CAPÍTULO 06 - O MASSACRE

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ALEXEI

Alexei Valentyn Nikolaev. Apesar do meu sobrenome, não sou russo, mas sim um ucraniano com descendência russa herdada do meu pai. Nasci e cresci na Península da Crimeia, um território disputado pelos russos, alvo de invasões durante as décadas. Em um dos muitos ataques que sofríamos, minha casa foi bombardeada. Meus pais, que tiraram férias juntos e descansavam no lar que construíram com muita luta, não resistiram. Foram soterrados. Minha pequena irmã estava na escola e por isso sobreviveu. Onde eu estava quando isso aconteceu? Eu estava ocupado aniquilando russos e aquele foi o preço a se pagar na guerra. Eu era um jovem e promissor militar, o primeiro da minha turma, vinte anos e um talento nato para atirar, o que me levou às forças especiais em pouquíssimo tempo. Me pergunto todos os dias se eu poderia ter feito algo para impedir aquele desastre, mas sei que não há nada que pode ser feito para interromper o curso da violência quando ela é a única saída. É matar ou morrer. E meus pais se foram.

Não era mais seguro continuar no meu país e pensando em um futuro melhor para minha irmã, pedi baixa com o coração dilacerado pelo luto e pela dor de deixar a terra em que cresci, que se tornara um gigantesco matadouro. Meu irmão mais velho me convidou para morar com ele nos Estados Unidos e trabalhar em sua oficina de carros, o aventureiro cinco anos mais velho havia se mudado para lá há alguns anos, fugindo dos conflitos que nos cercavam. Poderia ter sido como ele, covarde, em vez disso me joguei no olho do furacão acreditando estar lutando por uma causa nobre, defendendo meu país e seus ideais, enquanto o que via era morte e destruição, inclusive por minhas próprias mãos. Morte de anjos e demônios para todos os lados ao passo que os governantes continuavam gloriosos e intocáveis. Eu me cansei daquela merda. Tanto sangue derramado, tanto sofrimento para que uns filhos da puta se mantivessem no poder. Eu não permaneceria, por mais que houvesse sede de vingança rasgando o meu peito. Seria como meu irmão e fugiria, não bancaria mais o anti-herói sanguinário. Pela minha princesinha eu sacrificaria o prestígio que conquistei e passaria uma borracha no passado. Recomeçaria minha vida do zero, bem longe de onde nossos pais foram enterrados.

Juntei minhas economias e deixei a Ucrânia para trás com Katerina. Não foi fácil entrarmos ilegalmente depois de viajarmos dias de navio dentro de um container apertado, dividindo espaço com dezenas de imigrantes, mas vencemos cada obstáculo e as condições precárias até chegarmos a Downieville, em Sierra na Califórnia. Dmitri esperava por nós e nos recebeu em sua humilde casa cercada pela natureza. Me ofereceu trabalho na oficina e aceitei para que juntos pudéssemos dar para nossa irmã uma boa vida. Katerina estava no auge dos seus seis anos, uma princesa de olhos verdes e cabelo negro como o meu. Linda. Trabalhávamos o dia inteiro para ganharmos o suficiente e compensava poder comprar os materiais escolares para ela, roupas, brinquedos e o que mais ela precisasse. Eu lhe daria o mundo se pudesse carregá-lo em minhas costas.

Seguimos nossas vidas em paz por meses e me esforcei para ser um homem bom não apenas para Kate, como também para os meus vizinhos e Dmitri. Apesar de sentir falta da adrenalina que o meu trabalho proporcionava, aos poucos me adaptei à nova rotina. Suava a camisa de Domingo à Domingo se necessário, o que ajudava evitar pensar no que eu poderia ter sido se não tivesse deixado minha carreira para trás. Eu era realmente um excelente atirador e me dedicava de corpo e alma. Me chamam de A besta de Sebastopol quando atuava em campo, porque sabiam que se eu encontrasse um militar russo na minha frente, não sobraria nada dele para contar história. Eu tinha o sangue frio necessário e o prazer de quebrar um a um quando precisavam das minhas mãos sujas em um interrogatório. Mas naquela cidadezinha, a besta precisou se esconder.

Era uma sexta à noite. Dmitri e eu assistíamos a uma partida de baseball, um esporte que eu gostava de acompanhar. Katerina dormia em seu quarto no andar de cima e nós bebíamos a cerveja gelada, rindo ao conversamos sobre um cliente sem noção. Nossa bebida acabou e me ofereci a ir a uma loja de conveniência comprar mais. Deixei a casa e pilotei a moto, pegando a estrada. Demorei uns quinze minutos para voltar. Quinze minutos fodidos para caralho. A porta estava arreganhada, apenas o barulho da televisão ressoando. Engoli em seco, a testa suando, ciente de que alguma merda tinha acontecido. Meu irmão estava sentado de cabeça baixa, a garrafa da sua cerveja caída ao seu lado, molhando o sofá. Chamei por ele a cada passo que dava encurtando nossa distância. Dmitri, Dmitri, responde porra. Afundei meus dedos por seu cabelo escuro e puxei sua cabeça para trás. Um buraco se formara no meio da sua testa, a bala ainda cravada. Estava inquestionavelmente morto.

CONFESS YOUR SINS - Um dark romance de Stephanie HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora