não viu, gostaria de ver como está o meu bar? Está ficando bonito.

-Não sei, Soraya... Acho que não pega muito bem eu visitar bares à noite sozinha.

-Ninguém sabe ainda que é um bar.  Se você não contar, eu não conto.

-Pode ser outro dia? Estou bem cansada e quero ver minhas filhas ainda hoje.

Soraya não se deu por vencida e disse:

-Prometo que é coisa rápida. Eu só preciso compartilhar isso com alguém. 

-Seu marido não sabe que você tem esse projeto?

-Não. Se ele soubesse, iria me chamar de irresponsável. Quando já estiver dando certo, eu falo tudo pra ele. 

-Isso não é considerado mentir?

-Quer ir ver a obra ou não, senhora prefeita?

-Tá bom. Eu vou. Mas eu tenho que chegar em casa logo. Vamos.

Eu estava de carro, então pedi pra ela me esperar no estacionamento enquanto eu guardava e fechava as coisas.

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(Soraya)

Eu ainda estava incrédula com o fato da prefeita da cidade ter ido conversar comigo casualmente na loja outro dia. Parecia uma mulher tão nova, tão ingênua sobre a vida. Tudo causava espanto nela. 

Eu não nego que ela tinha seu charme. Mesmo parecendo inocente, havia uma sensualidade nos olhos. Sua voz delicada e firme não passava despercebida numa sala. Ela era séria, mas se deixava vencer quando eu insistia, o que demonstrava o coração mole que tinha. Ela era forte, mas era sensível. Isso me intrigava muito.

-Pronta pra ir? -Chega Simone com a bolsa numa mão e a chave na outra.

-Sim, claro. -Respondi ao ter meus pensamentos interrompidos.

O caminho era curto, pois a prefeitura ficava muito perto da loja, mas ela decidiu ir de carro, talvez porque fosse resolver algo depois. Apesar de ter expressado que estava com pressa, ela não parecia apressada. Fazia tudo com uma graciosidade típica de uma Helena de Manoel Carlos. Como eu não descobri que ela era política antes?

A dona do barOnde histórias criam vida. Descubra agora