Capítulo 4

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Quando pensando em mundo artístico, logo pensamos em pintura, música, dança, sempre o óbvio, mas nunca pensamos no primeiro momento os motivos para alguém escolher aquilo, o que leva um compositor a escrever uma música, o que leva um dançarino não se conter a mínima batida ritmada existente. O que leva um pintor olhar para algo e visualizar sua tela, como colocamos nossos sentimentos naquilo que fazemos?

Como os grandes autores tocaram o coração e o íntimo de milhares de pessoas com poucas frases pontuadas? As vezes suas palavras nem eram para ser lidas, como as meditações de Marco Aurélio que apenas escrevia em seu diário e hoje é um dos maiores pensadores do mundo.

Como um artista se coloca na visão do espectador e faz seu quadro bom o suficiente para faze-lo sentir dor, alegria, paixão?

Eram perguntas que sempre rodavam a minha cabeça.

Pois se estou posicionada nesta sala de frente para Shigaraki para que ele colocasse naquele pedaço de papel todo o meu sentimento pela dança, o que o fez escolher aquilo?

Acredito que nossas paixões já nascem conosco pré-definidas, como se antes de virmos a este mundo a seleção natural da vida fosse capaz de determinar o que amamos e com qual intensidade amamos. Está cravado em nossos ossos, nossa história escrita antes mesmo de se quer existirmos nesse mundo.
Um autor sempre será apaixonado por palavras, e um cantor sempre terá algo a dizer ao mundo. É nosso, e não podemos fugir de quem somos.

Céus e terras se calavam toda vez que um artista nascia.

Seja ele um desenhista, um dançarino, um musicista, um escritor, ou apenas alguém que sonha e expressa seus sentimentos de formas específicas.
Eu sempre usaria a dança para dizer a todos o que estava em meu coração, e Tenko diria a todos seus sentimentos com sua tinta. Pelo menos era o que eu acreditava.

Fazia um tempo que ele não pintava nada, que apenas olhava hora a mim, hora sua tela, não sabia o que havia de errado, sai da posição notando suas sobrancelhas tensas. Seu cabelo estava preso revelando seu rosto e toda a sua gloria, podia ver as marcas de unha no seu pescoço, não duvidava nenhum momento que ele se auto infligia aquelas cicatrizes, ansiedade talvez? Não passava tanto tempo assim com ele para saber esses detalhes da sua vida.

- O que foi?

- Nada - Respondeu levantando o pincel até a tinta - Mas é que... - Shigaraki se moveu na cadeira ficando agora de frente pra mim - Não sei, acho que não estou conseguindo ter inspiração.

- É algo errado comigo? - perguntei, eu não era o tipo certo de pessoa para posar, entenderia se ele dissesse que era culpa minha.

- Não - Ele olhou alguns pontos da sala antes de me encarar - Não estou enxergando paixão no que estou vendo, alguma coisa te preocupa?

- Nossa - exclamei, surpresa.

- O que?

- Notou minha preocupação apenas com um movimento meu?

- Coisa de artista.

- Também sou artista - retruquei - e não vejo tensão num movimento.

- São habilidades diferentes, seu trabalho é sentir, o meu é interpretar - disse.

- Não são as mesmas coisas?

- Talvez.

- O que faz você ver arte nas coisas, tipo, dizem que os artistas tem uma forma diferente de ver o mundo, mas sei lá, eu mal vejo o mundo quando estou dançando.

- Ah... É uma sensação como qualquer outra, randômica - Olhou para sua tela novamente - você ainda não respondeu a minha pergunta.

- Não é nada, não quero te preocupar com meus problemas - disse voltando para a posição, Shigaraki me avaliou um tempo, fez uma careta e se levantou.

Dance in The Dark - Tomura ShigarakiOnde histórias criam vida. Descubra agora