Sabina Hidalgo
Eu costumava ser mais animada do que antes, o que me fazia sentir meu peito doer com a lembrança que ainda insistem em ficar na minha cabeça, como um chiclete grudado em baixo da mesa. Aconteceram tantas coisas, eu passei por várias porras e tive que fingir ser uma boa garota.
Estava sentada observando o campo da escola, as garotas pulando em cima de Any Gabrielly e seu grupinho de cachorros mandados por ela. Era uma cena patética. Não sei se os cercam para puxar seus sacos, para não acabarem sendo seus alvos, ou se realmente gostam de pessoas egocêntricas, ignorastes, e tóxicas.
Any está logo a frente, com uma cara de poucos amigos, e os braços cruzados. Seus cachos estavam perfeitamente definidos, seus olhos castanhos escuros e distantes dali, eu detestava achá-la linda, uma grande babaca linda. Ela ajeitou seu cabelo com suas mãos tatuadas, e suspirou enquanto ouvia aquela gritaria em sua volta. Any parecia não gostar nada daquela atenção toda, mesmo que sempre daquela forma confiante, e inabalável, com a cabeça erguida. Em toda a minha vida, jamais vi alguém ser tão segura de si como ela.
Atrás dela está Josh Beauchamp, Noah Urrea, e Sina Dinert.
Esse quatro formam o grupinho mais conhecido da escola, o que é ridículo, já que não estamos em algum filme de colegial. Pelos boatos que já pude ouvir, eles já passaram dos limites várias vezes, o que provocou a morte de algumas pessoas ao logo dos anos que eles estudam aqui. Claramente o motivo de todos sentirem medo deles.
Quando entrei na escola, me encantei por todos eles. Porque apesar de idiotas, a beleza do quarteto fantástico era algo que não dava para ignorar. Eu sempre vivi nas sombras, nunca tive a atenção deles, e nem a de ninguém nesse lugar, o que eu agradeço muito. Não queria ter que ser alvo de piadinha e provocações, mesmo que eu seja forte o suficiente para enfrentar qualquer um, mesmo que eu acabe apanhando no final.
Soltei a fumaça do cigarro pela boca, e puxei toda de volta para dentro do meu corpo pelo nariz. Aqui onde eu estava, era ótimo para fumar sem que alguém me visse e fosse correndo contar qualquer merda para o direito. Um velho ranzinza, que não perde oportunidade de foder com a vida dos alunos. Um merda.
Joguei o resto do meu cigarro no chão, e peguei impulso para me levantar. Passei a mão na bunda para tirar as folhas que ficaram grudadas, e peguei minha mochila antes de joga-lá sobre meu ombro. Respirei fundo, e ajeitei o cabelo enquanto andava pela grande gramado, vendo Any e os outros três agora em uma roda conversando com alguns caras do time de futebol.
Passei reto por eles evitando qualquer contato visual, ou o que fosse, apenas caminhei com pressa para poder chegar em casa logo. Eu trabalho em um bar de noite para pagar a mensalidade da escola, e as despesas de casas, já que minha mãe não faz o mínimo nem por mim, e nem por ela. A única coisa que ela sabe fazer, é gastar todo dinheiro em bebidas, e drogas.
Assim que cheguei na portaria, apertei o botão do elevador esperando que ele não demorasse muito. Eu só queria deitar na minha cama, e dormir por algumas horas antes de ter que ir trabalhar. Quando abri a porta, agradeci mentalmente por não ter ninguém em casa, e fui direto para o meu quarto. Me joguei entre os lençóis gelados, e fechei os olhos quando minha cabeça se aconchegou ainda mais no meu travesseiro. Dormir, era com certeza a coisa mais incrível no mundo
...
"O que vocês querem para o futuro?"
A voz do professor se repetia várias e várias vezes na minha cabeça, me torturando como a porra de uma faca prestes a cortar meu pulso. Essa era a merda de uma pergunta, que eu me fazia todos os dias e nunca achava uma resposta.
Que faculdade eu faria quando a escola acabasse?
Onde eu iria morar?
Quem eu vou ser?
