Indecisão

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Izuku suava frio em meio a um sono pesado.

Ainda podia sentir o cheiro do corpo putrificado de Kirishima e seu estômago embrulhava só de pensar nisso.

A textura da carne rígida e gelada por baixo do plástico, certamente era algo que não esqueceria tão facilmente.

Izuku...

Ouviu seu nome ser proferido por uma voz suave e familiar.

Oh, céus! Seria esse outro sonho?

De repente, seu corpo e sua cabeça estiveram mais leves, sua respiração se estabilizou e seus batimentos ficaram mais calmos.

Levantou suas pálpebras cansadas enquanto ouvia ruídos confusos, como se fossem duas pessoas brigando. A voz grave de Katsuki sobressaia com risadas controladas.

Izuku viu.

Sua pupila contraiu, seu corpo estremeceu e seus dedos apertaram o colchão velho o qual sempre dormira em cima desde que esteve naquele porão.

— Mas que porr-

Shoto estava na sua frente, sentado numa cadeira de cozinha. Reconheceu o rapaz facilmente pela cicatriz de queimadura do lado esquerdo de seu rosto, mesmo com seu corte de cabelo novo. Seus pulsos foram amarrados com brutalidade nas costas da cadeira e seus tornozelos às pernas da cadeira. Seus olhos estavam arregalados, podia ver o suor escorrer pelo rosto pálido do antigo bicolor e sentir o desespero dele.

— Izuku! Esse cara é louco! — o jovem Todoroki gritou para o esverdeado que mal conseguia raciocinar.

O sardento apenas olhou para o lado e viu Katsuki com um olhar doentio encarando o albino a sua frente.

— Kacchan? O que é isso...? — o rapaz perguntou completamente confuso.

— Você matou alguém importante para mim, acho que seria justo eu devolver na mesma moeda — o loiro respondeu segurando uma faca e um revólver possivelmente carregado, um em cada mão.

— Izuku não mataria ninguém, seu maníaco de merda! — Shoto esbravejou, tentando se soltar. — Eu vou te tirar daqui, Izuku! Não se preocupe!

— A sua voz realmente me irrita, eu me pergunto se não deveria abrir sua garganta agora mesmo — Katsuki ameaçou segurando a faca com firmeza e pondo ela contra o pescoço do rapaz.

Shoto engoliu em seco.

— Por favor, Kacchan, não! — Izuku pediu se ajoelhando, com os olhos cheios d'água. — Não machuque ele, eu faço o que você quiser — implorou com ambas as mãos no chão. — Por favor...

— Eu não tive a chance de implorar como você, não sei se isso me parece justo — debochou ainda com a faca na garganta de Shoto. — Tem ideia da vontade que eu sinto de esquartejar esse filho da puta toda vez que ouço ele te chamar pelo primeiro nome?

— Não precisa fazer isso com ele, por favor, Kacchan... — suplicou aflito, sentindo o desespero percorrer por cada centímetro de seu corpo.

— Você parece se importar demais com a vida desse maldito, não acha? — reclamou e afastou a faca do pescoço do bicolor que suspirou em alívio. — Diga-me, Izuku. Você realmente me ama? — perguntou direcionando um olhar perverso ao esverdeado que mal sabia o que responder.

Shoto estava ali, observando tudo.

O que ele pensaria de si?

Vê-lo dizendo que ama o homem que o sequestrou e está prestes a tirar sua vida.

E sequer seria uma mentira, já que não suportava a ideia de ser amado por outra pessoa, não conseguiria aceitar outro amor, aquele era o único lugar que ele merecia e se encaixava.

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