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CAPÍTULO UM

E embora ele tentasse se enterrar mais fundo em seu saco de dormir, Lan Wangji não conseguiu escapar do dedo cutucando seu lado. Ele murmurou: —Mais cinco minutos.
— Pai, você vai dormir o dia todo?
Ele abriu os olhos e olhou para o rosto redondo e os olhos castanhos claros de sua filha, seu cabelo curto  roçando seu queixo. Gemendo, ele perguntou: — Que horas são?
Ela pegou o telefone dele ao lado do saco de dormir e verificou a tela.
— Já são seis e trinta e cinco.
Wangji  gemeu novamente.      
— Qing, isto é para ser férias.
— O sol está alto há quase uma hora. Eu deixei você dormir.
— Oh, que filha gentil e generosa que eu fui abençoado. — Ele não tinha certeza de como Qing  acabou uma pessoa matinal, mas ela acordava com o sol desde que era uma criança e, aos oito anos, não parecia provável que mudasse tão cedo.
— Vou fazer o seu café da manhã. Mas você tem que acender o fogo primeiro.
— Por que eu concordei em vir acampar? — Wangji  esfregou o rosto e bocejou, o colchão de ar balançando enquanto ele se espreguiçava.
Ela colocou uma voz cantante.
— Porque você é o melhor papai do mundo inteiro. — Com isso, Qing  deu um beijo em sua bochecha e disparou para fora da tenda, a aba deixada aberta em seu rastro.
Wangji  sorriu apesar de estar com sono ainda. Seu saco de dormir estava cuidadosamente fechado em seu lado da pequena tenda, seu travesseiro dobrado dentro. Ele supôs que ela herdou sua limpeza e entusiasmo madrugador de sua mãe, já que certamente não tinha vindo de seus genes. Ao pensar em Qingyang, a familiar pontada de culpa percorreu seu corpo.
Escovando-o como fazia todos os dias, ele trocou a calça do pijama xadrez e a camiseta surrada por jeans e um moletom e rastejou pela abertura em sua pequena barraca. O céu era de um azul claro acima da copa das árvores, montanhas com picos brancos elevando-se no horizonte. Eles o chamavam de Big Sky Country e, em comparação com Philly, Montana era um lugar diferente no planeta. Ele respirou o ar puro profundamente.
— A madeira está pronta, pai. — Qing  mexeu-se com a pilha de toras e gravetos que empilhou com cuidado, puxando a bainha de seu moletom roxo. Suas pernas magras saíam da calça capri muito curta. No ritmo que ela estava crescendo, ela precisaria de um guarda-roupa totalmente novo para voltar para a escola em setembro.
O estômago de Wangji  apertou. Ele já havia gasto muito dinheiro nesta viagem, mesmo com anos de resgate de milhas aéreas. Como ele iria comprar mais roupas e sapatos? Talvez ele devesse ter adiado as férias até o próximo verão e economizado mais primeiro. Mas quando ele tinha oito anos, já tinha estado na Europa, e Qing  nem tinha saído da Pensilvânia. Ele tinha que dar a ela tudo que ela merecia - tudo que um bom pai daria.
Olhando para o rosto doce de Qing , ele deixou a preocupação de lado para mais tarde.
— Bom trabalho, querida. Onde você conseguiu os gravetos?
— Ali. — Ela apontou para um espaço em um lado do acampamento. O acampamento era bastante isolado e os locais vizinhos eram separados por cinquenta metros de árvores. — Não se preocupe, eu sei que não posso sair sozinha. Mas eu precisava fazer isso.
O coração de Wangji  deu um pulo enquanto ele olhava para o denso arbusto.
— Por que você não me acordou?

Pode ter sido perigoso.  Por que ele tinha concordado em vir acampar? Na natureza, havia tantas variáveis.
Qing  revirou os olhos artisticamente.

— Pai, estamos no meio da floresta.

— Estou dolorosamente ciente disso.

Ela o ignorou e acrescentou:
— Ninguém estava aqui. As pessoas da porta ao lado ainda estavam em suas tendas. Além disso, eu não sou um bebê.
— Então você fica me lembrando. Mas você sabe que estamos em um país diferente. Amanhã, me acorde quando tiver que ir ao banheiro e eu te levo ao banheiro externo. Entendeu?
— Tá bom, tá bom. Agora você vai acender o fogo? — Ela estendeu a caixa de fósforos.
— Com prazer. — Wangji  pegou a caixa, tremendo. Ele ficou surpreso com o quão baixa a temperatura caía à noite, e ainda era muito cedo para o sol fazer muito efeito.
Wangji  ferveu uma lata de água para o café, sentindo falta da velha máquina em sua cozinha que gemia de forma alarmante, mas ainda produzia uma bebida deliciosa todas as manhãs. Ele fez uma careta enquanto engolia a porcaria instantânea, mas era melhor do que nada.
— Pai, onde está o ketchup?
— Acho que ainda está no porta-malas. — Wangji  pescou as chaves de sua pequena mochila e apertou o botão no controle enquanto Qing  corria. Ele ficava continuamente surpreso com a maneira como ela se apressava até mesmo na tarefa mais mundana com entusiasmo.
— Certifique-se de selar o refrigerador.
— Eu sei. — Sua voz estava abafada enquanto ela remexia no porta-malas de seu carro Toyota alugado.

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