Dead Body

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Luna abriu a porta da diretora com um impacto ensurdecedor,assustando a todos que estavam lá dentro. Alguns alunos abafaram suas risadas e a diretora lançou-lhes um olhar assassino,calando a todos como se tivesse controle de seus corpos. O problema é que não foi culpa de Luna,ela saiu correndo pelos corredores do orfanato e não viu a placa de "cuidado,piso escorregadio" em frente a biblioteca. Quando ela tentou parar,seus tênis deslizaram pelo chão de madeira recém encerado e ela entrou de cara -Literalmente- pela sala da diretora.
-Mas que tumulto é esse na minha sala?! -Gritou a diretora. -Luna,explique-se! Você não consegue chegar numa sala como todas as outras pessoas normais? -Uma veia pulsava assustadoramente em sua testa de marquise avantajada -Sua incapaz,não consegue fazer nada certo?
-Desculpe diretora -Falou Luna,se apoiando nos joelhos para assim se levantar. -É que o chão...
-Cale-Se! -Ela levantou batendo com as palmas abertas na mesa. -Fique quieta para eu poder explicar!
-Desculpe -Luna olhou para os próprios pés,envergonhada,inferior,se sentindo tão pequena quanto um inseto. Inseto este que estava prestes a ser esmagado.
-Como eu ia dizendo,e espero que não haja mais interrupções -Olhou de lado para Luna. -Alguns alunos foram escolhidos para ingressarem como bolsistas numa escola de caráter no bairro vizinho. Embora eu ache que nem todos mereçam -Agora outra veia pulsava em seu pescoço,que estava tão esticado que Luna se perguntou se alguma hora a pele iria se rasgar -Os nomes foram chamados aleatoriamente,de forma justa. Não precisam ficar esbaforidos,pois vocês só irão ser chamados quando estiverem no ensino médio,ou seja,vocês ainda vão ficar aqui me infernizando por um longo e desgraçado período. -Suspirou -Alguma pergunta? -Ninguém levantou a mão -Ótimo,estão dispensados!
Todos foram saindo enfileirados da sala da diretora,aliviados por não ter que mudar de escola tão de repente. O ensino médio ainda estava distante,pelo menos para Luna.
Rapidamente ela se juntou aos outros alunos,se camuflando como um camaleão,com a intenção de se esconder da diretora,como sempre havia feito desde que chegara ao orfanato. Lá fora,no corredor,Lúcia a encarava ansiosa.
-E aí? Vocês vão pra nova escola quando? -Ela olhava Luna com aqueles imensos olhos de gatinho pidão.
-Ahh você sabe,já vou correndo para o meu quarto para arrumar minha mala. Vou hoje mesmo.
-Eu não acredito! -Lúcia respondeu incrédula. -Eles não podem fazer isso com os alunos -começou a falar rapidamente,sem mesmo respirar- eles tinham que dar pelo menos uma semana pra todos se organizarem,para rever todos os documentos,esperar a semana de adoção passar,e também tínhamos que fazer uma festa de despedida,e também... -Lúcia foi sacudida pelos ombros por Luna.
-Lú,respira,conta até dez. -Falou Luna. Lúcia se acalmou e respirou fundo. -Calma,eu só estou brincando. Nós só vamos nos mudar no ensino médio,não tem nada com o que você se preocupar,pelo menos por enquanto.
-Ahh,ainda bem. Espero que,dos alunos que foram chamados,pelo menos um seja adotado. Porque daí vai sobrar vaga,e quem sabe eu sou chamada? -sorria animada para Luna -Temos que fazer o ensino médio juntas,Lua.
-E iremos,mas agora vamos para a cantina,estou morrendo de fome. -Luna segurou o pulso da amiga,e saiu puxando-a pelo corredor.

Para a maioria dos moradores do orfanato,aquela manhã fria e úmida era apenas uma simples quarta-feira,um dia relativamente agitado,pois mais tarde alguns alunos tinham horário marcado com algumas famílias. Fazia quatro semanas que Luna não conversava com esses pais excêntricos que iam visitar o orfanato,e apesar de tudo se sentia aliviada,hoje era um dia que ela queria passar sozinha,apenas acompanhada de sua imaginação,umas fotos gastas,livros e quem sabe,Lúcia. Ela sentia um aperto no peito,como acontecia sempre nessa mesma data,todos os anos. Nesse mesmo dia,cinco anos atrás,a mãe de Luna viera a falecer,e apensar da menina não lembrar do seu rosto,o que era profundamente triste,ela se forçava a olhar as únicas fotos que tinha de sua mãe,para tentar recuperar fragmentos de memórias a muito esquecidas. Luna esticou-se na cama e pegou uma caixa de madeira que ficava numa escrivaninha aos pés de sua cama. Nela continha o que ela chamava de "pequenos tesouros",como havia contado a Lúcia. Abriu a caixa cuidadosamente,e despejou seu conteúdo na cama. O rosto de uma mulher ruiva,com traços delicados,pequenas sardas e grandes olhos verdes a encarava. Sua mãe.
-Por que você teve que ir embora tão cedo? -passou a mão pela foto,e sentiu os olhos ficarem úmidos. Sua mãe era linda,tinha dedos esguios e elegantes,mãos de artista. Na foto uma criancinha ruiva,com traços de menino e braços roliços segurava essa mesma mão com tanta firmeza para uma mão tão pequena.  Luna continuou olhando as fotos por vários minutos quando um baque na porta a tirou de seus devaneios. Lúcia entrou feito um canhão no quarto,o rosto corado e o cabelo grudado na testa.
-Que susto! -Luna esbravejou. -O que aconteceu?
-Lua -Lúcia falou,a voz saiu baixa devido à sua respiração acelerada. -aconteceu uma coisa,te explico no corredor,mas você tem que vir. Essa é uma daquelas coisas que acontecem uma vez na vida e outra na morte. Vem,corre!
Luna,curiosa como era,não pensou duas vezes e saiu apressada do quarto.
-O Rudy encontrou uma coisa -Disse Lúcia,virando numa curva a toda velocidade -ele estava brincando de  explorador no jardim e ele foi lá pros fundos,onde tem aquelas árvores altas. -Lúcia falava e corria ao mesmo tempo. -Vamos evitar os corredores principais e irmos pelo caminho mais vazio. Nenhum professor,e muito menos a diretora podem nos ver.
-O que aconteceu? -Perguntou Luna,esbaforida.
-Você tem que ver,se eu contar não tem graça,é assustador e empolgante ao mesmo tempo. Vem,vamos mais rápido! -disse,chegando aos pés da escadaria e descendo sem olhar pra trás.

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⏰ Última atualização: Feb 10, 2016 ⏰

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