Eu devia te odiar por tudo isso, Tiff

64 6 3
                                    

— Como assim? Acabar com...

— Com a gente. Isso que tá acontecendo. Aquilo foi um erro, não devíamos ter feito nada.

— Mas Nica, você quis. Eu sei que quis. Você... você deixou eu te tocar. Nós...

— Não existe nós. Existe eu e existe você. Somos melhores separadas. Isso não daria certo. Você e Chucky se merecem.

— Nica, me escuta. Sei o que deve tá passando na sua cabeça, mas eu mudei. Você sabe, está aqui comigo até quando estou com ele. Nós podemos...

— Não existe nós, porra! — grita, assustando Tiffany. — Você é louca, nunca poderíamos ter nada. Você matou minha família, mesmo que não tivesse sido você com a faca. Eu devia te odiar por tudo isso, Tiff. Eu te odeio por tudo isso.

Tiffany estava com os olhos marejados. Ouvir isso da boca de Nica era pior que dor física. Nica por outro lado não esboçava tristeza ou mágoa.

— E o que faremos com o que planejamos?

— Não vou desistir, mas não quero estar contigo. Me diz o que você planejou e eu faço sozinha. Não quero que você me impeça de dar o que Chucky merece.

Tiffany estava completamente confusa. Nica a dispensaria agora que faltava tão pouco para se livrar de Chucky?

Mas então, depois de segundos em silêncio, Tiffany pensou num detalhe.

— Do que você me chamou? — indagou a mulher, lhe olhando fixamente nos olhos, ainda com os seus molhados.

— O que? É nisso que você prestou atenção, porra? — ela riu — Te chamei de Tiffany. Não é seu nome? — ela olhou fixamente de volta para Tiffany.

— Não. Você me chamou de Tiff — Nica dá de ombros com a informação, desviando o olhar. — Você não me chama assim. Só quando está fingindo ser Chucky. Ele quem me chama assim.

— Que diferença faz? Não muda nada do que eu falei. Não preciso de você, Tiffany — fala com uma entonação diferente ao pronunciar o nome da mulher.

Tiffany se aproxima mais de Nica, que não muda de posição e nem expressão.

— Sabe, Chucky é um idiota às vezes. Ele podia até ser um bom ator se não fosse um assassino. Mas eu o conheço bem. — Seca uma lágrima que escorre pela bochecha.

Tiffany tira uma faca de qualquer lugar. Onde aquela mulher a estava escondendo?

— O que vai fazer comigo? — pergunta mudando a expressão para medo, quase chorando. — Você disse que nunca me machucaria. Por favor.

Nica suplica, mas Tiffany não a reconhece.

Tiffany passa a lâmina fria da faca pela coxa exposta de Nica. Tiffany podia jurar que a viu estremecer com o toque gelado.

— Oh, eu nunca faria isso — retrai a faca. — Você sabe.

Tiffany levanta da cama.

— Por mais que me doa, vou fazer o que você me pediu. Eu disse que não te tocaria se você não quisesse. Isso serve pra qualquer situação.

Em um segundo Tiffany estava guardando a faca, e no outro estava correndo novamente para a cama. Sem deixar Nica ter tempo de reagir, Tiffany enfia a faca com tudo na perna dela, talvez até mais fundo do que gostaria.

— PORRA TIFF SUA PUTA! — diz se contorcendo de dor e levando a mão até a faca.

Tiffany estava certa.

— Quem diria que uma faca pode curar paraplegia — diz sarcasticamente. — Agora me diz porque fingiu ser ela, Chucky — diz agora séria.

— Tem uma faca na porra da minha perna!

— Sim, eu sei. Foi eu quem colocou aí.

— Para de graça, Tiff. Tira isso de mim, AGORA!

— Se eu tirar vai sangrar muito e você não pode ver sangue. Não vai trocar de lugar com ela até me responder.

