PRÓLOGO

91 20 131
                                    

- Aqui está a filha de Satanás! - Um dos coroinhas anunciou, arrastando a moça até o sacerdote. A acusada de bruxaria estava amarrada diante do altar, onde velas tremeluziam, lançando sombras dançantes nas paredes de pedra da antiga igreja. O cheiro de incenso misturava-se com a poeira no ar, enquanto o som abafado das preces dos fiéis ecoava ao fundo. Apesar das cordas apertadas, sua expressão permanecia desafiadora, seus olhos faiscando com uma força indomável.

- O que diz em sua defesa, sua imunda?! - O sacerdote circulava a moça, buscando alguma reação, mas ela permanecia em silêncio, apenas sorrindo com deboche para ele.

Furioso, o sacerdote apertou os punhos, tentando controlar a raiva que fervilhava dentro dele. - Responda! - ele gritou, mas quando ela não o fez, sua mão agiu por conta própria, desferindo um tapa que a fez tombar no chão. O gemido abafado dela foi seguido por um silêncio pesado, enquanto o padre lutava contra a culpa e a ira que agora o dominavam.

- Você é um ridículo! - Debochou a bruxa, soltando risadas que ecoaram pela igreja, inflamando a raiva no sacerdote. Com um gesto impetuoso, ele desferiu outro tapa na moça, fazendo-a tombar no chão com um gemido abafado.

- Sua pecadora! Filha do demônio! - Ele gritava enquanto chutava e batia na moça indefesa, cujo semblante permanecia inabalável, como se estivesse além do alcance físico da violência.

- Olhe nos meus olhos, padre - A voz da bruxa soou calma, mas carregada de uma intensidade que desafiava a própria essência do sacerdote. Ele hesitou por um momento, sua mente lutando contra a curiosidade e o medo. O olhar fixo da bruxa parecia penetrar sua alma, desenterrando segredos que ele preferia manter ocultos. Lentamente, quase contra sua vontade, ele levantou os olhos para encontrar os dela, sentindo uma estranha mistura de pavor e fascínio.

- Olhe nos meus olhos - Ela insistiu, sua voz ecoando com um poder estranho. Seus olhos, revirando-se, pareciam portais para um mundo desconhecido. Sua pupila dilatava-se, engolindo a luz ao redor. O padre, incapaz de desviar o olhar, sentiu-se cativo de uma força sobrenatural.

- Eu vejo um garotinho chorando ao ver o pai alcoólatra lhe batendo. Eu vejo também a vergonha e a raiva desse menino, vejo-o também se vingando, com várias facadas em seu peito. - As palavras da bruxa ecoaram na mente do padre, trazendo à tona memórias enterradas e emoções há muito suprimidas. Seus olhos se encheram de lágrimas, misturando-se com a ira que fervilhava em seu coração, criando uma tempestade de sentimentos conflitantes, enquanto ele lutava para manter-se firme diante da revelação perturbadora.

- Sua maldita! - O sacerdote gritou, golpeando-a com raiva, ordenando que a amarrassem a um poste de madeira, onde logo seria incendiada. Porém, a praticante de bruxaria não se abalou; seu sorriso desafiador permaneceu intacto enquanto ela observava o fogo, como se estivesse conectada a ele de alguma forma.

- Impossível! - O padre gritou, sua voz transbordando desespero à medida que o fogo parecia responder à vontade da bruxa, criando caminhos sinuosos em direção ao sacerdote, como serpentes famintas.

Ao sentir as cordas afrouxarem, a bruxa ergueu-se com uma calma assustadora. Com um movimento lento e deliberado, ela caminhou em direção ao padre, as chamas ao seu redor formando um caminho sinuoso e ardente. Cada passo era marcado por uma determinação sombria, enquanto o fogo parecia curvar-se à sua vontade.

O sacerdote tentou fugir, mas a bruxa fez com que o fogo se erguesse ao seu redor, formando uma barreira intransponível. O olhar desafiador da bruxa encontrou o do padre, lançando uma sombra de terror sobre seu rosto enquanto ela se aproximava, uma figura sinistra em meio ao inferno que ela mesma havia desencadeado.

- Por favor, tenha piedade! - O sacerdote implorou com medo evidente em sua voz, enquanto a bruxa sorria enigmaticamente, afastando-se lentamente e deixando-o para trás, cercado pelas chamas que pouco antes ameaçavam consumi-lo. Quando ela partiu, um silêncio tenso envolveu o lugar, e, como se obedecendo a um comando invisível, as chamas começaram a se extinguir, deixando para trás apenas brasas fumegantes e o sacerdote atordoado.

Zodíaco - Nas Profundezas do Submundo Onde histórias criam vida. Descubra agora