Zayn
Minha missão nesse mundo é sofrer.
Deus não disse " Desce e arrasa", ele disse " Desce e se fode".
Eu só me fodo nessa merda.
Me sinto um imprestável nesse mundo.
Sou tão inútil, que nem consigo me matar. E ninguém quer matar um inútil como eu.
Então, meu maior castigo e viver dia após dia com essa angústia que corroendo meu coração, como escaravelhos na carne putrefata.
Não estou exagerando, minha vida é ruim mesmo.
Aos 12 anos, eu fui vendido para um velho.
Sim, vendido.
Como um pedaço de carne no açougue.
Vendido por míseros $700 dólares, vendido como uma mercadoria barata, igual porcelana chinesa, daquelas que vendem em lojas para tirar dinheiro dos turistas.
Nunca conheci meu pai, e minha mãe era alcoólica e viciada em heroína.
Minha mãe me vendeu para pagar suas dívidas com os traficantes da cidade para comprar mais drogas e bebidas, e se afundar cada vez mais. É doloroso você perceber que sua mãe valoriza mais uma seringa de heroína do que o próprio filho. Eu nunca mais a vi, e nem quero ver.
Desde que o velho me comprou, foram 08 anos de sofrimento.
Ele dizia para todos que eu era seu sobrinho do interior de Kentucky. Eu tinha professores particulares em casa para me ensinarem o necessário durante o dia, e a noite começava meu sofrimento. Eu vivia preso dentro daquela casa, naquela maldita fazenda.
Até o dia em que fui jogado a minha própria sorte nos swamps [Nota da autora: Swamps: Pântanos]
Andei sem rumo por uns dias, até que cruzei com Koenma na rua.
Ela me levou para sua casa, cuidou dos meus ferimentos, me alimentou e me tratou como gente. E pela primeira vez em anos tive uma noite de sono tranquila.
Koenma sempre me tratou muito bem, sempre foi carinhosa. Ela diz que sou o filho que ela não teve, eu a ajudo na lojinha e ela me paga por isso, e morava com ela até alguns dias atrás, quando aluguei minha pequena, fria e horrenda casa. Meu cantinho vazio que transborda solidão.
Mas coisas estranhas estão acontecendo.
Sinto que estou sendo seguido por todos os lugares.
Sinto que tem alguém observando tudo o que faço.
Sinto que tem algo velando meu sono.
Koenma está muito estranha, e me disse para tomar cuidado, pois tem um íncubo na cidade e que ele está me perseguindo, e que ele quer me matar.
Até parece que um íncubo vai me querer, sou tão imprestável que nem um demônio me quer, já que minha existência não vale nada.
Deve ser impressão minha, coisa da minha cabeça.
Qual é a graça de derrubar alguém que faz do chão o seu apoio diário?
É como chutar cachorro morto.
No meu trabalho, não costumo falar muitos com os clientes que entram na lojinha. Sou gentil com todos, falando apenas o necessário. E não quero decepcionar a vovó Koenma.
E também porque sei que ninguém quer me ouvir.
Mas ontem, entrou um cara na lojinha, já passavam das 03 horas da tarde.