Haviam se passado vários dias desde o encontro inesperado no Lupin's Bar. Desde aquela noite, várias coisas haviam ocorrido; Sigma levou uma bronca de seu superior, sendo ameaçado de demissão, mas perdoado logo em seguida após se ajoelhar em frente a seus superiores.
— Quem você acha que é para simplesmente abandonar tudo depois de uma coisa estúpida como aquela?! — Pergunta seu superior, com uma voz estridente enquanto arremessada os documentos pelo escritório.
— Me desculpe senhor, eu apenas... Não sei o que aconteceu comigo ontem. — Ele se desculpou encarando o chão e segurando a vontade de não explodir na frente do mais velho.
— Se ajoelhe. — Manda o mais velho, soltando um longo suspiro enquanto esfregava sua testa.
— O quê? — Questiona nervoso com tais palavras.
— Eu disse para você se ajoelhar se não quiser ser demitido! — O superior repete com a voz elevada.
Sigma o encarou sem reação. Sem a menor coragem retrucar e com medo de perder seu emprego, ele aceitou e obedeceu a ordem, respirando fundo ao se ajoelhar lentamente em frente a escrivaninha do mais velho. Ao ver o sorriso convencido no rosto dele, o bicolor não pôde impedir de sentir um incômodo invadir seu corpo, deixando-o constrangido com a situação.
Desde então, Sigma continuou em seu trabalho, contentando-se em continuar com a sua vida de sempre.
Por outro lado, Nikolai passou a semana realizando exames médicos, trabalhando somente à noite. Assim, pelo menos, tinha a manhã e tarde livres. Em meio ao caminho de uma de suas consultas, duas noites após o encontro no bar, ele acabou se esbarrando com Fyodor, batendo contra o moreno enquanto andava de cabeça baixa.
— Prestes atenção por onde andar, Nikolai! — Fala o padre, o dando um sorriso confiante enquanto segurava a cintura do albino.
Enquanto Fyodor o segurava para se manter em pé, Gogol sentiu suas bochechas queimarem, logo se soltando da pegada do outro, que após o albino se afastar, limpou suas mãos contra suas roupas.
— O que faz aqui a essa hora? Pensei que trabalhasse de tarde! — Pergunto o moreno de forma curiosa.
— Preciso ir para o médico. Desde que eu desmaiei na rua, meus superiores começaram a pagar exames para verificar minha saúde. Eu pensei que era por consideração, mas eles estão fazendo isso apenas para não me pagarem uma multa por falta de responsabilidade trabalhista. — Responde o albino, respirando fundo enquanto coçava sua cabeça.
— Bom, espero que você fique melhor. Apareça na igreja qualquer dia, eu estarei disponível para te acompanhar. — Termina Dostoyevsky, afastando-se de Nikolai e, enfim, seguindo seu caminho.
Ao contrário dos outros rapazes que estavam com suas vidas complicadas, Fyodor permanecia bem seguindo sua vida na igreja e no convento. Uma vida invejável para quaisquer pessoas!
Após essa semana desastrosa, durante a manhã de um sábado, Nikolai e Sigma se encontraram em frente a igreja onde o russo servia.
— Não esperava te encontrar aqui! — Sigma sorri ao ver a figura de Gogol ali.
— Digo o mesmo! Pensei que não gostasse dessa igreja. — Responde o albino surpreso.
— Não gosto, mas tem algo em Fyodor que me deixa curioso; ele não parece ser sincero com si mesmo...
Com as últimas palavras de Sigma, Nikolai acenou a cabeça e logo acompanhou o bicolor para dentro do local, onde se depararam com Dostoyevsky atrás do púlpito, rezando com seu crucifixo em mãos. Sem querer atrapalhar ele, os dois aguardaram que o russo terminasse sua reza, e, assim que finalizou, o moreno foi dar atenção a seus convidados.
— Não esperava ver vocês aqui tão cedo, o que os traz aqui? — Pergunta Fyodor contente ao encontrar eles juntos em sua igreja.
— Nós viemos ver o local, de vez em quando é bom rezar e agradecer pelas coisas boas em nossas vidas. — Disse Nikolai calmamente.
— Mesmo que não tenhamos muitas coisas boas... — Retruca o bicolor, soltando uma falsa tossida após ver Fyodor revirar suas olhos.
— Vocês tem algum pecado do qual precisam confessar? — Pergunta o padre enquanto apontava para o confessionário de madeira no fundo da igreja.
Sigma estava prestes a recusar, mas se surpreendeu ao ver Gogol levantar sua mão, aceitando a proposta sem ao menos pensar duas vezes.
