Noite e uma dança

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Os fios loiros eram hidratados o suficiente para se sentir ao toque, que agora era colocado para o lado de maneira suave por mãos de terceiros, a medida que os olhos azuis fitavam a imensidão da selva de pedra a sua frente. O hálito de Matias era quente contra seu pescoço, e ainda que não houvesse nada de sexual em sua aproximação, a tensão era inegável. Olhos fechados, um suspiro.

────Está tudo correndo como você imaginava, cariño? ────Alguns segundos em silêncio e Anita apenas balançara a cabeça em afirmação. De fato estava. ────O mundo se descortina quando há dinheiro suficiente na conta, não é mesmo? Eu te prometi isso no começo. ────As mãos grandes e suaves se apoiavam em seus ombros, subindo e descendo a deslizar, até pararem para uma massagem em pontos de tensão. ────Você está vivendo o que merece, e sabe disso!

────Eu sei, Matias... E é bom, é confortável. ────O sorriso atrás de si crescia com veemência, o homem estava satisfeito com as ações e com o finalizar delas com aquelas palavras.

────O outro pagamento sai amanhã, continue fazendo exatamente como planejamos, cariño! ────Seu rosto se abaixara, deixando um beijo no ombro de Berlinger. ────Minha mais fiel aliada, estou orgulhoso! ────Como sombra ele chegara, e como sombra se fora, rápido e letal como sempre.

A delegada suspirara em meio ao apoiar de suas mãos contra a contenção da sacada. A cabeça pesava e doía de maneira infernal, estava cansada, porém o ego que tanto havia sido ferido em outros momentos agora descansava, no topo.

A madrugada em São Paulo se apresentava cinzenta e fria como de costume, com nuvens a permear todo o céu como um quadro abstrato. Em uma parte mais afastada, com sua inseparável lata de coca-cola recém aberta, Verônica Torres aproveitava de sua liberdade como um prisioneiro a ver a noite pela primeira vez em anos. Nelson estava jogado no sofá do galpão que dividiam, imerso no jogo online de tiro no qual era viciado, mas nunca assumia. A presença de Prata ali era quase invisível, visto que o homem trabalhava no silêncio, nas sombras escuras da noite como ele gostava de dizer.

────Eu tenho medo quando está assim. ────O silêncio mórbido que apenas reinava no mundo de Prata fora rompido com palavras e o apontar de sua caneta esferográfica. ────Esse brilho sinistro nos olhos... Esse sorriso maquiavélico! Bizarro! ────Sua sobrancelhas prateadas que sofriam com a idade se levantaram, ao que sua cabeça negava.

────Você não coloca fé em mim nunca, não é? Sexo é a melhor forma de aproximação quando o assunto é Anita Berlinger, eu posso conseguir informações que estamos esperando há tempos. ────Em meio a tiros virtuais, Nelson dava uma risada sonora, atraindo ambos os olhares para si quase que ao mesmo tempo.

────Ela está tentando comer a delegada já faz anos e agora está usando essa ideia barata para nos convencer... E o pior, é que realmente pode funcionar! Anita sempre gostou do que era errado, não seria agora que isso iria mudar. ────A partida enfim havia sido finalizada, possibilitando ao homem ter uma conversa que envolvesse troca de olhares. ────Dois dias já que você saiu da delegacia, vai atrás... Não é como se não soubesse onde é que ela está! ────O sorriso de Verônica acabara crescendo, recebera o aval que tanto necessitava.

Dera as costas sem pensar duas vezes, ignorando o dar de ombros por parte de Prata, que voltava a ficar imerso em suas próprias buscas. O quarto que era seu não ficava longe dali, não era grande e nem muito bem apessoado, mas o conforto que buscava era apenas em sua cama e nada além disso. Um banho rápido fora tomado no banheiro ao lado, e logo Torres estava pronta para escolher o vestido mais indecente que seu guarda-roupa poderia lhe dar. Um coturno nos pés e um batom vermelho escuro, sempre a contrastar com o vermelho em aberto de Anita. Os olhos eram ressaltados com um delineado preto e rimel, a deixando irresistívelmente perigosa. Estava pronta.

A boate ficava há meia hora do local que chamava de casa, e ali ela fora deixada por Nelson, que lhe olhava com um sorriso em pura negação.

