Capítulo 13

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Octavia

— Me passa a salada, por favor. — Peço a Gunnar que estava mais à ponta da mesa.
— Aqui — Ele responde me entregado a cumbuca.
Agradeço e coloco uma porção no meu prato.
Fazia um tempo desde que nós sete não jantávamos em família. Fiquei surpresa por chegar em casa e a mamãe falar que precisava da minha ajuda para fazer um frango assado com batatas que era o seu carro chefe na culinária.
O jantar havia me feito esquecer temporariamente do que tinha acontecido hoje pela manhã.
Eu estava tão entregue que podia jurar que se meus pais soubessem do ocorrido, colocariam meu nome de Vergonha ou talvez, Decepção. Se bem que eles não são exatamente uma referência para me julgar, meu pai teve seu psicológico arruinado por muitos anos e acho que isso me fazia banalizar um pouco o comportamento de Kaden.
Eu admito que gostaria de conhecê-lo mais apesar do seu péssimo hábito de ser egocêntrico e meio obsessivo. Tudo beeeem, MUITO obsessivo, e não podia negar que nesses dois meses eu me peguei pedindo mentalmente para que ele me procurasse, não só por ele, mas, pelo que ele me fazia sentir.
Era como um misto de emoções... todas dentro de um liquidificador onde eu não conseguia distinguir se o que estava sentindo era ódio, raiva, excitação, aflição, luxúria ou todas elas ao mesmo tempo, e por mais que detestasse admitir, eu adorava aquilo pra caralho.
Em um momento queria distância, e no outro, queria que ele pusesse suas mãos em mim. Assim como um jogo de gato e rato, onde ele pega a presa e a toma para si sem contestações.
E droga, eu gostei tanto de ter feito o que fiz escondido com ele e...
— Tavi! — Minha mãe me chama e eu pulo na cadeira assustada.
Eu tinha que parar de ir para o mundo da lua enquanto tivesse alguém junto comigo.
— Desculpe mamãe, o que foi?
— Perguntei sobre as aulas de dança, a Jett disse que vai abrir uma nova turma essa semana, por que você não volta? — Ela diz com o olhar em um ponto acima da minha cabeça.
— Eu não sei, mãe. Acho que dança já não é mais o que me inspira. — Murmuro mexendo na comida com o garfo — Pensei em aulas de tiro ou aprender alguma luta com o tio Kai.
De repente, meu pai começa a tossir na cadeira freneticamente, não sabia se estava engasgando ou se havia se afogado com a bebida.
— Porra, — Ele exclama, irritado — aulas de tiro? Tá de sacanagem?
— Pai eu sei que só posso fazer aulas daqui dois anos, mas o tio Michael podia me ensi...
— Não Octavia, eu falo com o Kai amanhã sobre as lutas, é bem mais útil para você. E além disso, todos os seus irmãos já treinam com ele.
Assinto em resposta e não toco mais no assunto, mamãe parecia arrasada, acho que o sonho dela era que eu dançasse balé assim como ela, e apesar de ela ter me ensinado um pouco aos oito anos, desde aquela época soube que aquilo não era para mim.

