Capítulo 2

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Octavia

Ótimo, era pelo menos a terceira vez em que Mia sumia do meu campo de visão, ela era ótima em se esgueirar e me deixar sozinha, eu ainda nem sei por que a considerava como amiga, de qualquer forma, não era como se estivesse me importando com isso no momento, já que havia experimentado Piña Colada pela primeira vez e estava na minha quarta taça, eu acho.
   Bom, eu tinha a sensação de que iria morrer esta noite, e se não morresse, seria expulsa da terra de uma vez por todas, e quem chutaria o meu traseiro em direção ao espaço seria o meu pai, sem que a minha mãe se opusesse, ela realmente entrava em pânico quando eu fugia, acho que ela criou algum gatilho na noite em que fui sequestrada, ela não é tão forte quanto o meu pai quando se tratava de manter o controle.
   Ficando na ponta dos pés, procuro uma cabeça que tivesse cabelos pintados de vermelho, mas obviamente não obtive sucesso, era muita gente e as luzes coloridas não me deixavam diferenciar muito as cores. Droga, a sensação de arrependimento estava a um fio de surgir no meu peito. Essa festa está uma desgraça, e isso que dizia que ela seria alucinante, imagina se não dissesse nada? Meu Deus.
   O tio Michael e a tia Rika eram donos desse lugar, será que eles sabiam quem era o responsável por essa festa de merda? Tenho certeza que o tio Michael demitiria a pessoa que fez isso se estivesse aqui. As bebidas são ótimas e sofisticadas, mas o DJ definitivamente não sabia como levar essa galera a loucura.
   Passando pelo meio de algumas pessoas que pareciam estar se divertindo, eu chego ao bar novamente pedindo uma água, meu estômago estava cheio de bebida e tinha certeza que se eu tomasse mais uma gota de álcool eu ia vomitar tudo em cima do barman.
   Depois de alguns minutos que mais se pareciam horas, dois caras se estranharam não muito longe de mim, e tinha certeza que um deles estava bem atrás daquele garoto, o Kaden. Ele provavelmente deveria ser seu amigo ou coisa assim.
   Pegando meu celular no bolso eu digito rapidamente uma mensagem para a Mia que tinha simplesmente desaparecido e aquilo estava começando a me preocupar.

"Cadê você, porra? Estou te procurando há quase 30 minutos. Está na hora de sairmos daqui, pelo que parece, dois caras vão se pegar na porrada e eu não quero levar um soco sem querer por sua causa."

   Me afastando do bar depois de ter tomado a minha água, eu não queria ficar mais naquela festa e perto daqueles caras, apesar de eles terem parecido querer resolver lá fora. Minhas pernas já estavam começando a ficar doloridas e pelo que tinha visto todos os assentos estavam ocupados, quem coloca só dois sofás pra um lugar enorme como este?
   Sinceramente, sempre dava para piorar.
   Já havia se passado quinze minutos e eu estava prestes a ficar irritada, e muito mais pelo álcool presente no meu sangue, infelizmente, tudo o que eu sentia era multiplicado quando estava bêbada, — ou quase bêbada — a Mia ainda não havia me respondido e eu só queria ir para casa.
  Abrindo a porta para o corredor e a fechando atrás de mim eu saio da festa e respiro o ar puro, sem fumaça sintética ou de cigarro. Passo a mão pelo cabelo antes de pegar o caminho até o elevador, e se Deus quisesse, eu chegaria em casa enquanto todos estivessem no décimo sétimo sono. Tinha certeza que Mia havia conhecido algum cara na festa, geralmente esse era o motivo dos seus sumiços, e bem, eu não vim com ela, então não deveria esperar por ela para ir embora, nesse quesito, eu era bem egoísta e não estava nem aí.
   Chegando ao térreo e saindo para a rua eu respiro fundo colocando a mão nos bolsos. Quem sabe uma caminhada para fazer o efeito do álcool diluir um pouco?
    Se eu acordasse de ressaca todos saberiam, até mesmo por que amanhã, ou melhor, hoje, era domingo. E todos os domingos nós almoçávamos na casa de alguém, e amanhã seria em St.Killian... porra, eu nem tinha pensado nisso, se tivesse não teria bebido, eu sou uma idiota.
   Conforme eu andava, dores de cabeça e náuseas começaram a tomar conta de mim e tive que me esforçar para manter o foco nos meus pés para não perder a força nas pernas. Um passo de cada vez e eu chegaria a lugar nenhum, apenas até onde eu tivesse certeza que estaria parcialmente sóbria.
   Passando por um estacionamento de comércio eu vejo um grupo de rapazes e me arrependo instantaneamente de ter saído de casa.
   Sentindo o meu coração quase sair pela boca eu recuo alguns passos sem que qualquer um deles tenha me visto e me escondo atrás de um carro estacionado ali, tento controlar a minha respiração e não surtar, e em poucos minutos tudo havia se acalmado, não poderia entrar em pânico em momentos como este, e agradeço mentalmente ao tio Kai por esses exercícios.
  — Eu avisei você que se não conseguisse a grana até hoje de noite eu ia cobrar de outra forma. — Ouço uma voz grave vindo de um daqueles caras e quando ergo um pouco a cabeça vejo o mesmo rapaz que conversou comigo mais cedo e que Mia havia me alertado. Kaden.
   Então ela não estava blefando, era verdade mesmo, ele é perigoso.
   — Por favor, K. — O homem praticamente atirado em cima do capô de um carro implora — Eu vou conseguir, eu juro, só me dê mais uma semana, se eu não conseguir, te pago com minha vida.
   Puta merda.
   — Acontece, meu querido, que sua vida não vale nada para mim. — Kaden se aproxima do rosto do homem, pairando sobre ele. — Eu ainda fui gentil em te oferecer duas semanas, mas eu não serei gentil pra sempre.
   Ele se afasta e aponta uma pistola para a cabeça de seu devedor. Ele aperta os lábios e parece um pouco na dúvida se faria aquilo ou não, e então, sua mão desce e ele atira no peito do homem, e não sou capaz de deixar o grito que se alojou na minha garganta dentro da minha boca. O sangue começou a escorrer pelas laterais do carro branco e meu olhar era de completo pânico e assim que olho para Kaden novamente, ele tinha seus olhos em mim.
   Eu estava perdida.

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