────Cuidado com a tequila, maluca! ────Com um sorriso amistoso ela deixara o carro batendo continência com um cigarro entre os dedos, o acendendo posteriormente.

────Tchau e... Não me espera acordado, tá bom? ────O veículo saira dali em velocidade média, a deixando para trás com fumaça nos lábios.

O findar da nicotina abria portas para o início da noite na cidade cinzenta, era tarde da noite quando os pés de Verônica tocaram o chão escuro do local, se mesclando as mais variadas pessoas que ali estavam. A música era vibrante, envolvente o suficiente para desviar seus objetivos por alguns minutos, e assim, sua entrada desaguara na pista de dança. O corpo se movia sinuoso, rebolando ao som que tomava seus sentidos por completo. Do outro lado, não muito longe, olhos azuis a comiam com lascívia. Só podia ser brincadeira, assim Anita pensara.

Em cima das botas lustrosas, a delegada caminhara como se o lugar fosse seu, ignorando qualquer pessoa que tentasse ao menos cruzar seu caminho até seu objetivo. Ao finalmente se aproximar, sua mão dominante tomara a mão de Verônica, entrelaçando os dedos de ambas. Ali, atrás da mulher que era menor que ela, Berlinger colara seus corpos com força, sem possibilidade de fuga. Verônica sorrira de olhos fechados, deitando sua cabeça para trás.

────Não deveria sorrir assim para qualquer pessoa que se aproxima... É perigoso! ────A voz da delegada indicava bem que havia ali alguma quantidade de álcool em seu sistema, ao passo que o rosto da jornalista tombara para o lado, a fitando.

────Estou sorrindo porque reconheço seu perfume, aqui ou no inferno! ────A loira lhe sorrira de maneira larga, firmando sua mão com dedos separados ao centro do abdômen da outra. ────Não sabia que gostava desse tipo de lugar e nem que sabia aproveitar sua vida fora daquela delegacia. ────A batida da música que se iniciava era um tanto mais lenta, fazendo ambas dançarem com os corpos ainda mais colados.

────Estou aproveitando que você decidiu me dar uma trégua de consertar suas merdas... E olha só, eu saio para te esquecer e te encontro, Verônica. ────De súbito, a jornalista se virara para ela, colocando seus braços ao redor do pescoço de Anita.

────Confessa... ────A olhava de baixo com os olhos marcados em preto esfumado, sorrindo como o Diabo. ────...Se eu não estivesse aqui, iria atrás da mesma forma! ────Com a ponta dos dentes mordia seu lábio inferior, se aproximando com lascívia nos castanhos, suspirando fundo de propósito visto que a aproximação maior a faria perceber o detalhe. ────Não consegue ficar longe não é, doutora? ────Verônica a desafiava com palavras e com seu corpo, na mesma proporção.

────Como é, Verônica? ────A mão firme da delegada repousava em sua cintura, a apertando enquanto caminhava para frente, as encaminhando para uma pilastra onde a luz não batia com frequência.

────Como é o quê? ────O sorriso em seus lábios pintados enlouquecia Berlinger ao poucos, como poderia ser infernal daquela forma?

────Ter a confiança do mundo em você? Como é? ────Seu toque descia um tanto mais, apertando a bunda da mulher, fazendo o vestido imoralmente curto subir um tanto mais enquanto a prensava contra a pilastra. ────Conta para mim! ────Os lábios pairavam a uma distância perigosa, ao que o sorriso de Torres começava a se desafazer, dando lugar a uma expressão pesada de desejo.

────Prova da minha confiança na minha boca... Me diz o gosto que tem. ────Seu corpo se apoiava por completo no frio atrás de si, os fios castanhos estavam totalmente para trás e ela se fazia receptiva.

Ter os olhos de Anita para si era como droga viciante no primeiro momento, correndo em suas veias. Estava certa de si, do plano e de como o conduziria, mas havia detalhes que não podia controlar, como o líquido quente que escorria em vista de seu prazer pungente. Estava entregue como há tempos não estivera, sem tempo para pensar, sem de fato querer pensar. Com a mão firme a delegada a puxara para si, levantando um tanto mais seu vestido. Os lábios se encontravam pela primeira vez, queimando em desejo perigoso.

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