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Acordo-me no meio da noite com um barulho alto vindo da rua, de início achei que poderia ser alguém soltando fogos, mas depois que a sonolência foi passando, percebi que o barulho era mais curto e estridente. Como um tiro.
Levanto-me da cama em um pulo e caminho até a janela, espiando para o lado de fora da rua, havia uns cinco homens ao redor de um que estava no chão, eles discutiam e suas vozes grossas cortavam o ar a ponto de poder ouvir ruídos de onde eu estava.
Varri os olhos por mais uns segundos até ver um pouco da figura ensanguentada no chão.
Ah, merda!
Maldito dia em que os nossos seguranças tiraram folga, eles teriam parado aquilo, porém meu pai estaria em casa o dia todo, então os liberou pela noite.
Pego meu roupão e o coloco por cima do meu corpo tendo certeza que a pessoa em que vi no chão se parecia com Kaden, mas, o que ele pretendia tão perto das redondezas? A casa dele ficava no outro bairro.
Droga, infelizmente meu momento quente com ele me fez esquecer totalmente que ele fazia parte dessa merda que eu nem mesmo tinha entendimento sobre o que era.
Desço as escadas silenciosa como um gato, apenas com as meias nos pés para evitar o barulho do solado no piso.
Assim que chego ao vestíbulo vejo Mickhail, já velhinho em sua caminha. Ele levanta a cabeça mas ignora completamente o fato de eu estar saindo escondida pelos fundos, assim como um senhor que tem mais o que fazer do que monitorar uma adolescente irresponsável. Ele não estava nem aí para as minhas escapadelas noturnas.
Destranco a porta passando pelo jardim e faço a volta me esquivando perto de uma viga que dava para a chaminé.
— Agora será seu fim. — Ouço um dos rapazes falar em cima do corpo que agora eu tinha certeza que era de Kaden. — Tchau, tchau, desgraçado.
— PAREM! — Grito na direção deles saindo completamente da penumbra. — Seus filhos da puta!
Ok, eu não tinha medo da morte mesmo, acho que tinha levado muito a sério quando o tio Kai e meu pai disseram pra eu ter coragem, o problema, é que a única parte que eu havia me esquecido naquele momento, era que eles disseram pra eu ser corajosa, não burra.
— Sujou — Diz o rapaz que estava ameaçando Kaden há momentos atrás.
— O que está fazendo? Mate-o! — Outro que estava de costas pra mim praticamente grita para o colega.
— Vamos embora, aquela é a filha do Damon Torrance, parceiro.
— E?
— E que eu não vou ficar aqui para ter a minha jugular cortada, vamos logo, ele já está ferido!
— Porra! Tá caralho! — O cara que estava de costas pra mim vira o rosto dando-me uma olhadela mas não transmito medo no meu olhar.
Os vejo entrando em um jeep e cantando pneu no minuto seguinte saindo dali.
Assim que eles somem de vista eu corro até o portão, e pensando que faria muito barulho —de novo — indo até a porta principal e a abrindo, eu retiro o roupão de cima e faço o que sempre fiz de melhor, pular aquele portão. Eu já era expert naquilo.
Sinto a temperatura gelada praticamente arranhando minha pele desnuda, mas não tinha tempo para isso.
Coloco um dos meus pés na grade e me impulsiono para cima, chegando até as lanças, nessa parte eu tomava cuidado, por que apesar delas não terem fio, qualquer peso em cima delas era bem doloroso, passo a perna para o lado de fora e pouso gloriosamente do outro lado.
— Puta merda, Kaden. — Chego até ele que grunhia de dor, sangue escorria pelo seu nariz e boca. — Você levou um tiro ou foi esfaqueado?
Ele balança a cabeça negativamente.
— Só surrado, — Diz ele em um gemido de dor. — mas estou bem.
— Certo, então levante e saia da frente da minha casa. — Digo me levantando de repente.
— Mas que porr...
— Você ficou louco? Se eles te pegaram aqui é por que você já estava aqui. — Digo fora de controle, ele perdeu a noção?
— Não começa Octavia, apenas me ajude a levantar.
— Implore. — Cruzo os meus braços sobre o peito.
— Puta merda, era pra eu ter quebrado esse pescocinho quando tive a chance. — Ele consegue se sentar, mas levantar parecia impossível. — Eu nunca implorei nada para ninguém.
— Pra tudo tem uma primeira vez, — Ergo uma sobrancelha esperando que ele o fizesse logo — E não demore, você está sujando a calçada.
Ele tenta se levantar uma ou duas vezes, mas bufa assim que percebe que não conseguiria. Isso foi por todas as vezes que ele fez eu me ferrar, idiota.
— Certo, certo... — Ele suspira — Por favor, docinho, me ajude a levantar do chão e te farei o melhor oral da sua vida.
Meus lábios se curvam em um sorriso sarcástico.
— E quem te disse que quero isso?
— Puta merda, Octavia! — Ele fala um pouco mais alto — Eu vou te matar quando melhorar, porra!
— Agora mesmo que eu não vou te ajudar, — Digo me afastando — afinal, quero viver muito ainda.
— Puta que pariu... Octavia, me ajude, por favor, meu estômago dói e eu não consigo me curvar para levantar, é sério...
Poxa, se ele não estivesse tão mal eu poderia continuar a zoar ele. Mas realmente o chão já estava vermelho o suficiente.
Reviro os olhos sem que ele percebesse e me abaixo perto dele, colocando um dos braços por cima dos meus ombros.
— Você fica uma delícia nesse babydoll, sabia? — Ele diz assim que finalmente consigo com que ele ficasse em pé.
— Não fode. — Olho para ele e ele tinha um sorriso estampado em seu rosto apesar da dor que o atingia em cheio. — Você sequer consegue dirigir.
— Consigo.
— Não consegue não. — olho para o portão novamente e percebo que esse seria a única alternativa para cuidar de suas feridas. — Você vai ter que pular o muro.
Ele ri sem olhar pra mim, mas quando percebe que estaco meus passos e minha expressão continuava séria ele me olha confuso.
— Pirou? Eu mal consigo andar sem querer me matar logo pra dor passar.
— Eu te dou pézinho.
— Prefiro a sua buc...
— ANDA LOGO! — O interrompo antes que ele concluísse a sentença. Nojento.
Ele revira os olhos e penso em ameaça-lo de volta, mas nós teríamos que sair da rua logo, antes que alguém testemunhasse essa merda toda.

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