Tudo isso vagava pela minha mente, e pareciam socos sendo depositados com força na minha barriga. Toda essa porcaria, torturava mais do que uma daquelas surra que aguentava quando era uma criança. Eu ainda sou nova demais para pensar nisso.
Era o que eu tentava me convencer.
Mais a verdade é que, eu estava velha demais para não ter algo em mente. O futuro é uma merda, eu odeio não saber o que vai a acontecer. Era uma merda as pessoas terem que pensar, escolher algo para fazer, quando na verdade você só queria correr e se distanciar do mundo, viver em um lugar onde só você existia.
Meus pensamentos me cercaram cada vez mais, me fazendo não ver os minutos se passarem rapidamente, e o fim da aula chegar. Meu olhar percorreu as cadeiras agora quase vazias, me fazendo arregalar um pouco os olhos, pega os caderno que use, e sai dali com um pouco de pressa.
Hoje estava frio, eu podia sentir cada músculo do meu corpo congelar, mesmo que eu estivesse usando um casaco quente.
Eu caminho lentamente agora até os armários, e guardo meus cadernos e notebook, antes de fechar a porta de metal com força tendo a visão de Any e seus amigos andando pelo corredor. Ela estava como sempre, postura séria, os cachos bem arrumados que a deixavam ainda mais linda. Normalmente eu a observo por alguns segundos sem dar a mínima importância para os seus amigos. Não quero parecer uma cadela, como suas cachorrinhas que sempre abanavam o rabo quando eles estavam por perto.
Prendi meu cabelo vermelho em um coque mal feito, e ajeitei o casaco sobre meu cabelo para tentar diminuir um pouco o frio. Me virei de costas para eles, para poder andar até o refeitório e pegar o lanche. Sinto um corpo se esbarrar contra o meu, e na mesma hora meus olhos se encontraram com os de Alison. Respirei fundo, e desviei meu olhar já esperando pela porra do seu surtinho de garota mimada.
—Alisson: Você deveria prestar mais atenção por onde anda. — Sua voz saiu ríspida, e carregada de raiva.
—Quem esbarrou em mim foi você, então quem precisa prestar mais atenção é você e não eu.
—Alisson: Se eu contar para o diretor, aposto que ele vai concordar comigo. — O seu sorriso irônico me fez apertar os punhos com raiva, e me segurando para que não me descontrole, e soque a cara dela para arrancar esse sorrisinho de merda.
—Você ser a preferida do diretor, não me impede de arrancar seu cabelo com as mãos, e desconfigurar esse seu rostinho de dragão. Eu seria a aluna expulsa, mais feliz que essa escola já viu. — Dei alguns passos em sua direção, deixando meu rosto próximo ao seu. Um sorriso convencido toma conta dos meus lábios, quando percebo que seu corpo ficou tenso com minha a proximidade. —Você fede a medo. — Murmurei só para ela ouvir. —Agora sai da minha frente.
Nesse momento, alguns alunos do corredor pararam em volta para ver o showzinho que Alison insiste em fazer com frequência. Suspirei quando o silêncio tomou conta do lugar, e ela não se mexeu para que eu pudesse passar, então apenas passei por aquele insuportável esbarrando em seu ombro de propósito e com toda a força que eu tinha, fazendo ela quase cair.
Assim que adentrei o refeitório repleto de mesas, observo que não tinha tantos alunos como de costume, e levanto uma sobrancelha em dúvida. Vou até a fila para poder pegar o lanche, mais acabou prestando mais atenção na conversa das tias da cozinha, do que na comida que eu deveria escolher.
—Esses adolescentes de hoje em dia, arrumam motivo para brigar toda hora. — Uma delas comentou enquanto colocava uma maçã na minha bandeja.
—Você sabe como Any é, ela é impulsiva e sempre está no meio das confusões.
Any.
Tinha que ser ela, sempre que há alguma briga ou discussão seria nessa escola, pode apostar que ela estará completamente envolvida. Eu não fiquei nada surpresa em saber que ela estava estava envolvida em problemas outra vez.
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In love with darkness - Sabiany
Fiksi PenggemarEla me salvou. Ela esteve lá por anos, à espreitar,observando minha vida de perto, ela me queria, e adivinha? Agora ela me tem.