Diego despertou do seu sono profundo quando escutou alguém batendo, na primeira oportunidade ignorou pensando que fosse fruto da sua imaginação mas o som de algo batendo contra a madeira ressoou duas vezes.
Soltou um resmungo insatisfeito. Olhou para o relógio do seu telemóvel que indicando que eram quase duas da manhã.
Literalmente arrastando o seu corpo, os seus pés tocaram o chão frio quando começou a caminhar mesmo cansado foi atender a porta, os seus dedos envolveram o metal frio da maçaneta antes de gira-la. Assim que abriu a porta, arregalou os olhos incrédulo com o que via.
— Carlos? — Diego indagou para ter a certeza que a sua mente não estava lhe pregando partidas. Carlos trazia vestido um calção confortável que ia até um pouco acima dos seus joelhos e uma camisa de manga curta e nos pés calçava pantufas brancas e na ponta tinha o formato do focinho e orelhas de um gato que Diego achou fofo.
De queixo erguido, Carlos encontrou os olhos confusos de Diego. O cabelo castanho escuro do capataz estava desarrumado e cobria parcialmente o rosto de Diego, o seu dorso desnudo atraiu atenção do homem negro, os braços fortes que haviam envolvido a sua cintura tantas vezes.
A sua pele branca mostrava os músculos fortes que havia sentido na noite que fizeram sexo mas baixou logo os olhos antes que tivesse mais ideias maliciosas.
Se arrependeu logo da sua decisão ao se deparar com o abdômen definido do outro e as veias que iam descendo pelo seu umbigo para o lugar que havia o deixado sem sentar direito nos últimos dias.
— Vou dormir aqui — Sussurrou entrando no quarto do capataz que ficou sem saber como reagir quando Carlos se deitou na sua cama.
— O que está esperando, seu idiota? — Diego fechou a porta voltando para o seu quarto ainda confuso com as acções do outro.
O menor sentiu o seu coração batendo forte quando o maior subiu na cama bem próximo a ele, ansioso por sentir o seu calor de novo mas não foi isso que aconteceu.
Incrédulo, Carlos observou o maior pegando a almofada e um cobertor que estendeu no chão para poder se deitar. Na cabeça de Diego aquela era a única maneira de respeitar o outro.
Furioso, saiu da cama e segurou o braço forte de Diego que manteve a calma de costume.
— O que está fazendo? — O maior soltou um suspiro longo antes de se voltar para Carlos que engoliu seco quando os olhos dourados pareciam ver através da sua alma.
— Você me evita durante dias depois de ter relações comigo e de repente aparece no meu quarto no meio da madrugada sabendo exactamente o que eu sinto por ti, acha isso justo? — Diego passou a mão pelo cabelo tentando manter a calma, a sua mãe ficaria louca se soubesse que se exaltou com a pessoa que gostava.
— Sabes muito bem que te quero, que te desejo como naquela noite e eu respeito que não queiras falar sobre isso mas não me tortura assim, Carlos — Enlaçou a cintura do outro. Carlos sentiu a sua pele formigar ao lembrar do toque de Diego, os olhos castanhos ganhando coragem encararam o queixo coberto pela barba e logo depois os olhos que lembravam o mel.
— Foi errado eu fazer sexo contigo sob efeito de álcool e sem você estar pronto, me arrependo por isso — Carlos baixou o olhar sem coragem para enfrentar o mais alto.
— Eu… não sei — Diego o soltou. Desesperado, Carlos ergueu parcialmente os seus pés tentando alcançar os lábios de Diego, porém este último se desviou.
— Temos muito trabalho amanhã, acho que melhor se deitar — Carlos segurou as lágrimas que encheram os seus olhos. Ele sabia que aquilo iria acontecer, Diego o descartaria assim que conseguisse sexo.
— Que seja como você quiser — Diego tentou alcançar o outro antes que saísse do quarto mas desistiu, aquilo só iria piorar as coisas.
— O que merda estou fazendo? — Praguejou com as mãos no cabelo volumoso frustrado. Ele queria um relacionamento com Carlos mas não podia forçar ou insistir estar com alguém que não conseguia se aceitar.
Na manhã seguinte, Diego levantou muito cedo para tomar o matabicho e ir trabalhar, talvez dar umas voltas com Zorro para espairecer e assimilar o que aconteceu durante a madrugada.
Diego ergueu a sobrancelha confuso quando encontrou Consuelo, Bruno e os gêmeos num círculo como se estivesse escondendo alguma coisa.
— Bom dia! — Cumprimentou fazendo-os se assustar, ali teve a certeza que eles estavam planeado alguma coisa.
— Que susto, menino — Diego coçou a nuca envergonhado quando Bruno levou a mão ao peito, quase matou o seu futuro sogro de susto, se acertasse as coisas com Carlos claro.
— Desculpe. Eu vi vocês concentrados que não consegui evitar se não querer saber o que aconteceu — Toni e Sandra se olharam sorrateiramente quando Bruno, seu pai quis falar.
— Você pode participar também — Consuelo disse chamando o capataz e Sandra bateu na testa, a mulher não conseguia esconder um segredo sequer.
— Cadê a merda do capataz quando preciso? — A voz enfurecida de Carlos ressoou pela enorme mansão e logo veio Joaquim com os olhos marejados.
— O p-patrão está procurando pelo senhor — Diego pegou um pouco de pão com queijo ralado e ovo para comer no enquanto ia caminhando em direcção ao inferno que ele mesmo havia criado.
Encontrou Carlos montando em Estrela, a sua faceta enrugada e o céu nublado criavam um contraste perfeito com ele e a raiva estampada no seu rosto.
— O que houve, Carlos? — Diego questionou curioso por estarem o chamando com tamanha urgência e tão cedo.
— É senhor Torres ou patrão para você e quero que se refira a mim como tal, Contreras — O mais velho disse com arrogância que não surpreendeu Diego, ele já esperava que aquilo acontecesse depois da última conversa que tiveram.
— Tenho uma reunião no povoado é preciso que você esteja lá comigo. Monta no Zorro e vamos — Ordenou partindo com a sua égua sem deixar espaço para que Diego fizesse perguntas.
— O meu filho gosta de ti mas precisa de um tempo para aceitar isso. Seja paciente, por favor — O capataz voltou-se para Bruno que veio com uma marmita preparada por Consuelo.
Bruno tentava incansavelmente convencer o seu filho a aceitar os seus sentimentos por Diego desde o dia que soube que haviam ficado juntos, mas Carlos era teimoso e orgulhoso ao extremo.
Diego montou no cavalo preto majestoso assim que recebeu a marmita de Bruno.
— Contreras! — O seu chefe externizou a sua raiva quando olhou para atrás e não viu o seu capataz vindo até si por isso Diego decidiu segui-lo antes que voltasse a berrar.
— Delicado como uma flor mas duro como aço. O apelido que ele tem faz jus a sua personalidade — Bruno lamentou para Consuelo que veio a passos lentos até ele.
— Só espero que que o Diego não desista do meu filho, ele pode ser a sua única chance de se libertar e ser feliz — Continuou vendo Diego e Carlos cavalgando em direção ao povoado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Translúcido
RomanceNa imponente fazenda da família Torres, Carlos é a personificação do sucesso: rico, másculo e com uma alma indomável. No entanto, por trás da fachada implacável, ele guarda um segredo profundo: o desejo de ser amado por outro homem, apesar de seu or...