Os murmúrios dos meus próprios pensamentos ecoam em minha mente como um eco distante, uma sinfonia dissonante que reverbera em cada canto do meu ser. Estou imersa em uma crise existencial tão profunda que mal consigo distinguir onde terminam meus medos e onde começa a realidade.
A dor de cabeça é apenas uma parte do tormento que me consome, uma faca afiada que perfura meu crânio e se aloja em cada pensamento. Cada pulsação é um lembrete doloroso do quanto a minha existência não faz o menor sentido.
Minhas mãos tremem descontroladamente, uma dança frenética de nervosismo e ansiedade. É como se meu corpo inteiro estivesse sob o domínio de uma força invisível, uma tempestade perfeita que ameaça me arrastar para o abismo do desespero.
Lágrimas escorrem sem controle pelos meus olhos, um rio de emoções que transborda e se espalha pelo chão ao meu redor.
Minha cabeça parece estar em chamas, uma intensidade infernal que consome cada pensamento, cada memória, cada traço de sanidade que ainda resta. Eu rolo no chão, encolhida em uma posição fetal, minhas mãos pressionadas com força contra minha cabeça em uma tentativa desesperada de conter a dor que ameaça me consumir por inteiro.
Mas mesmo enquanto me debato em agonia, uma vozinha sussurra em minha mente, uma pequena chama de esperança que se recusa a se apagar completamente. Será que eu mereço mesmo viver depois de tudo que supostamente fiz? Será que há redenção para alguém como eu? Quem são aquelas pessoas que aparecem nas memórias? Amigos? Se eles não têm medo de mim, então porquê não me vêm tirar desse inferno branco?
Essas perguntas ecoam em minha mente, sem respostas, sem consolo. E no meio da escuridão que me envolve, não consigo me agarrar a nada, fico com o sentimento de que a cada segundo que se esgota, a luz se extingue no fim do túnel.
Esse ciclo repetitivo de dor é insuportável, espero que a contagem termine o mais rápido possível e que eu morra para acabar com essa dor.
Em um ato de puro desespero e dor, levanto-me do chão me apoiando na minha coragem inexistente, pouca força de vontade e no meu grande desejo de morrer. Caminho até a porta do banheiro que está aberta, entro e olho para o espelho.
Por favor, que alguém coloque um fim nisso.
Eu imploro, por favor, tirem esse peso chamado vida das minhas costas.
Eu quero morrer.
Fecho os dedos formando um punho e reúno todo o meu medo, minha dor e confusão no soco que desfiro ao espelho. Ele estilhaça-se em incontáveis pedaços irregulares. Seguro o maior caco do vidro que encontro, mirro-me nele por alguns segundos antes de o encostar contra a minha pele. Esperando uma sensação de alívio, deslizo o pedaço de espelho por toda a extensão do meu braço, desde o pulso ao cotovelo. Repito o corte no outro braço.
Fecho os olhos e contemplo a sensação de uma dor substituindo a outra. Porém algo acontece. Pouco a pouco sinto a dor física desaparecer e a dor mental aumentar. Abro os olhos e vejo que os grandes cortes que eu tinha nos braços desapareceram. Fico horrorizada. Será que estou enlouquecendo.
Inconscientemente, vou dando passos para trás. O chão está coberto de sangue, do meu sangue. Em um acesso de raiva e medo, começo a cortar repetidamente os meus braços, minha barriga e o meu pescoço, mas como na vez anterior, a sensação de dor é somente temporária. De tanto ir para trás, acabo chegando no cómodo de paredes acolchoadas. Sujos o tapete de sangue, as paredes, as minhas roupas. Em pouco tempo a sala que antes doía aos olhos de tão branco se transforma em um cenário de filme de terror. Sangue por toda a parte.
Desequilibro e caio. Fico no chão, completamente derrotada. Nem para morrer eu sirvo.
Deito no chão, olhando para o teto que é o único lugar que permaneceu branco. Lágrimas embaçam a minha visão, antes de escorrerem pela minha têmpora e molharem o meu cabelo. Quero ir para casa, mas. . . eu nem sei se tenho uma.
Viro a cabeça para o lado, olho para a contagem regressiva que marca 120 horas e 45 minutos, antes da minha consciência se desvanecer por completo.
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160 horas para o fim...
FantascienzaEla desperta em uma sala branca, estéril, com uma dor latejante na cabeça e um enorme ecrã à sua frente exibindo uma contagem regressiva: 160 horas. Sem memória dos eventos que a levaram até ali, ela está perdida e assustada. A confusão se aprofunda...