002 | Boate nojenta

111 24 7
                                    

Sabina Hidalgo

A luz forte do bar incomodava meus olhos, me fazendo piscar algumas vezes para tentar me acostumar com a sensação de estar nessa boate nojenta, cheia de pessoas nojentas. Entrei para dentro do balcão, observando tudo com atenção para ver se não tinha nada fora do lugar, e arrumei meu jaleco no corpo. O tecido preto com a logo da boate, se encaixou perfeitamente em mim, enquanto eu observava os outros garçons voltando para perto segurando suas bandejas.

—Mesa seis, Hidalgo. — Andrew falou assim que passou por mim, e eu apenas assenti com a cabeça antes de respirar fundo.

Peguei meu caderninho e a caneta para poder maraca os pedidos, e dei a volta no balcão para sair dali de dentro. Caminhei devagar entre as mesas, e pessoas que dançavam e se divertiam. Parei em frente a mesa seis, onde vários homens estavam sentados. O cheiro masculino entra em minhas narinas, e eu forço o meu melhor sorriso amigável para os olhares podres que me lançaram.

—Cabelo daora. — Um dos imbecís que estava sentado de pernas cruzadas lançou um sorriso para mim, um sorriso que fez eu me arrepiar pela grande vontade de vomitar.

—O que vão querer?

Eles fizeram o pedido e quando eu terminei de anotar tudo, dei as costas e sai andando. Não que eu já não estivesse acostumada a receber tanto homens aqui, mais era incrível como o desconforto de estar perto deles parecia crescer todos os dias dentro de mim.

Arranquei a folha do caderno que eu tinha anotado os pedidos e, entreguei para Bryan que pegou da minha mão lendo, e logo começou a preparar as bebidas. Eu me sentei no banquinho atrás do balcão, e apoiei minha cabeça em meu braço para poder descansar um pouco enquanto observava tudo em minha volta. A boate hoje não estava tão movimentada, como de costume. Podia enxergar a entrada que também não estava tão cheia, o que me deu a visão de Any entrando no local sozinha. Não contive o suspiro pesado, e frustado que escapou da minha boca por ela me ver aqui. Mais que se foda! Não estou aqui porque quero, e sim para ganhar a porcaria do meu salário.

Any parou em minha frente apoiando suas mãos sobre o balcão, e só então eu pude olhá-lá, e observar ela melhor. Seu cabelo estava preso em um coque deixando as tatuagens do seu pescoço a mostrar, o que me fez perder o ar por alguns segundos. Ela estava sexy pra caralho. Sem dar a menor importância para mim, Any tirou uma carteira de cigarro do bolso da sua jaqueta, puxando um e colocando em seus lábios. O fogo do isqueiro o acendeu, e eu a observei tragar a fumaça calmamente.

—Any: Gosta do que vê? —Ela murmurou, e pela primeira vez seus olhos castanhos me encararam. —Ou, vai me dizer que não posso fumar aqui?

—Na verdade, não. — Falei de forma simples, e peguei o cigarro de sua mão.

Coloquei entre meus dedos e dei uma tragada longa, enquanto sentia os olhos de Any Gabrielly me analisarem com cuidado. Soltei a fumaça em sua direção, e dei um pequeno sorriso sínico. Sinto o gosto do cigarro percorrer toda minha boca, e o puxo outra vez antes de jogá-lo no lixo. Ainda com o sorriso falso em meus lábios, peguei o bloquinho de notas junto com a caneta, e a olhei.

—O que a senhorita vai querer?

—Any: Meu cigarro. — Ela falou calma e por mais estanho que aquilo parecesse, sua voz soou gentil.

—Desculpe, não vendemos.

Seus dedos tatuados batucaram na madeira do balcão, e em momento algum ela desviou seus olhos dos meus.

—Any: Então de seu jeito, foguinho. — Ela falou enquanto seus olhos fitavam meu cabelo vermelho.

—Não me chame assim.

—Any: Eu chamo você como eu quiser, foguinho.

Revirei os olhos irritada, e coloquei a mão no bolso da minha calça jeans, tirando um maço de cigarro. Estiquei em sua direção a oferecendo, fazendo suas sobrancelhas se erguerem surpresas com minha atitude.

—O que a senhorita vai querer beber? — Repito tentando esconder o sarcasmo por trás das minhas palavras.

—Any: Qualquer porcaria que tenha morango. — Suas costas bateram contra o encosto da cadeira, o que fez seus ombros relaxarem em baixo da sua jaqueta de couro preta, e uma blusa da mesma cor.

Me viro com pressa pra parar de olhá-la tanto. A corrente de prata em volta do seu pescoço brilha quando a pouca luz do lugar batia nela, parecia que o universo conspirava para deixar ela ainda mais atraente todos os dias. Eu não sou nenhuma vadia jogada aos seus pés, mais não posso ser tão hipocrita a ponto de negar sua beleza extraordinária todas as vezes que eu a observo.

Me estiquei um pouco, e peguei a garrafa de uma das bebidas da prateleira, pondo o líquido em um copo que já estava com o morango amassado dentro. Empurrei o copo em sua direção, seus dedos passaram pela madeira do balcão para assim então agarrar o copo.

—Mesa onze. — Andrew falou assim que passou por mim com sua bandeja cheia, com os pedidos.

Peguei o bloco de onde Any estava sentada, não se encontram mais nos meus como antes. Eu recolho a caneta, e então saiu de trás do balcão tentando caminhar sem esbarra nas pessoas que estavam dançando, até chegar na mesa onze que estava totalmente afastada das outras. Tinha um homem, e uma mulher sentados o que me fez respirar aliviada por saber não era centenas de homens idiotas, que não perderiam tempo de jogar piadinha sujas, e sem graças na minha direção. Parei  em frente ao casal, e a moça me encarou.

—Oi, querida. Vamos querer uma garrafa do seu melhor uísque.

E foi assim que minha noite passou, durante horas e horas cansativas. Aos decorrer dos minutos o lugar foi enchendo, e se tornando cada vez mais torturante de ficar ali dentro. Os garçons já não aguentavam mais, aquele era o turno mais pesado e, difícil de suportar, era um saco precisar ficar aqui para não morrer de fome.

______________________

In love with darkness - SabianyOnde histórias criam vida. Descubra agora