CINCO

29 3 3
                                    

É de conhecimento de todos que padres ou qualquer pessoa ligada diretamente à igreja não tem direito a missas ou enterros católicos se cometer suicídio.

Suicídio é visto com olhos ruins, principalmente pela igreja apoiar fielmente a vida, então no catolicismo a regra é clara: suicidas não possuem lugar no céu, ainda mais se tratando de alguém superior como o padre Uri.

No entanto, alguém deve ter se compadecido, pois Eren ficou sabendo que uma pequena reunião foi feita para lamentarem a morte do padre local.

O suicídio de Uri foi muito comentado, principalmente por ser inesperado. O padre era querido na região, quem era próximo e atuava na capela não entendeu o motivo para que tal barbaridade acontecesse.

Eren não apenas entendia, como sabia o que havia acontecido. Isso o atormentava todos os dias da sua pobre e condenada vida. Inconscientemente havia matado alguém.

Era o culpado por alguém ter morrido.

Uma semana havia se passado desde o fatídico dia em que viu Levi a última vez e o recado foi dado, uma semana que uma pessoa havia tirado a própria vida, uma semana que era atormentado dia e noite, uma semana que o recado havia sido dado: se alguém tentasse tirá-lo de Levi, morreria.

Sua cabeça estava o levando à exaustão mais uma vez, revivendo aquela cena, do corpo estirado ao chão coberto de sangue, do espírito do padre o encarando-o com olhar pavoroso e o sorriso macabro de Levi ao longe. Era para estar acostumado com coisas como aquelas, com aparições, acontecimentos fora da realidade, mas sempre que algo assim acontecia, sua alma mergulhava mais uma vez no profundo, desconhecido, inabitável.

Ir à faculdade era um mártire e jurava que um dia, enquanto comprava um chá gelado na praça de alimentação, viu algo idêntico ao padre Uri aparecer no meio da multidão e sumir segundos depois. No fundo, sabia que não era coisa da sua imaginação, pois o arrepio em sua pele era real.

Aquele dia, em específico, estava indo embora da faculdade. Já era noite, as ruas estavam desertas, iluminadas por postes de luz amarela e casas com suas lâmpadas acesas. Nada de diferente, nada que já não estivesse acostumado. No entanto, no meio do caminho, sentiu pingos de chuva caírem em sua cabeça e suspirou fundo, se lembrando que sua mãe o alertou para levar o guarda-chuvas, mas não viu necessidade.

Correu um pouco, encontrando abrigo em um toldo na calçada na parte lateral de uma capela próxima do seu bairro. Se recordava que ele estava lá devido um bazar beneficente que teve, sua mãe havia comentado que levou algumas roupas de Falco para doação.

— Quanta ironia. — Eren murmurou, olhando da rua para a capela, vendo as luzes acesas lá dentro. — Justo aqui fui encontrar abrigo.

Um trovão rasgou o céu assim que a luz fez tudo ficar claro, causando um arrepio que Eren não gostava de sentir. Da sua direita, passando diante de seus olhos, Eren viu uma borboleta vermelha dançar no céu, sumindo do seu foco quando foi rumo a casa que estava do outro lado da rua.

O vento soprou frio, fazendo-o se encolher no lugar e se abraçar.

Na casa da frente, Eren viu a luz do que imaginou ser a sala acesa. De lá, conseguiu ter o vislumbre de alguém sentado em uma poltrona, a sombra evidenciava bem isso. Acompanhou com os olhos quando a pessoa se levantou, caminhando pela casa quando a luz da cozinha se acendeu. Sinceramente, não entendeu o motivo daquilo prender tanto sua atenção, mas só ficou observando ao longe o que conseguia, já que a chuva começava a ficar mais forte a cada segundo que passava. Da cozinha, a pessoa caminhou lentamente para a porta dos fundos, que foi aberta.

— Não é hora de colocar o lixo para fora, fala sério. — Murmurou para si mesmo, seguindo a linha lógica de seu pensamento.

No entanto, Eren estava enganado. A porta se abriu mas, devido à chuva, não conseguiu visualizar corretamente a pessoa, apenas a mesma sombra que viu desde a sala de estar. Não havia lixo algum na mão, a pessoa apenas saiu para fora, e ficou parada, do lado de dentro da cerca, o encarando. Eren não conseguia ver o rosto devido a distância, mas tinha ciência que era observado. Virou o rosto, envergonhado. Será que haviam pensado que estava espiando aquela hora da noite?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 01 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

PACTO (ERERI - RIREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora