004 | Louca pra caralho

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Sabina Hidalgo

A vida te ensina a lutar quando você é fraca, e eu era fraca. Desde sempre deixei que as pessoas me humilhassem, me diminuíssem, deixei as pessoas próximas de mim me espancarem, enquanto eu esperava como uma idiota ser amada por eles algum dia.

Negar o inevitável sempre foi difícil, eu me achava durona mais eu não sabia de porra nenhuma, eu me achava forte quando na verdade eu era uma fraca. Eu era apenas uma garotinha indefesa, e frágil, e ainda sou, me escondendo por trás de uma jaqueta de couro preta e cabelos vermelhos, que me fazem parecer uma pessoa mais confiante, o suficiente para tentar manter pessoas com intenções ruins longe de mim. Eu consegui me livrar das situações embaraçosas e ridículas que me cercavam no passado, mais durante esse tempo eu colecionei várias cicatrizes, e a pior delas foi o trauma.

Não existe nada pior, que doa mais do que o trauma. Eu passei por tantas coisas que me machucaram, e eu achou que nunca vou conseguir esquecer nenhuma delas. O passado, as lembranças de quando eu era pequena me atormentam, e quanto mais eu tentava mantê-las longe mais elas se aproximavam me fazendo viver tudo outra vez.

Esse era um dos motivos pelo qual eu sentia tanto nojo toda vez que eu entrava nesse apartamento, e me deparava com a mulher que eu chamava de mãe, deitada sobre o sofá sujando o tecido com a sua sujeira.

—Pensei que você já tivesse morrido. — Minha voz sai fria, assim como meu semblante carregado de ódio enquanto a observava.

—Ale: Você deveria me respeitar.

Acabei rindo do que ela disse, uma risada irônica, sombria, e dolorosa, uma merda de risada sem graça alguma no tom. Parecia brincadeira ouvir aquilo dela. Ela jamais mudaria o modo de ser uma vadia que só pensa nela mesma, ela sempre seria quem ela sempre foi.

—Você nunca teve respeito por mim, então me certifiquei de perder o pouco que restava dele em mim por você, mamãe. — Demorei um pouco para conseguir chamá-la assim, era como se minha boca ficasse suja toda vez que eu me referia a ela.

—Ale: Eu te gerei garota, então não venha com essas merdas de insultos.

Revirei os olhos ignorando completamente as porcarias de suas palavras, já que elas eram insignificantes para mim. Dei de ombros, e segui até meu quarto antes de fechar a porta. Me joguei sobre a minha cama, e suspirei cansada antes de fechar os olhos para poder aproveitar os poucos minutos que me restavam antes de precisar ir trabalhar.

Meus pensamentos voaram para longe, e de repente eu me peguei pensando em Any, a garota problema da escola. Ela parecia um enigma que eu adoraria desvendar, uma charada que eu iria gostar muito de adivinhar. Talvez ela seja quebrada o suficiente para que meus olhos se percam por ela toda vez que nos esbarramos, ela parecia tão diferente, mais ao mesmo tempo tão parecida comigo. Algo parecia me atrair até ela como um ímã, mais eu evitava ao máximo me aproximar, não queria ultrapassar uma distância que parecia segurar para mim. Eu já tenho problemas demais, não quero acrescentar mais um na minha lista inacabável.

...

Entrego a bebida para a mesa em meio a toda aquela confusão de pessoas dançando, e voltou para o balcão tentando me esquivar de qualquer contato físico com outra pessoa.

Nada aqui me deixava feliz, esse cheiro de corpo suado, bebidas, e cigarros me faziam ficar tonta de tanto inalar o ar desse lugar. Eu podia sentir os fios do meu cabelo grudar na minha testa por causa do calor, isso aqui era o próprio inferno. Quando olhei para entrada, logo reconheci a cacheada que estava adentrando o lugar. Any estava usando um vestido preto e curto, junto com sua jaqueta, e um sorriso lindo em seu rosto. A confiança dela me dava inveja.

Ela se aproximou do balcão, e logo uma das garçonetes foi atende-lá com uma sorriso cheio de segundas intenções. Provavelmente, mais uma de suas cadelas.

Desviei o olhar enquanto negava com a cabeça, e suspirei antes de ir atender uma das mesas onde uma garota loira tatuada se entupia de bebida. E pelo estado que estava, dava para ver que ela tinha passado dos limites.

—Caralho, você é uma gata. — Sua voz saiu abafada pela música exageradamente alta que tocava. Mais eu acabei rindo dela, estava achando a situação engraçada.

—E você está louca demais. — Murmuro enquanto coloco a garrafa de bebida na mesa que ela estava sozinha. Observei ela por alguns longos segundos, olhando bem as tatuagens de seu pescoço. —Tatuagens maneiras.

—Sabe, eu fiz elas em uma noite que eu estava bêbada para caralho. — Ela riu. —Pelo menos não doeu tanto.

Eu não costumo ter muitas amigas por me acharem meio grossa, e arrogante. Mais a garota loira me divertia, e pela primeira vez em muito tempo tive vontade de sentar com ela e conversar por horas. Ela parecia em outro mundo, e eu queria estar nele também.

—Você está louca pra caralho, como vai embora?

—Vou embora com a idiota da minha irmã, ela insiste em me perseguir por onde quer que eu vá. Proteção de merda. — Ela revirou os olhos, ela parecia cansada e entediada.

—Proteção para você não ser estuprada por um desses imbecis, Joalin.

Me viro assim que escuto aquela voz familiar resmungar atrás de mim. Any Gabrielly estava parada logo atrás de mim, segurando um copo cheio com a sua bebida favorita de morango. Minhas sobrancelhas se juntaram enquanto eu analisava ela, e a garota loira das tatuagens maneiras, elas não se pareciam nem um pouco.

—Me passa seu número? — Joalin sorriu antes de jogar seu celular em minha direção, me fazendo pega-lo no ar.

Coloquei meu numero, e depois devolvi para ela que ainda me encarava com aquela cara de doida bêbada. Ela piscou para mim, antes de tomar o resto da bebida que estava em seu copo, e se levantar para ficar ao lado de Any. Sorri para ela, e então me virei para poder voltar outra vez para o balcão.

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⏰ Última atualização: Jun 10 ⏰

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In love with darkness - SabianyOnde histórias criam vida. Descubra agora