Abro os olhos lentamente, mas tudo o que vejo é um borrão difuso de cores e sombras. Minha cabeça lateja com uma dor penetrante, como se mil agulhas estivessem perfurando meu crânio. Tento me mover, mas cada músculo do meu corpo protesta com uma dor aguda.
Levo uma eternidade para reunir forças suficientes para tentar me levantar. Cada movimento é uma batalha contra a dor lancinante que irradia de cada centímetro do meu ser. Finalmente, consigo me sentar, apoiando-me com as mãos para não cair de lado enquanto tento fazer sentido do que está acontecendo ao meu redor.
Olho ao meu redor e só esse pequeno gesto custa-me uma pontada de dor. O lugar em que estou é completamente branco, do teto de gesso seco às paredes acolchoadas e chão totalmente revestido por um tapete macio e confortável. Percebo um imenso ecrã na parede paralela a mim, ele é tão grande que ocupa quase inteiramente a parede e é a única coisa que faz o cômodo não parecer um quarto de hospício.
Tento me lembrar do motivo pelo qual estou aqui, ou qualquer outra coisa que justifique a dor de cabeça, o sentimento de desconforto e a ansiedade, mas esse esforço só aumenta a dor de cabeça.
Uma sensação de pânico começa a se insinuar em meu peito. Eu não sei como cheguei aqui, nem por quanto tempo estive inconsciente. E essa dor insuportável na minha cabeça. . . é como se algo estivesse tentando esmagar meu crânio.
Com um esforço hercúleo, finalmente me ponho de pé, apoiando-me em uma parede próxima. Meu coração martela no peito enquanto tento reunir coragem para explorar este lugar, que por mais que eu tente lembrar, não me é familiar.
Dou somente alguns passos, quando, subitamente, um holograma aparece a alguns metros de mim. Sua aparição é tão repentina que me assusto ao vê-lo.
O holograma representa a imagem de um homem. Ele tem o cabelo claro, curto e bem arrumado, olhos escuros e enverga um terno listrado no mesmo tom de preto que os seus olhos. Julgo que ele está mais ou menos na faixa etária dos quarenta anos, mas posso estar errada.
O sujeito primeiramente me analisa de cima a baixo com um olhar cheio de aversão que quase me faz sentir nojo de mim mesma, antes de olhar diretamente para os meus olhos.
− Quem és tu?− pergunto com uma voz fraca.
− Fico feliz em ver que a nossa experiência de emergência foi um sucesso.− essa frase só serve para me deixar mais confusa.− Meu nome é Nelos.− finalmente responde.− Fui enviado para informar-te de algumas coisas antes da sua execução.
Franzo as sobrancelhas. Execução? Vasculho minha mente a procura da razão pela qual serei executada, mas só encontro um vazio inexplicável.
− É normal não te lembrares de nada. Apagamos temporariamente as tuas memórias para que não te lembres de como usar os teus poderes. Também é normal sentires uma dor de cabeça insuportável, significa que o teu cérebro está a procura das memórias que te faltam. Infelizmente não pudemos apagar definitivamente todas as tuas memórias, então para cortar o mal pela raiz, marcamos a tua execução para daqui a alguns dias.
Assim que ele termina de falar, o ecrã atrás dele se ilumina com números em branco e revela uma contagem regressiva pausada em 160 horas.
Procuro incessantemente por uma memória ou algo que prove a mim mesma que eu já tive uma existência. Meus joelhos fraquejam e caio no chão segurando a cabeça entre as mãos, como se isso fosse diminuir a dor que lá sinto.
− Quem sou eu?− pergunto, em meio à dor e às lágrimas que não me lembro de ter derramado.
− És um monstro, uma aberração. Um ser composto de tudo de mau que a natureza tem a oferecer.− uma expressão de raiva substitui a máscara de indiferença quando Nelos diz essas palavras.− Espero que morras da pior forma possível.
O holograma desaparece logo em seguida, deixando para trás um turbilhão de confusão na minha cabeça e uma contagem regressiva decorrendo.
Sinto a dor explodindo em minha cabeça como fogos de artifício, cada estouro mais intenso que o anterior. O meu corpo parece mergulhado em uma onda de agonia enquanto luto para manter a consciência. Meus dedos cavam desesperadamente em minha cabeça, como se pudesse arrancar a dor pela raiz.
Tudo ao meu redor começa a girar, distorcendo-se em um borrão turvo e disforme. Cada som se torna um zunido distante, perdido em meio ao rugido ensurdecedor que ecoa dentro de minha mente.
Eu me debato, esperneio, tentando escapar da dor que me consome por dentro. Meus gritos ecoam no vazio, mas ninguém parece ouvir. O mundo se desfaz em fragmentos ao meu redor, enquanto minha consciência escorrega para o abismo do desmaio.
E então, num último suspiro de resistência, meu corpo cede, afundando na escuridão acolhedora do inconsciente, onde a dor finalmente perde sua voz.
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160 horas para o fim...
Science FictionEla desperta em uma sala branca, estéril, com uma dor latejante na cabeça e um enorme ecrã à sua frente exibindo uma contagem regressiva: 160 horas. Sem memória dos eventos que a levaram até ali, ela está perdida e assustada. A confusão se aprofunda...