Garoto de Londres.

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POV Sara
Não sei por qual motivo mas hoje me deu uma vontade de acordar mais cedo e me arrumar um pouco. Passo o La Vie Est Belle que ganhei do meu pai no meu aniversário de 13 anos porque segundo ele, eu já estava me tornando uma mulher. Eu só uso em ocasiões especiais porque sei que custou muito, mas o que custa usar hoje, né?
Desço as escadas quando estou pronta e vejo meu pai levantar a sobrancelha pra mim.
— Bom dia pra você também, pai. — Dou um beijo na sua careca e me sento à mesa.
— Quem é o garoto?
Eu me engasgo com o gole do café e balanço a cabeça em um desespero frenético.
— Ninguém! Eu juro, ninguém.
— Você mente muito mal, filha. Sara, você se arrumando em plena segunda-feira? — Meu Deus eu sou tão ruim assim?
— Pai, sério — seguro em suas mãos calejadas — não tem ninguém
— Se você diz... — Ele fecha o jornal e coloca ao lado da cadeira enquanto eu continuo tomando café. — Filha, posso te deixar na escola hoje?
— Ué por que não poderia? Só acho melhor não por conta da gasolina, sabe.
— Eu tô com saudade de levar minha filhota na escola... você cresceu tanto... — ele enxuga uma lágrima e eu sorrio.
— Tá pai, para de ser chorão! — Eu rio.
Depois do café ele tira o carro da garagem e eu entro no banco, nós cantamos algumas músicas juntos até a porta do local.
Saio com um aceno e encontro Chloe na porta de entrada.
— Oi! Como você tá?
— Indo. E você?
— Indo também.
Um grupinho de garotas passa por nós, me olham e riem entre si, cruzo os braços.
— Eu vou bater nessas duas hoje ainda, aposta?
— Chloe pelo amor de Deus, relaxa! Vai passar. Eu espero.
O sinal apita e eu dou tchau antes de me dirigir pra aula de sociologia.

Sento em uma cadeira qualquer antes de ver que alguém sentou ao meu lado.
— Oi, Sara
— Oi, Manuela. — Respondo com a mesma indiferença.
Ela morde a ponta da caneta enquanto espera a professora entrar na sala e então se vira pra mim.
— Tá ocupada na sexta?
— Não... — Levanto a sobrancelha — Porquê?
— Agora você tá. 17 horas lá em casa.
— Aniversário?
— Meu.
— Ah ok.
— Mas é uma festa — ela frisa — vai arrumadinha, pelo menos.
Franzo a testa tentando entender o que ela quis dizer mas dou de ombro e assisto a aula.
— Você tá maquiada? — Ela me dirige a palavra novamente, minhas bochechas coram.
— Não...
— Tá sim! — Ela abre um sorriso. — Aposto que é por causa do Jack.
— Não é! — Falo um pouco alto o que faz alguns alunos se virarem pra mim, eu escondo o rosto na mão — Não é, ok?
— Se você diz... — Manuela ri antes de voltar a fingir prestar atenção na aula.

Procuro algum lugar pra sentar na cantina e vejo uma mesa vazia, me sento lá antes de ver Jack passando por mim, aceno pra ele que até me olha de volta mas me ignora completamente e vai até outra mesa. Que porra?
Primeiro ele me persegue, depois me beija e agora finge que nada aconteceu? Quem ele pensa que é?
Depois de alguns minutos com um rosto confuso vejo uma cabeleira loira surgir na minha frente.
— O que foi, Sa?
— Nada não... É que...
— O quê?
— Acho que colocaram uma coisa aqui na bandeja que eu pedi pra tirarem, mas não tem problema.
— Ah sim.
— Aliás, tenho que te contar uma coisa. A Manuela me chamou pro aniversário dela.
— QUÊ? MENTIRA — Ela começa a fazer um rosto triste pra fazer drama — Nem pra você me chamar junto!
— Ela não te convidou?
— Não pessoalmente, pelas meninas da torcida, é tipo, literalmente um dos maiores eventos do ano, você sabe né?
— Não...
— Pelo amor de Deus, Sara.
Ficamos mais um tempo conversando sobre a festa até o sinal tocar de novo.

