tᥕ᥆

50 11 27
                                    

“É o apocalipse. Você está feliz.”

A batata-frita de Will perde o gosto com o comentário de Dustin.

“Mudança de status. Agora você arruinou o meu bom-humor.”

A sra. Pollack, a nova professora de inglês de Will, propôs o método mais legal que ele já vira até então na Hawkins High. Embora ele não tenha levantado a mão quando ela perguntou se alguém já lera A terra devastada de T.S. Elliot – um reflexo de toda a turma que a encarou sem expressão –, ele leu há uns dois anos, no que agora parece uma vida. Will costumava deixar livros de poesia espalhados pela antiga casa na Flórida, como se fossem um rastro em direção a algum tesouro, uma variedade de pistas sinuosas levando a ninguém sabe o quê. Quando ele ficava entediado, pegava os livros na mesinha de cabeceira dele e os abria ao acaso. Relendo as partes que ele mesmo havia sublinhado ou as anotações ilegíveis nas margens, ele costumava se perguntar por que um determinado verso estava grifado com amarelo desbotado.

Em A terra devastada, Will sublinhou a primeira frase e marcou-a com dois asteriscos exuberantes: “Abril é o mais cruel dos meses.”

Por que abril é o mais cruel dos meses? Will não sabe bem. Ultimamente o ano inteiro parece cruel.

Os livros dele agora estão guardados em caixas de papelão e mofando num sótão na Flórida, o cheiro de papel ficando úmido e empoeirado. Will não se permite pensar nisso ou em como toda a matéria se desintegra. Em como todos aqueles sublinhados foram inúteis.

Will não está preocupado em formar uma dupla para destrinchar o poema de 434 versos, satisfeito em atestar a própria capacidade. Então, sim, ele está feliz.

“Pegue leve”, Max sorri, deslizando pela mesa com um Radar também contente. “Vai compartilhar o que aconteceu, pequeno gafanhoto?”

Will retribui o sorriso, forçado. “Só estou ansioso para começar a trabalhar em um poema para a aula de inglês.”

“Estou sempre esquecendo que você é da Flórida.” Ela balança a cabeça. “Pode não ser tão proveitoso ser um nerd aqui tanto quanto lá.”

“Você não devia ser bronzeado?” Radar questiona com um interesse genuíno.

“Protetor solar ainda existe.”

“Max”, Dustin chama, conspiratório. Ele abaixa o tom de voz. “Se eu dissesse que o Sinclair está vindo até aqui agora mesmo, você acreditaria?”

“Sim.”

“Que bom, obrigado. Porque ele está perto.”

Will fita a direção que Dustin estava olhando há um segundo atrás, sem nenhum traço de disposição. Ele engole a batata-frita em seco com a visão.

“Ei, Max. Oi, pessoal.” Ele olha para a garota com expectativa. “Tem um minuto?”

“Ei, Lucas. Claro.” Ela suspira quase imperceptivelmente.

Ele sorri.

Will encara fixamente os raios de sol vazando pelos dutos de ar, alheio. Mas ainda pode ver quando Max escapa furtivamente da mesa.

“Será que A terra devastada é um bom começo?”

Will levanta o olhar lentamente, como se duvidasse de que era realmente com ele que o garoto estivesse falando. O tempo vai passando, a pergunta paira como uma nuvem escura. Ele olha para baixo, depois dá um sorriso minúsculo.

“Acho que sim.” Will sente vontade de gritar de desespero com as palavras trêmulas. O primeiro instinto dele é de que, por algum motivo, Mike Wheeler só está fazendo uma boa ação. Ele deve ter parecido patético, examinando o refeitório em busca de ignorá-lo, especialmente depois de ele ter visto Will ser sacaneado com os pneus furados e passar vergonha sendo desnecessariamente grosseiro por quase derrubá-lo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 04 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

when he sees me [byler]Onde histórias criam vida. Descubra agora