Uma grande perda

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Luna estava em um lugar estranho,um lugar assustador. Ninguém falava com ela,se sentia invisível. Começou a lembrar da mãe,sentiu saudades e vontade de chorar.Sentia falta da Anastácia também,não fazia ideia de onde ela estava agora.
Semana passada fora uma semana difícil,sua mãe havia morrido por motivos inexplicáveis e Luna não conseguia entender. Ficou cinco horas seguidas sentada ao lado do corpo inerte da mãe,acreditando que a qualquer hora ela iria acordar. Pegou um cobertor e cobriu a mãe e a si mesma. Ligou a televisão para esperar Anastácia chegar.
Às duas horas em ponto a campainha tocou,e Luna saiu correndo para atender a porta.
-Anne,tem algo muito estranho acontecendo com a mamãe... -E saiu puxando Anne pela manga da blusa,até chegarem na sala e parar. -Olha Anne,ela não se mexe! -E começou a chorar -Ajuda a mamãe,Anne...
Anastácia olhou e percebeu com horror o que tinha acontecido. Pegou Luna no colo e a levou para a cozinha. -Não saia dai Lulu,a Anne vai resolver umas coisinhas.
Anastácia estava desesperada,e começou a chorar também,lutando para esconder de Luna. Não poderia demonstrar fraqueza diante da garotinha.
Ligou para a ambulância,contou o que tinha acontecido. Prometeram chegar lá em vinte minutos.
Anne estava assustada,ontem mesmo tinha conversado naquele sofá com a Srta. Grace,e ela estava bem. Estava cansada por conta do trabalho pesado,mas continuava radiante e jovial. Uma mulher maravilhosa. Como aquilo havia acontecido?
Foi para a cozinha,tentar explicar tudo para a pequena Luna. -Lulu?
Ela estava encolhida em baixo da mesa,uma almofadinha gorda e alaranjada. -O que aconteceu com a mamãe,Anne? -Disse ela com voz suave. -Ela já acordou?
Aquelas palavras partiram o coração de Anastácia,ela não suportou e as lágrimas rolaram descontroladas por sua face. -Oh Luna,sua mamãe... -Se abaixou,pegando Luna e sentando-a em seu colo. -Sua mamãe não está mais entre nós Lulu.
-Como assim? -Perguntou,curiosa como sempre.
-Como eu posso explicar... Bom,sua mãe foi morar em outro lugar,um lugar melhor.
-Mas por que? Ela não queria morar mais comigo?
-Não é isso querida,sua mãe te amava. E ela não foi embora por completo. O espírito dela sempre cuidará de você,ela irá morar em seu coração para sempre. -Pobre criança...
Luna ficou a pensar no assunto,e isso pareceu confortá-la um pouco. Anne continuava temerosa. Quem iria cuidar de Luna agora? Ela não sabe em que lugar do planeta o seu pai se encontrava,não sabe se Luna tem parentes com quem possa contar,e a única solução era... Estava resolvido,Anastácia iria adota-la.
Vinte e cinco minutos mais tarde a ambulância havia chegado. Perguntaram o que tinha ocorrido e Anastácia contou tudo para eles novamente da mesma forma que Luna a havia contado. Eles pegaram o corpo da senhorita Grace e o levaram. Quando a ambulância partiu,Luna soltou-se do aperto da mão de Anne,saiu correndo atrás do veículo barulhento,tentando alcançá-lo. Aquela era sua última chance de acordar sua mamãe,e não podia perder a oportunidade. Correu com suas perninhas curtas como nunca havia corrido na vida,mas já era tarde,a ambulância estava muito à sua frente,e as esperanças e força de Luna tinham se esvaído.
O enterro aconteceu em um dia chuvoso,três dias depois da morte da mãe. Durante esses três dias Luna ficou na casa de Anne,desolada,triste pelos cantos. E agora estava ali,naquele cemitério com pessoas que nunca tinha visto,com exceção de Anne. A chuva estava forte e todos usavam preto,acompanhados por guarda-chuvas enormes. Quando o grande caixão foi colocado num buraco e coberto por terra,Luna se aproximou,tentado sentir a presença da mãe pela última vez. Chorou e ficou a se perguntar com quem moraria a partir daquele momento.
Agora Luna se encontrava num "orfanato"como Anne havia chamado o lugar sinistro onde estava. Não conhecia ninguém e tinha medo de sair do seu quarto. Escutava barulhos pelos corredores todas as noites antes de dormir e sua janela rangia,como se uma mão invisível a arranhasse o tempo todo. Luna sentia frio,o lugar todo era um desastre.
Sua colega de quarto era Lúcia,uma menina magricela de cabelos pretos e olhos sonolentos um ano mais velha que ela. Quando viu Luna pela primeira vez ficou encantada com a cor de seus cabelos e perguntou se poderiam ser amigas. Lúcia era descendente de italianos,Luna descobriu mais tarde.
Lucia mostrou todo o lugar para Luna,era um lugar enorme,estilo vitoriano. Parecia um cenário de filme de terror.
Aos poucos o sofrimento de Luna foi se dissipando. Ela nunca se esqueceu da mãe,ou da promessa que Anne tinha feito a ela. Mas a dor que antes era intensa,agora foi enfraquecendo.
Apesar de Luna estar sozinha no mundo,ela não estava triste. Pelo contrário,ela se sentia confiante. Sabia que poderia ser adotada a qualquer momento e novamente teria uma família. E esse pensamento a deixou feliz pelo resto do dia.

Luna,a incapaz.Onde histórias criam vida. Descubra agora