pov manu.
Quem diria que seguir recomendações médicas realmente ajudava a se curar mais rápido? Meu pé já está bem melhor, ainda não consigo fazer os exercícios mais complexos, ou qualquer coisa que necessite de um pouco mais de força ou algo que possa machucar novamente meu pé, mas mais uma semana e acredito que já está tudo nos conformes.
Hoje pela manhã, um pouco depois de acordar, decidi que eu merecia uma saída após a escola para me deixar feliz depois do machucado, então logo após o almoço já subi para meu quarto me arrumar.
Coloquei um cropped azul claro, acompanhado de um shorts curto, e alguns acessórios. A maquiagem, algo leve, até porque já sou bonita naturalmente.
Não encontrei ninguém em casa, talvez estivessem trabalhando — bem provável que meu pai estivesse no escritório dele — ou saído de casa, igual estou fazendo.
Meu motorista me levou até um dos shoppings, não o que estivesse mais cheio para eu não me incomodar em esbarrar em alguém ou perder a paciência. Fui sozinha mesmo, com o cartão do meu pai na bolsa, sem limite para gastar.
Passei pela Chanel, vendo se acho algum look pra usar no meu aniversário, depois fui na Dior e comprei algumas maquiagens, e antes de fazer parada em outra loja decidi parar para comprar um sorvete.
Um passo para fora da sorveteria abri um sorriso quando vi Ethan passando por perto, segurando uma sacola na mão. Achei que ele não tinha me visto, mas ele veio em minha direção.
— Que surpresa te ver aqui. — um sorriso discreto em seu rosto.
— Surpresa de me ver no shopping?
— Achei que ainda ia estar descansando o pé.
— Se eu posso ir pra escola, posso ir pro shopping. Simples
Ele deu uma risada, abaixando a cabeça.
— Quer dar uma volta?
— Claro.
Demos algumas voltas, sem entrar em nenhuma loja, jogando conversa fora, quando meu sorvete acabou depois decidimos — Ethan praticamente me obrigou — sentar em uma das mesas da praça de alimentação.
— Não fica forçando o pé se não vai passar seu aniversário acamada. — disse, ainda em pé, ao lado da minha cadeira. Abri um sorriso involuntário.
— Você sabe que meu aniversário tá chegando?
— Claro que sei. — bagunçou meu cabelo e se sentou na cadeira à minha frente. 
— Ah, — mexi no colar enquanto falava — você tá convidado pra minha festa. Meio que sempre tá.
— Bom saber. Eu ia aparecer lá de qualquer forma, mesmo se precisasse invadir. — brincou, se encostando na cadeira de um jeito meio relaxado. — Meu irmão vai?
— Não! Não sou maluca de convidar ele. Com todo respeito, ele é insuportável. — deu um sorriso de canto.
— Ele tem seus motivos.
— Não justifica, na minha opinião. — Ethan deu um suspiro meio triste, mexendo com um papel pequeno nas mãos, apoiadas nas pernas.
— Não te culpo, você não sabe de nada. Pouco conviveu com ele.
— Ah. — me sinto meio culpada. — É muito ruim?
— Digamos que nossos pais não são os mais gentis do mundo, principalmente com ele.
— O que aconteceu? — ele me olhou, mordendo a bochecha internamente, pensativo. — Não precisa me contar.
— Não, não. Relaxa. O Lucas sempre foi uma criança bem quieta, na dele. Inicialmente isso não foi um problema, meus pais achavam que ele ia mudar conforme crescesse, mas depois de 5 escolas que não conseguia se adaptar decidiram tomar como verdade que ele era uma criança problemática… Mas não resolveram como pessoas normais, ou pais decentes. Puniam ele por isso, e eu não podia fazer nada contra isso. Quando estava um pouquinho maior ele percebeu que se fizesse merda ia chamar atenção deles, nem que fosse por mal. Aí enfiaram ele num internato, e só tiraram ano passado. Bem resumido é isso ai.
— Nossa, eu… — fiquei meio sem graça em falar qualquer coisa, não sabendo nem como reagir direito aquilo.
— Não precisa falar nada. — era como se ele tivesse lido minha mente. — Acho que eu precisava contar isso pra alguém. Pra tirar o peso, sabe?
— Sei. — coloquei as mãos em cima da mesa. — Pode me contar as coisas se precisar.
Ele deu um sorriso meio triste pra mim.
— Eu sei, princesa. — um calor subiu pelo meu rosto e eu só podia torcer que eu não tivesse ficado vermelha.
Na minha visão periférica, longos cabelos loiros apareceram. Ethan olhou antes de mim, e sua expressão escureceu, todo o bom humor sumindo em poucos segundos. Quando me virei vi que era a garota que tinha me deixado cair, junto com uma outra. Tão irrelevante que nem sei o nome.
— Ei, oi… — disse com uma voz fina que era perceptível que não era a natural dela. — Eu queria saber se…
— Não. — Ethan disse, seco.
— Mas eu não terminei de falar.
— Então termina. — mesmo tom, só fiquei olhando.
— Eu queria saber se você podia me dar seu número. — falava diretamente pra ele, como se eu não tivesse ali. Cruzei os braços, me encostando na cadeira, indignada. — Tem um tempo que tô tentando conseguir, pedi até pro seu amigo.
— E conseguiu?
— Não.
— E não vai. Agora vai, some.
Eu conheço Ethan faz muitos anos, e nunca vi ele falar daquela forma com ninguém, fiquei surpreendida. E não vou mentir, achei meio atraente.
A garota não demorou nem 2 segundos pra sumir da praça de alimentação. Olhando um pouco mais pro rosto dela percebi que era a mesma garota que estava na porta da minha casa esses dias.
— Nossa. — falei.
— Hm? — sua feição voltou a ser gentil.
— Nada não.

