Capitulo 2

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- Está fumando? – Ouvi a voz de Angelica antes de realmente vê-la – Disse que ia parar com isso.

- Eu disse, mas estou nervosa, acho que tenho o direito de um maço pelo menos hoje. – Angelica não havia mentido, a um ano atrás eu tinha abandonado esse vício, mas não conseguia tirar aquela sensação de ter sido perseguida de mim de jeito nenhum desde que coloquei meus pés em casa ontem à noite.

- O que aconteceu? – Joguei a minha bituca fora pela sacada ainda sem olhar para ela – Deve ter sido grave, você sabe que madame Laviolette vai ter um ataque se aparecer fedendo a cigarro.

- Fui perseguida ontem... Quer dizer, acho que fui, não tenho certeza, mas um cara me seguiu desde o metrô até minha casa. Bom, não até minha casa, desviei do caminho para ele não saber que moro sozinha.

- Tem certeza?

- Não.

- Nossa Clarisse, que perigo, e agora o você vai fazer?

-Não sei. Pode ter sido uma coincidência e eu estou aqui fazendo uma tempestade num copo da água, mesmo assim, estou apavorada.

- Deve ter sido horrível, fui perseguida uma vez no ano passado, por um doidinho do centro, por sorte meu irmão estava lá comigo, senão com certeza eu estaria mortinha da Silva – Angélica divaga sozinha e penso em o que aconteceria comigo se não tivesse desviado o caminho.

- Não está ajudando – A encarei.

- Desculpa, mas esse homem, você viu como ele era? – Neguei com um movimento da minha cabeça – Se acontecer de novo, liga para a polícia, tirar uma foto dele, sei lá.

- Com certeza, um homem de capuz, eles vão saber quem é assim que olhar a foto -Acabei sendo um pouco grossa na minha resposta então respirei fundo antes de olhar para Angélica – Desculpa, eu tenho aula agora, prometo tentar não morrer voltando para a casa hoje à noite.

- Por favor, não quero ter que almoçar sozinha nos meus últimos anos de faculdade – Respondeu ela e sorri tentando esconder meu medo.

Angélica havia me deixado sozinha na sacada e pude sentir meu nervosismo voltar, é sempre uma sensação ruim quando nos damos conta que estamos vulneráveis, eu espero que ontem, tenha sido um caso isolado, mas não consigo tirar o sentimento de ser seguida onde quer que eu vá. Mal dormir a noite com medo de alguém entrar na minha casa, e não fui a academia naquela manhã, pois ainda estava escuro e eu não sabia se aquele homem estava lá. Pensei em mandar mensagem para minha mãe, mas sabia que assim que ela soubesse o que me aconteceu, me obrigaria a voltar para casa no mesmo instante.

Após fumar mais da metade do meu maço voltei ao vestuário para poder me livrar do cheiro do cigarro antes de voltar aos ensaios, tive meia hora de sermão por atraso antes de poder finalmente subir ao palco. O meu maior sonho era interpretar a Odette em o clássico cisne negro, mas serei eternamente grata pelo papel de Giselle, sua história trágica de amor negado e traição, o tipo de amor que enche nossa alma de expectativa e as destrói em seguida, mas Odette era tão perfeita, não sabia se um dia serei capaz de realizar esse ballet, talvez dependa do meu desempenho nesta apresentação, quem sabe neste natal finalmente poderei interpretar o meu tão sonhado cisne negro. Eu precisava dançar com perfeição como as profissionais faziam, só assim seria digna de Giselle, só assim seria digna de Odette.

Dance in The Dark - Tomura ShigarakiOnde histórias criam vida. Descubra agora