Aos poucos eu senti a queimação na barriga diminuir, mas a terrível sensação do absorvente e do sangue entre minhas pernas ainda me incomodava. Afinal não sei quem escolheu por mim, mas claramente escolheu errado quando decidiu que eu seria mulher.
Olho as horas no celular e vejo que já se passavam das onze da noite, deixo o mesmo de lado na cama e suspiro alto no quarto vazio e escuro.
Vazio.
Eu ainda estava um pouco brava com Patrícia, não foi nenhuma discussão séria, mas o suficiente pra me irritar por um tempo e preferir ficar no quarto, caso contrário a discussão boba poderia se tornar séria.
Mas se já se passavam das onze e ela ainda não apareceu por aqui, significa que ela está dormindo no sofá, eu sei por que ela sempre dormia cedo, bem antes do que eu. Pensar que ela tem a coragem de me deixar sozinha pra dormir no sofá quase me faz ficar brava de novo.
Levanto da cama e pego meu travesseiro, não me preocupo em cobrir os pés e descalça mesmo eu sigo em passos pesados para a sala, o que encontro é a mulher dormindo enrolada na coberta cinza, a TV desligada e somente a luz da cozinha acesa.
Ela realmente planejava dormir ali.
Não perco tempo e meto o travesseiro na bunda dela já que ela está de frente para as costas do sofá e ela ergue a cabeça após o susto.
— Levanta agora daí, vai pro quarto. — Meu tom não saiu alto, porém era sério.
— Hmm, não, você gritou comigo. — Ergo as sobrancelhas numa expressão de surpresa e logo acerto outra travesseirada nela com mais força. — Aí, SN!
— Acha que só por que discutimos eu vou deixar você dormir aí? — Puxo a coberta e vejo ela se sentar no sofá e suspirar derrotada com um bico nos lábios. — Vai dormir na cama comigo, anda.
— Não tá mais brava? — Ela se levanta e pega a coberta dando passos curtos na direção do nosso quarto, eu a sigo.
— Um pouco, já tinha me acalmado da discussão, mas agora você conseguiu me estressar de novo.
— Desculpa, princesa. Achei que quisesse ficar sozinha. — Contenho a vontade de sorrir ao ouvir o apelido carinhoso, entramos no quarto e eu jogo meu travesseiro na cama.
— Tá tudo bem, deita. — Ela faz como eu peço e eu imito sua ação me enfiando debaixo da coberta. — Não é por que discutimos que você pode ir dormir longe, da próxima vez que fizer isso eu te trago pelos cabelos, entendeu? — Vejo seu sorriso crescer e ela me agarra depositando um beijo na minha bochecha.
— Entendi, minha vida. — Acabo sorrindo também e me viro de costas pra ela, permitindo que a jogadora me abrace apertado. — Mas não briga mais comigo, por favor.
— Desculpa, é porque você é uma santinha que nunca faz nada de errado, não é? Eu sou a monstra que sempre puxa briga com você. — Digo sarcástica porém num tom leve.
— Sim, exatamente. Mas tá tudo bem, eu te perdoo mesmo assim. — Beija minha nuca e eu reviro os olhos mesmo que ela não possa ver.
— Bobona.
Curtinho esse mas é baseado em fatos reais 👍