Ficamos conversando por mais uma meia hora antes dele me levar pra casa. Ele já tem carteira de motorista e um carro faz um tempo, mas nunca tinha me dado carona ou qualquer coisa porque nesse tempo eu estava em outro país.
Quando cheguei em casa fui pra cozinha e encontrei meu irmão sentado em um banquinho, comendo um sanduíche na ilha.
— Ei.
— Que. — respondeu de boca cheia.
— Aquela garota que tava aqui esses tempos. Que eu te perguntei se era sua namorada. Ela tinha vindo pedir o número de Ethan.
— Uhum.
— Ata. — subi as escadas sentindo algo estranho no peito.

Pov Luna.
Me reviro na cama, não quero acordar. Já tinha um tempo que nada ocupava minha mente, nem mesmo o Franklin.
— Ai, sabe o que te falta?
— O que? — Digo tentando puxar o fio do telefone pra chegar no banheiro.
— Uma coisa meio cilíndrica com uma cabecinha rosa, da duas mãos mais ou menos. Batendo bem na sua cara.
— Que? Ah, Manuela.
— Desculpa, é a verdade! — Desligo e me arrumo para ir a escola.
As aulas estavam insuportáveis, agora era História e eu estava quase dormindo na mesa, desperto com o sinal da escola. Resolvo ir matar aula no jornal. Abro a porta e ninguém está lá, me da um certo alivio.
Meu coração paralisa por alguns segundos ouvindo o som de uma porta se abrindo, lentamente deslizo pelo sofá e levanto a cabeça sob as persianas da janela do escritório que permite ver o cômodo do lado.
— Lua, abre isso.
— Que susto, Tyler. — Abro a porta e me posiciono ao lado do encosto. Ele estava com um capacete de moto apoiando sobre o cotovelo, acaba pressionando seu braço e destacando suas veias, quase babo.
— Está matando aula?
— Sim.
— Eu voltaria pra sala, a Sra. Monroe faleceu.
— O QUE? Tyler, não pode ser. — Sra. Monroe é minha professora de física, minha professora favorita. Suas aulas eram calmas devido a sua idade avançada, me notificam que ela havia morrido no fim de semana pacificamente. Volto a sala na aula que devia ser dela, achando que é vaga, me deparo com a sala vazia com apenas uma pessoa lá dentro.
— Ah, oi. — Digo abrindo a porta com a mochila nos ombros.
— Meio tarde para deixar a mochila na sala, né? — O sotaque britânico ecoa nos meus ouvidos, sua roupa mesmo sendo de manga longa marcava sua presença na academia.
— E você é quem pra falar alguma coisa? Aluno novo já chega assim, folgado.
— Você trata novatos assim?
— Só os mais desinteressantes.
— Bom, então devo me apresentar. — O loiro se aproxima e estica a sua mão. — Prazer, Sr. Alwyn. Seu novo professor de física.
— Puta que pariu. — Ele abaixa a cabeça rindo igual a merda de um golden retriever.
— Entendo sua frustração.
— Não devia. Prazer, Luna Laurent. — Ele não estranha, parece que já sabe.
— Bom, Senhorita Laurent. Será ótimo ter sua companhia em minhas aulas. — Ficamos em silêncio um tempo até eu perceber que não posso flertar com professores. Droga. O sinal toca e eu jogo minha mochila e me despeço rapidamente, saio correndo pra qualquer direção que eu não encontrei ninguém que não deva.  Encontro alguma menina do comitê e a puxo no canto.
— O novo professor, é fixo?
— Acredito que sim, sua vaga já estava garantida antes do falecimento da Monroe.
— Mas que inferno!
— Não gostou do Sr. Alwyn?
— Esse certamente é o problema. Como que contratam ele? Ele é tão... Novo?
— Aparenta, mas ele já tem doutorado e os caralho de quatro.
— Quantos anos ele tem?
— uns 30, 31.
— Mas que merda. Obrigada, sei la qual seu nome for.
De noite chego em casa com um sono absurdo, durmo e só acordo as 3 da manhã com o meu celular pipocando de mensagens.
“Mensagem de: Justin.
Que porra é essa? Você acha bonito? Mulher minha não conversa desse jeito com homem nenhum.”
Abaixo abria um anexo com uma foto minha conversando com o Sr. Alwyn, começo a ligar desesperadamente a Justin mas sem retorno. Começo a chorar pensando que posso ter estragado o que temos por não ter apagado meu fogo.

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⏰ Última atualização: Jun 05 ⏰

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