— Tá, tá. Eu sei que vocês se juntaram pra me matar ou sei lá o que. Eu queria que você ouvisse dela que ela não te quer.

— Por que?

— Porque vocês não se merecem, Tiff. Ela não te aceitaria do jeito que você é como eu aceito. E mesmo que tenha sido eu quem falou tudo aquilo, não é mentira. Você também é culpada pela família morta dela. Quando ela se lembrar que a sobrinha que ela mais amava morreu por sua causa, nunca mais vai te olhar na cara. E vocês querem me matar, porra! Não ia ficar sem fazer nada deixando vocês se juntarem contra mim. Vou descobrir o que exatamente vocês vão fazer e não vou deixar isso acontecer.

Isso pegou Tiffany. Sim, ela era culpada, mas faria de tudo para compensar o que fez, mesmo que seja pelo resto de sua vida.

— Agora tira essa merda daqui, Tiff! Isso dói pra caralho.

Chucky estava com cara de dor, se contorcendo e mordendo o lábio pra não gritar de ódio. Tiffany apreciou a expressão na cara dele antes de tirar a faca. Quando tirou, ouviu um grito vindo dele, e logo em seguida ele desmaiou ao ver a perna sangrenta. Ele não queria ver, mas não conseguiu não olhar para o que Tiffany tinha feito.

Tiffany foi no banheiro e pegou o kit de primeiros socorros. Tirou todo aquele sangue e limpou a ferida. Fez um curativo e trocou o lençol de novo porque havia sujado de sangue.

Tiffany viu um corte na mão de Nica que até onde se lembrava, não estava ali. Pensou que tivesse sido assim que Chucky pegou o controle do corpo de volta sem ela perceber. Nica havia se cortado em algum lugar e Chucky voltou. Só não sabia quando isso tinha ocorrido.

Nica despertou aos poucos. Quando acordou estava meio desorientada.

— O que aconteceu? — perguntou Nica quando acordou e viu a faixa na perna.

— Tive que fazer você voltar.

— Por que?

— Chucky estava se passando por você. Esfaqueei ele pra provar isso. Quando você se cortou? Tem um corte na sua mão. Acho que foi isso que fez ele voltar.

— Eu só lembro de estar na cozinha te ajudando.

— A faca. Você se machucou mas disse que não tinha sangrado. Era ele me enganando. Que desgraçado.

— Por que ele faria isso?

— Porque ele sabe o que a gente quer fazer com ele. Sorte que eu não disse com detalhes. Viver com ele me ensinou algumas coisas.

— Que merda— passa a mão no rosto. —  Como você soube que era ele e não eu?

— Você nunca me chama de Tiff. Só quando quer se passar por ele — dá de ombros. — Você ainda quer fazer tudo isso comigo?

— Claro, Tiffany. Se eu posso impedi-lo eu vou fazer.

— E você confia em mim pra isso?

— Você é a única que pode me ajudar.

— Não foi essa minha pergunta.

Ela demorou uns segundos até responder.

— Sim, Tiffany. Eu confio em você.

Isso acendeu algo em Tiffany, mas se lembrou das palavras de Chucky. No momento que Nica não precisar mais dela e se lembrar de sua família, ela a deixaria. Mas não deixou transparecer, permaneceu com a expressão neutra.

— Ótimo, porque também confio que não vai matá-lo.

— Não sei como ainda se importa. Ele não se importa tanto assim com você.

— É claro que se importa. Ainda somos casados. Ou quase.

— Tiffany, nós dividimos o mesmo corpo. Compartilhamos da mesma consciência, até certo ponto. Tu nunca entenderia, mas eu o ouço dentro da minha cabeça.

— E o que ele tá dizendo?

— Que se depender dele, não vai deixar a gente se unir contra ele.

Ele vai contar sobre Alice, a sobrinha de Nica. Ela não sabia o que tinha acontecido, só que a menina morrera. Chucky faria Nica odiá-la.

LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora