Capítulo 4

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Octavia 

   — Nossa, você fez eu me sentir bem melhor. — Reviro os olhos cruzando os braços. Idiota.
— Que bom. — Ele sorri sarcasticamente e minha única vontade era de afundar meu punho na cara dele. Ele estragaria tudo.
A essa altura do campeonato eu só esperava voltar pra casa viva e a tempo, e também, que ninguém tivesse entrado no meu quarto, porra. Eu definitivamente já havia perdido a paciência.
— Olha quer saber? Eu gostaria que você me dissesse pra onde estamos indo, por que se não for pra minha casa e você não me matar, então eu estarei morta de qualquer forma, e a culpa será toda sua. — Digo irritada e seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso de lado e só naquele momento percebi que ele era, huh, atraente?
— Eu não vou te matar, docinho, pelo menos não agora. — Ele segura o volante com uma mão e tira uma carteira de cigarros do bolso, colocando um na boca. Em seguida pega um isqueiro dentro do porta-luvas e o acende, baforando a fumaça para a rua.
Maldito vício. Meu pai já levou duas facas e o que vai matar ele vai ser essa porra, certeza.
— Bem, e como eu vou saber se isso é verdade?
— Quer que eu jure de mindinho? — Kaden olha para mim dessa vez e levanta a mão apenas com o mindinho levantado, minha vontade era de mandar ele se foder mas não queria ter minha língua arrancada hoje.
— Não.
— Então fique quieta, sua voz está me dando enxaqueca. — Nossa, ele era um otário.
— Poxa, sério? Então me deixa ir embora caralho! Sua companhia é uma merda. — Droga, droga, droga, por que eu não podia manter meus pensamentos somente na minha cabeça? Por que eu tinha que verbalizar todos eles? Puta merda.
— E você acha que eu me importo? — Ele responde em um tom profundo e ameaçador.
Olho para as suas mãos e as juntas dos seus dedos estavam brancas pela força que ele apertava o volante, e podia jurar que talvez ele estivesse imaginando o meu pescoço no lugar.
Suspiro desistindo, acho que era melhor eu aceitar que talvez ele não me matasse hoje, mas que podia me manter em cárcere privado ou coisa do tipo apenas por eu ter presenciado um homicídio.
— Você é surda? Eu te fiz uma pergunta. — Kaden volta a dizer e minhas sobrancelhas se juntam em confusão. Qual era o problema dele?
— Você literalmente mandou eu ficar quieta, o que você quer eu eu diga?
— Seu pai é Damon Torrance não é?
Meu sangue congela nas veias, como ele sabia disso?
— N-Não. — Minto. — O que te faz pensar isso?
— Não? Você é idêntica a ele. — Kaden diz agora mais relaxado dirigindo apenas com uma mão, enquanto a outra jogava a bituca de cigarro pela janela. — E eu e seu irmão fomos colegas de sala no ensino médio.
Eu não sei como isso podia ficar pior, sério.
Pelo menos, estávamos indo para Thunder Bay novamente, soube assim que vi a placa na rodovia, graças a Deus.
Decidi ficar quieta quanto ao comentário dele, eu não sabia muito bem o que fazer com essa informação, mas só de ele saber quem era o meu pai já me dava um pouco de medo, não quero envolver minha família em futuras merdas se esse cara for louco.
— Você viu o que não deveria ver, Torrance. Você acha mesmo que eu deixaria você voltar sem ter certeza que ficaria de bico fechado? — Ele fala calmamente dessa vez. — Eu não sou um monstro, você estará na sua casa em breve.
E de repente, um ar que eu nem sabia que estava prendendo deixou os meus pulmões em alívio. Era tudo o que eu precisava ouvir.
Me afundando cada vez mais no banco eu finalmente relaxo, Kaden continuava sendo a porra de um assassino, mas assim como fiz quando o vi atirando naquele homem, eu faria agora, não adiantaria de nada eu entrar em pânico, isso só me atrapalharia, a única opção que eu tinha no momento era confiar na palavra dele.
Depois de alguns minutos ele entra em um posto de combustível e sai do carro batendo a porta atrás de si. Sinto o cheiro de gasolina e olho para trás sorrateiramente para ter certeza de que ele estava enchendo o tanque. Agora com mais luz, eu pude ver de longe e confirmar a dúvida que tinha, ele tinha olhos castanhos escuros, assim como os meus, mas uma fenda azul traçava o seu olho direito na vertical, logo embaixo da pupila, o quão raro aquilo poderia ser?
Volto a olhar para frente e meu coração quase sai pela boca quando vejo nada mais nada menos que o meu tio Will dentro da loja de conveniência bem na minha frente. Deito o banco imediatamente e cubro o rosto com um casaco que tinha achado no banco traseiro.
Mas que merda ele estava fazendo aqui depois da meia noite? Será que estava indo para o Delcour? Dar uma volta em Meridian? Porra, qual a probabilidade?
— Que merda é essa? — Ouço a voz de Kaden assim que ele volta para o carro, mas não movo um músculo.
— Nos tire daqui o mais rápido possível. — Digo entredentes.
Ele abafa uma risada e em poucos segundos o carro vibra sob o meu corpo agora rígido. Espero mais alguns minutos e quando a superfície fica lisa embaixo dos pneus eu supus que estávamos de volta a autoestrada.
— Meu tio estava na loja de conveniência, eu quase infartei. — Tiro o casaco do rosto e volto o banco para onde ele estava anteriormente.
— Ainda bem que ele não te viu então, não estou com cabeça pra ficar arranjando briga por aí.
Realmente não seria nada bonito se o Will me visse no carro de um estranho quase duas da madrugada, e quando perguntasse "que porra é essa?" Eu teria que dizer a verdade e ele teria que esconder isso com ele para me proteger do meu pai. O tio Will era muito fiel as pessoas, ele sabia mais segredos meus do que qualquer um na nossa família, mais até mesmo que o tio Michael, por que se meu pai pressionasse ele um pouquinho, ele acabava cedendo sempre, infelizmente.
Eu queria poder dizer que era muito amiga dos filhos dos meus tios mas a verdade é que só sou chegada ao Madden, porém ele se mudou para outro estado por conta da faculdade, então nós nos falamos somente online, mas ainda sim era grata por ter um amigo que me ouvisse e aconselhasse. Mia estava longe disso, quero dizer, ela não era uma má amiga (o tempo todo), mas as vezes faltava nela o que eu mais precisava, que era apoio e bem, um ombro para que eu pudesse chorar e alguém com quem desabafar.
— Você vai me levar pra casa agora? — Pergunto tirando o meu celular no bolso de trás da minha calça jeans. Duas e vinte e três da manhã. Dava tempo.
— Caralho, você é muito impaciente. — Kaden reclama de olho na estrada.
— Eu já compartilhei com você a minha situação assim que entrei nesse carro. — Protesto. — Achei que você já tinha entendido.
— Eu vou ter que passar em casa...
— O que?! — Praticamente grito, esquecendo-me completamente que eu estava compartilhando o mesmo ambiente que um assassino. — Está brincando?
— Não. — Ele diz sério, olhando-me de canto de olho como se quisesse arrancar minha cabeça.
— Porra... — Sussurro revirando os olhos.
— Revire os olhos para mim de novo e eu juro que faço um belo colar com eles. — Ele segura o meu pescoço trazendo-me para perto do seu rosto — Não se esqueça que você está no meu carro, então tenha mais respeito.
Assinto lentamente e ele me solta voltando a sua mão para o volante enquanto massageio o lugar onde ele segurou.

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Quando finalmente o carro passa por dois portões de ferro eu suspiro aliviada em saber que esse pesadelo estava acabando, e ainda não era três da manhã.
A casa de Kaden era grande e sua estrutura me lembrava um pouco as construções da Inglaterra, algo antigo e mais sofisticado. Ela tinha pelo menos três andares e um enorme chafariz há uns dez metros da porta principal. Era muito bonita.
Vejo Kaden sair do carro depois de estacionar o carro por ali mesmo e espero pacientemente até que ele desse a volta no carro para abrir a porta do meu lado. Assassino? Sim. Mal educado? Nunca. Ahn, bom, parcialmente.
Assim que ele abre a porta e eu saio do carro ficando perigosamente perto dele, me sinto intimidada, já que ele facilmente tinha mais de 1,90 de altura.
O sigo sem dizer uma palavra, quanto mais rápido isso terminasse, mais rápido estaria a salvo em casa. Eu teria que bolar uma desculpa muito esfarrapada para não ir almoçar amanhã em St.Killian. O efeito do álcool já passou mas o sono não me daria trégua.
Ele abre a porta da frente e a empurra entrando e meus pés pareciam estar colados no chão, meu corpo estava em total estado de alerta, por que depois que eu entrasse ali, tudo poderia acontecer. E então, faço uma estupidez e decido ouvir meu instinto.
— Vai ficar aí parada ou eu vou ter que te arrastar? — Ele pergunta e no segundo seguinte, me vejo correndo até o portão que ele havia deixado aberto.
Minhas pernas estavam começando a arder quando sinto dois braços ao redor da minha cintura me levantando do chão. Kaden me tinha sobre o seu ombro novamente em menos de cinco minutos.
— Desculpe, foi uma ideia estúpida. — É claro que eu não seria páreo para um homem que poderia ser comparado a uma geladeira duas portas.
— Foi. — Ele diz passando pela porta de entrada fechando a porta com o pé me largando em seguida. — E se você fizer isso de novo eu não serei bonzinho como fui agora. Agora me segue.
Sem falar mais nada o sigo para um sala do outro lado da casa, ele precisa abrir duas fechaduras e assim que a porta se abre e ele acende a luz. Eu solto o ar sorrindo por causa de um pensamento intrusivo.
— O que foi? — Ele diz assim que analisa minha expressão — Achou que eu fosse te açoitar em um quarto vermelho com uma cama de couro preto?
— Na verdade, sim. — Admito. — Por um segundo achei que estava dentro do filme.
— Machucar mulheres não é minha praia. — Ele procura algo dentro de uma gaveta perto da cama que se encontrava bem no centro do quarto. Assim que acha, ele o enfia dentro do bolso e olha para mim novamente. — A não ser que elas peçam.
Nojento.
— Vamos?
— Espera, você me trouxe aqui só pra pegar um pedaço de papel?
— Tem um endereço nesse pedaço de papel. O que foi? Queria ficar mais?
— Não. — Digo séria. — Acredite em mim, eu só quero ir para casa.
— Então vamos logo.
Junto as sobrancelhas um pouco desconfiada, mas decido ignorar isso.
O caminho até a minha casa havia sido rápido, a casa dele não era tão longe, deveria ser há uns 3km da minha no máximo. Peço pra ele parar a uma esquina e ele para ali mesmo.
— Eu te agradeceria, mas hoje só posso te agradecer por não ter me matado. — Digo mais uma vez sem segurar minha língua afiada.
— Disponha.
Abro a porta do carro e a bato sem olhar pra trás, corro como se não houvesse amanhã e quando chego perto de casa, faço todo o trajeto que fiz quando sai, não sendo percebida pelos seguranças.
Entro pelos fundos e quase faço xixi nas calças quando vejo meu pai e minha mãe sentados à mesa de jantar.
— Ah, então chegou a fujona. — Meu pai diz e sinto o meu fim se aproximar mais rápido que uma flecha.

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