Uma aranha tecia preguiçosamente sua teia no canto esquerdo superior da parede próxima a lousa,alunos conversavam baixinho coisas sem sentindo e trocavam bilhetes escondidos da professora. Chovia lá fora,o que não era novidade. O clima daquela cidade era sempre o mesmo desde que Luna se entendia por gente. O barulho da chuva caindo na janela era como uma cantiga de ninar para seus ouvidos,a deixando cada vez mais sonolenta -Suspirou profundamente e voltou a prestar atenção no que a professora dizia.
Luna agora estava com dez anos de idade e ainda permanecia naquele lugar que parecia ter sido abandonado pelo tempo. Nenhuma mudança havia ocorrido,tirando o fato de que Luna se conformara com o fato de que não iria ser adotada.
-... E os terremotos ocorrem devido ao atrito entre as grandes placas tectônicas... -Dizia a professora,que parecia tão feliz em estar ali dando aula quanto nós.
O relógio que ficava na parede do meio acima do quadro negro parecia estar quebrado,pois de minuto em minuto Luna o olhava e os ponteiros permaneciam no mesmo lugar. As paredes com cheiro de mofo,o chão de madeira polida,a janela empoeirada... Luna podia fechar os olhos e andar pela classe,ou melhor,por todo o orfanato devido a familiaridade que adquiriu ao ficar naquele lugar por cinco anos seguidos,sem se perder. As vezes se perguntava como conseguia viver num lugar quase impossível de se ver a luz do dia. O que iria fazer quando tivesse que interagir com as pessoas do lado de fora? Viver como um animal preso em cativeiro a tornou uma pessoa anti-social e introvertida. O brilho de criança sapeca que ela tinha aos cinco anos fora perdido como areia sendo levada pelo vento. Um barulho súbito irrompeu sala adentro,fazendo todos se sobressaltarem e ficarem instantaneamente acordados. Era o sinal anunciando o final da aula.A professora pigarreou:
-Antes que todos saiam eu tenho uma noticia para dar. -Um burburinho tomou conta da sala -Foi oferecido para o orfanato algumas bolças de estudo. Alguns alunos foram escolhidos aleatoriamente e antes que me perguntem -Lúcia levantou a mão -E sim Lúcia,eu falo de você -Lúcia abaixou a mão,chateada- ...antes que me perguntem a resposta é não,não tem como recorrer. Os alunos escolhidos apenas irão comparecer na sala da diretora para receber as informações necessárias e os uniformes. Tem uma lista com os nomes dos escolhidos no quadro de avisos. Boa sorte!
Ela mau terminou de falar e todos os alunos saíram correndo da sala,uns animados e outros assustados. Luna não fazia parte de nenhum desses grupos pois ela tinha certeza que em meio a tantos alunos,seria impossível ser chamada. E ela nem queria,a calmaria do orfanato a havia conquistado e uma mudança tão drástica abalaria sua estrutura. Ela pegou seu material e guardou lentamente na mochila,sendo a última a sair da sala como sempre.
No corredor um sentimento de excitação era quase palpável e um aglomerado de pessoas havia se formado em frente ao quadro de avisos. Uns exclamavam animados,outros tinham cara de ansiedade. Um menino asiático,com óculos enormes,Luna observou,tinha cara de ânsia de vômito,pois seu nome havia sido escolhido.
Chegando despreocupadamente Luna esperou o tumulto passar e esperou até que uma mão agarrou seu ombro. Era Lúcia com olhos arregalados e ofegante.
-Você já olhou? -Perguntou ansiosa. -Estou com medo de olhar...
-Eu vou esperar essa multidão se dissipar,daqui a pouco vejo. Mas duvido que nosso nome esteja na lista.
-Não duvide "lua",talvez o destino tenha escolhido você para dar essa vaga -Falou com uma voz sombria de cartomante -Mudanças significativas a aguardam... -risos- brincadeira! Olha,da pra ver agora. -puxou Luna a fazendo encarar a lista.
-Nem sei por que estou olhando isso... -Falou bocejando,passando o dedo pela folha a procura de seu nome. -Olha,o Richard conseguiu. -Lúcia olhou por cima do ombro de Luna,depois ficou ao seu lado,ombro a ombro.
-Hum... A Elena também,o Eliot,Alaric... Luna... - sorriu sonsamente e depois arregalou os olhos,surpresa -LUNA?!
-O que?? -Perguntou Luna assustada. -Eu? Impossível! -Empurrou Lúcia pra ficar mais próxima do papel na parede,e checou uma,duas,três vezes a lista. Esfregou os olhos -Me empresta seus óculos?! -Puxou o óculos do rosto de Lúcia e olhou mais uma,duas,três vezes e seu nome permanecia lá,como que a encarando de volta.
-Ai meu Deus! -E saiu correndo para a sala da diretora com Lúcia em seu encalço.
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Luna,a incapaz.
RomanceDesde muito cedo Luna foi forçada a acreditar que era incapacitada. Aos cinco anos fora morar em um orfanato,sonhando com o dia em que teria uma família novamente. Uma garotinha que sofreu uma perda muito cedo e mesmo assim nunca parou de sonhar.Uma...