— Eu tenho algo a confessar... Algo que possa parecer um pouco sério demais para você. — Responde Nikolai com a feição tímida, vendo o russo confuso e curioso.
Sem falar nada, Fyodor o ofereceu um terço e caminhou até o pequeno estande, vendo ele o seguir enquanto Sigma permaneceu em pé no mesmo lugar. Entrando no confessionário, Dostoyevsky permaneceu em silêncio, esperando que o outro começasse a falar.
— Recentemente eu tenho pesquisado sobre alguns assuntos na internet... Assuntos pessoais, assuntos adultos! — Nikolai explica pausadamente com um tom de voz baixo. — Desde então, eu venho me perguntando: é considerado pecado... é pecado se masturbar enquanto pensa em um padre, se masturbar enquanto pensa sobre fetiches religiosos?
Sem saber como reagir, Fyodor saiu do confessionário e abriu a porta para que Gogol pudesse sair.
— Não posso responder a essa confissão, fingir eu que não ouvi esse questionamento. — Responde ele seriamente, olhando-o de forma fria.
Respirando fundo, o russo se afastou de Nikolai e voltou sua atenção para Sigma, que, confuso, intercalava seu olhar entre ambos os homens.
— Vocês querem ir ao meu escritório? Eu tenho bons vinhos nos aguardando lá, hoje eu não preciso necessariamente trabalhar na igreja, tenho meu dia livre. — Fyodor esboça um sorriso pequeno enquanto jogava seus cabelos para trás.
Sem conseguir tirar seus olhos do moreno, os dois o encaravam de cima a baixo, suspirando enquanto lutavam contra a tentação de atacar o russo. "Isso é muita crueldade, por que um homem tão bonito assim tem que ter ideias tão erradas?", pensavam eles, desviando seus olhares do padre.
— Me acompanhem, meu escritório é particular e podemos conversar e beber tranquilamente nós três. — Dostoyevsky sorri enquanto liderava o caminho até o convento, que era onde se encontrava sua sala.
Seguindo o moreno, em silêncio, Nikolai e Sigma se lamentavam por perderem uma oportunidade tão única de ficarem e finalmente ter um caso com o russo juntos em seu escritório. Ao chegar ao local, eles se sentaram no pequeno sofá de dois lugares que havia no escritório enquanto Fyodor vasculhava sua cristaleira, pegando um vinho de 1950 e três taças francesas para que pudessem beber juntos.
— Vocês estão muito quietos, podem conversar. A partir de agora não sou mais um padre, apenas uma pessoa normal. — Diz Fyodor calmamente ao se sentar na poltrona ao lado deles.
— Bom, sobre o que conversaram no confessionário? Sinto muito se for algo particular. — Pergunta Sigma curioso.
— Não se preocupe. Eu tenho uma mania de pesquisar sobre fetiches e parafilias e recentemente tive sonhos eróticos com coisas envolvendo um fetiche que tomei conhecimento recentemente. — Nikolai responde sem graça, pegando sua taça de vinho já cheia.
— Uhm, isso é interessante, nunca pensei sobre fetiches. Fiquei curioso sobre meus gosto agora. — Sigma comenta pensativo antes de dar um gole da bebida. — E você Fyodor, já pensou sobre isso?
— Um padre não poderia ter pensamentos assim, seria impróprio. — Nikolai fala soltando um baixo riso.
— Pelo contrário, eu ainda sou uma pessoa e tenho minhas necessidades. Eu gosto de estar no comando, me sinto confortável sabendo que não tem ninguém acima de mim. — Fyodor diz com um tom de voz confiante.
Surpreso, Sigma engoliu seco, já o albino desvia seu olhar sem reação pela confissão do russo.
A tarde se passou rapidamente. Conversa vai, conversa vem, o trio estava mais próximo do que nunca, poderiam dizer ser problemas que já não eram mais desconhecidos, e sim amigos. Assim, já no meio da noite, despedindo-se, cada um seguiu seus caminhos de volta para casa. Gogol e Sigma ainda estavam desnorteados pelos acontecimentos inesperados e atitudes de Fyodor, que ao menos pensava sobre a impressão que havia passado para ambos os homens.
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Três mentes incuráveis
RomanceNeste conto, três trabalhadores públicos destinados ao fracasso da vida monótona e cansativa da cidade grande acabam se conhecendo em um encontro inesperado no famoso e histórico "Lupin Bar" na quieta província de Ginza. Juntos eles acabam descobrin...