Prólogo

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Para Luna aquele dia era um dia normal como qualquer outro. Ela acordou às oito da manhã e foi assistir desenhos animados na televisão enquanto sua mamãe preparava o café da manhã. Luna era uma garotinha curiosa,cujos cabelos lembravam as folhas secas do outono,alaranjados e chamativos,como sua mamãe sempre dizia. Seu pai ela nunca chegou a conhecer,nem sabia o significado da palavra pai. Para ela pai poderia ser qualquer coisa,desde uma cadeira a um cortador de pizza.
Desde sempre ela e sua mãe moram em uma casa pequena de apenas um quarto,a casa número 66 de um bairro simples em Londres.
Apesar de ter apenas cinco anos,Luna sabe que as condições em que ela e sua mãe vivem não são as melhores. Sua mãe trabalha seis dias por semana como atendente em um restaurante xexelento das duas horas da tarde até as oito da noite,e quando chega em casa,seu cabelo e suas roupas cheiram a óleo e produtos de limpeza.
Luna passa a maior parte do tempo com sua babá, Anastácia. Acha ela super legal,principalmente quando as duas brincam com fantoches feitos com meias velhas. Mas nada se compara a sua mãe,a mãe mais legal do mundo. Sempre que pode,ela leva Luna ao zoológico para ver as raposas,seu animal favorito devido ao fato de ter a cor do pelo no mesmo tom alaranjado do cabelo de Luna. Luna gosta de pensar que são parentes.

Tinha começado um comercial na televisão e Luna estava estranhando o silêncio que emanava da cozinha. Normalmente a essa hora ela conseguia escutar sua mãe batendo nas panelas,tilintando as colheres. Conseguia sentir o cheiro do café se espalhando pela casa,o cheiro dos waffles de todas as segundas-feiras. Mas hoje tudo estava em silêncio.
Seu estômago roncou,então ela decidiu ir para a cozinha para dar uma ajuda a mãe e para apressá-la também.
Ela abriu a porta que dava para a cozinha,olhou e não viu sinal da sua mãe. Decidiu procurá-la,com certeza ela estava brincando de esconde-esconde e Luna devia achá-la para ganhar uma recompensa,ou seja,mais calda nos waffles.
Revirou a cozinha inteira e não achou nada,e assim foi para a sala de estar.
Olhou para o sofá e viu sua mamãe,ela estava deitada num ângulo estranho e não escutou a Luna chegando. Luna achou aquilo maravilhoso,pois assim podia lhe dar um baita susto. Andou na ponta dos pés até o sofá,se agachou atrás deste,engatinhando até achar um lugar melhor para o susto perfeito. Encontrou o lugar e esperou. Um...dois...três...
Pulou na frente do sofá -Buuh! -Mas sua mãe não se mexeu. Ora,mas que estranho,pensou Luna. Vou cutucá-la.
Chegou bem pertinho da mãe,ela estava tão silenciosa... Luna cutucou o seu rosto e percebeu algo que a deixou assustada. Sua mãe estava tão fria quanto as noites mais geladas de Londres.
Uma vez sua babá Anastácia levou um livro estranho para as duas lerem,o combinado seria de Luna abrir uma página aleatória e assim Anastácia a leria. Era um livro sobre curiosidades para crianças e a página aberta falava sobre os seres humanos. Luna lembra como se fosse ontem do medo que sentiu ao ouvir Anastácia ler aquelas palavras que para ela não faziam significado algum. Ela leu alguma coisa sobre quando as pessoas morrem,que elas param de respirar,ficam geladas e seus corações param de bater.Lembra também que naquela noite ela não dormiu.
Luna colocou a mão embaixo do nariz da mãe,com o intuito de sentir sua respiração quente em sua mão. Não havia respiração. Tocou sua pele,novamente fria como as noites mais geladas de Londres. Por fim colocou o ouvido no peito de sua mãe e parou para escutar. Não havia som algum...

Luna,a incapaz.Onde histórias criam vida. Descubra agora