Capítulo IV - O Próprio Veneno

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"Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra."
(W.S)

             Aquele velho barulho de água saindo do galão do bebedouro ecoava no corredor mais próximo da sala de espera do hospital de Moonhill. O lugar estava um pouco desgastado pelo tempo, tendo apenas uma placa prateada grudada na parede da recepção, justamente para dizer que apenas uma vez aquele hospital foi reformado. O grupo da banda do colégio ainda estava presente, com a única ausência de Cadu agora, pois logo que recebeu a ligação de seu namorado, foi para casa, tentar entender o que tinha acontecido. Yuri pediu segredo, então o garoto não contou a ninguém o que supostamente o novo bibliotecário tinha ouvido, afinal, poderia estar errado, e ainda não sabia quem era o garoto que tinha visto com a Rayane, apenas que estavam juntos no refeitório.

             Lucila suspirava enquanto tentava parecer confortável naqueles bancos, já que os mesmos eram duros de ferro e gelados por sempre estarem recebendo o frio do ar-condicionado da recepção. Ela já tinha uma pequena vontade de ir embora dali. Odiava hospitais e era um sacrifício que fazia pelo seu querido amigo. Não gostava do cheiro, do clima, do barulho e muito menos quando ouvia que algum quarto precisava de emergência, e nunca gostaria de ouvir o número do quarto em que Gabriel estava.

             Vai ficar tudo bem com ele, ela disse em sua própria mente.

             Ícaro mexia no celular, ele já estava mais tranquilo depois de saber que tudo ocorreu bem. O garoto apenas sentia um velho cansaço, e tentava se divertir mexendo no Tik Tok. Logo uma notificação apareceu em sua tela, o que chamou a sua atenção. O barulho conhecido do aplicativo fez Lucila encará-lo.

             ─ Grindr, Ícaro? ─ Lucila disse quase sussurrando, abrindo a boca, chocada.

             Ícaro ficava corado e um pouco tímido. Luane cochilava em um dos bancos próximos entre eles, se apoiando no outro banco como um travesseiro para dormir.

             ─ Não é nada, eu só usei para descontrair ─ O garoto respondeu baixo, respeitando a sua amiga dorminhoca.

             ─ Hum, claro! Eu faço muito isso! Amo me descontrair ─ Lucila disse maliciosa.

             Ícaro revirava os olhos e sorria. Voltava o foco no celular e, curioso, ia ver quem tinha mandado uma mensagem no aplicativo de namoro gays. A sua atenção aumentou, e ele até aproximou o celular perto dos olhos quando viu que alguém o mandou um tap, mas não pronunciou nada, além de ter nenhuma descrição, ou foto de quem ele era, apenas a sua idade e localização, sendo um dos poucos que usavam o aplicativo naquela pequena cidade. O tap era uma forma de sinalizar para outra pessoa que tinha interesse nela e, no caso, Ícaro ficava pensando, quem tinha interesse nele?

             ─ Quem é? A gente conhece? ─ Lucila perguntou curiosa.

             ─ Pra ser sincero, eu não sei. Está nas sombras como ninguém ─ Ícaro respondeu a sua amiga. Devolveu o tap que recebeu, esperando o moço misterioso se pronunciar. ─ Deve ser algum novato, nesse mês de agosto sempre chega um ou dois novatos.

             ─ Só resta saber se é bonito ─ Lucila disse e logo se corrigia. ─ Bonito não, que seja gente boa já está valendo a pena.

             ─ Não estou muito exigente ─ Ícaro respondeu rindo.

             O assunto cessou quando se viu o médico com o Gabriel, ambos vindo do corredor principal. Gabriel estava com a roupa do hospital e usava muletas para andar. Um gesso engolia seu braço esquerdo e o fato de precisar de duas mãos na sua guitarra o deixava preocupado. O outro gesso fechava toda sua perna direita. Mas, com um sorriso no rosto, o garoto se aproximou de sua turma.

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